O presidente da Uefa, Michel Platini, deu entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, em Zurique. O dirigente revelou uma conversa com Joseph Blatter, mandatário da Fifa, hora após a prisão dos sete dirigentes ligados à entidade máxima do futebol. O papo com o suíço não foi nada amistoso e teve até um apelo do francês.
- Fui
ver o presidente da Fifa, houve uma reunião, logo antes da reunião da
Uefa. E o presidente da Fifa falava de rumores, de que algumas
considerações não iriam ao congresso, tentando nos convencer de que a
Fifa precisava ser forte. Eu tive a palavra primeiro e queríamos ter
certeza de fazer o discurso mais duro possível. Disse a ele: "estou
pedindo para que deixe a Fifa". A nossa imagem não pode continuar assim.
Tinha de dizer cara a cara - contou.
Platini disse ainda que após a reunião teve um encontro no escritório de Blatter e reforçou o pedido ao dirigente.
- Discutimos no
escritório dele e reforcei a ideia de que ele deveria sair, renunciar,
que deveria ter a estatura de reconhecer a situação. Ele disse que não
poderia fazer isso agora, antes do congresso. Eu disse que é uma pena,
que seria muito bonito ele enxergar essa situação. Avisei a ele que a
Uefa estaria unida em torno de príncipe Ali. O futebol está acima de
Blatter, Pelé, o jogo é o mais importante. Não é fácil dizer a um amigo
que deve sair, mas é assim que a história está dizendo - afirmou Platini.
Blatter vai concorrer no pleito desta sexta-feira contra o príncipe jordaniano Ali Bin Al Hussein, 40 anos mais jovem do que o suíço. E a Uefa marcou posição.
- Estou muito preocupado. Agora basta, acabou. Temos que preservar o
futebol e não podemos concordar com as ações ocorridas. A Justiça vai julgar da
maneira correta. Porque estou dizendo que tivemos uma boa
discussão? É porque amanhã, quando vier a eleição, a grande maioria
votará pelo príncipe Ali. As pessoas tiveram demais. As pessoas não o
querem mais. E eu também não quero. A Fifa não é mais forte. Então a
grande maioria das associações da Europa vão votar pelo príncipe Ali.
Estou tentando convencer um ou dois que não estão tão convictos.
Platini comentou também que, caso Blatter vença, após a decisão da Champions, em Berlim, haverá uma reunião para reavaliar as relações da Uefa com a Fifa.
- Acho que se o senhor Blatter ganhar, em Berlim, vamos discutir o futuro das nossas relações com a Fifa. Haverá uma reunião, mas espero que ele não ganhe.
Platini seguiu contando sobre a conversa que teve com Blatter.
- Ele foi afetado pelo que eu disse, porque eu
falei como um amigo. Estava lá em 98, quando ele me queria como
presidente, e eu disse que não sabia nada sobre a Fifa. Temos uma
história. Eu disse: "Sepp, você tem de sair. Somos amigos. Seremos
amigos depois". Ele disse que é tarde demais, porque o congresso será
amanhã. Sei qual é a sua estratégia, trazer seus aliados para tentar
convencer os outros a votarem nele. A democracia vai determinar. Mas
acho que ele já perdeu, a Fifa já perdeu.
O dirigente francês falou também que não está arrependido por não estar concorrendo ao pleito da Fifa. Platini afirmou que jamais lutaria contra um amigo.
- Eu não me arrependo por não estar concorrendo.
Sempre me comprometi a ser uma pessoa que não lutaria contra um amigo.
Eu acho que o futebol está na Europa e eu sou um homem do futebol. Se
algum dia o Blatter não estiver concorrendo, vou decidir. Sepp fez
algumas coisas ótimas, e outras menos brilhantes.
Platini ainda explicou os motivos que o levaram a fazer o pedido a Blatter.
- Porque
é um amigo com problema. Sou um amigo mais jovem, mas sou um amigo. É o
meu dever lhe dizer isso, do contrário ninguém mais diria. A
Fifa é a casa do futebol, onde todas as regras são feitas, mas como
você quer que os fãs, os jogadores, respeitem os estatutos, se as
pessoas que os escreveram não são respeitáveis?