O único tropeço aconteceu na hora que não podia. Passados dois meses da derrota para os Estados Unidos, na semifinal do Mundial da Itália, o técnico José Roberto Guimarães ainda não conseguiu ter um sono tranquilo. Relembra aquele momento amargo, que tirou da seleção a chance de conquistar o título que falta para sua galeria, e acabou por confirmar o que vinha prevendo desde 2012: o time americano está credenciado para ficar com uma vaga na final dos Jogos Olímpicos Rio. Apesar do revés, o treinador considerou 2014 como um bom ano dentro de quadra. Fora dela, lamenta o momento turbulento pelo qual passa o vôlei, marcado pelas denúncias de irregularidades contra a antiga gestão da CBV, que implicaram na suspensão do patrocínio do Banco do Brasil.
Evita opinar sobre a rixa entre a Confederação e a Federação Internacional (FIVB), tendo como consequência a renúncia às finais da Liga Mundial. O treinador acredita que o momento ruim irá passar e que a modalidade seguirá trabalhando para corresponder às expectativas de disputar as Olimpíadas em casa. Já a partir de janeiro, ele passará mais tempo fora do país, acompanhando competições na Turquia, Rússia, Itália e Japão. O intuito é se reciclar e acompanhar os adversários mais de perto. Quer observar também as brasileiras que atuam no exterior.
Está de olho em sua quarta medalha de ouro nos Jogos, que poderá ser a terceira consecutiva da equipe. Está ciente do tamanho da pressão que o grupo começará a sofrer com a proximidade do evento. E acredita que estão prontos para passar por ela.
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Acho que 2014 foi razoavelmente bom. Não foi como 2013, onde ganhamos as
cinco competições. Mas a gente foi deca do Grand Prix e fomos
terceiros no Mundial, perdendo um jogo. O mais importante foi a
preparação, foi ter podido jogar contra as melhores seleções do mundo,
dar continuidade à preparação para 2016, que é nosso grande alvo. Acho que vamos ter um
2015 bastante movimentado e espero que a gente consiga um número maior de
jogadoras, até porque vamos ter duas frentes, com o Pan e o Grand
Prix mais ou menos acontecendo na mesma data. Houve uma mudança no calendário, então, a gente precisa reestruturar o planejamento. Dá para fazer
duas seleções. Vamos decidir o que é melhor, mas acho que a expectativa para a temporada é boa. O mais importante é que a cabeça está nas
Olimpíadas.
Confira o restante da entrevista:
Mundial da Itália
- Até hoje não consigo dormir direito, mas a gente tem que aprender com
isso. As derrotas muitas vezes te trazem muitos problemas, mas muitas
vezes, se souber trabalhar com ela, te traz soluções. Hoje tenho que EUA é
o melhor time de vôlei do mundo, haja vista o que aconteceu, e as
opções que o time tem. Eles têm quatro, cinco jogadoras para cada
posição. E são jogadoras de bom nível, que estão jogando pelo mundo inteiro.
Assim como eu tinha detectado, será uma equipe finalista em 2016.
Então, temos que trabalhar com essa informação.
Preparação para 2016
- A preparação olímpica está a contento até o momento. Acho que vamos encontrar muita pressão, vai ser
muito difícil. Temos adversários com o gabarito muito grande. Acho que
o time dos EUA vai ser um dos finalistas, e os outros vão brigar pela
outra vaga. Espero que a gente consiga fazer um bom trabalho até lá e
subir ao pódio. É o nosso sonho conseguir isso. Nós fizemos pedido de jogos em casa no ano que vem, por conta das Olimpíadas. Só que o Japão acabou
ganhando a sede da Copa do Mundo e os EUA ganharam a das finais do Grand Prix. Nós vamos fazer uma
etapa do Grand Prix, na segunda semana, ainda sem local definido, e também alguns amistosos aqui.
De olho nas adversárias
- A
partir de janeiro vou começar a sair para a Turquia, Rússia e Itália, e também estou pensando no Japão.
Esses países concentram o maior número de jogadoras que defendem melhores seleções do mundo.
Quero ver se vou também às finais da Champions League para ver o Azerbaijão.
Quero acompanhar as jogadoras brasileiras que estão fora, como Sheilla, Fabíola, Fernanda Garay, e outras. A
seleção está sempre aberta para todas as jogadoras, só basta jogar bem.
Ainda mais no próximo ano, que vamos ter duas seleções: uma para o Pan e outra
para o Grand Prix.
Pressão pelo terceiro ouro olímpico
- A pressão já começa em casa (com a projeção do COB).
Nós também temos essa pressão interior. Ela é interna e externa.
A expectativa é muito grande e sabemos das dificuldades que vamos
encontrar. Queremos muito, mas um passo de cada vez. Sabemos que há
times com grande potencial para a medalha de ouro, mas vamos trabalhar
para que alguma coisa neste sentido aconteça. No Brasil, existe a cultura
de que segundo e último é a mesma coisa, e essa é sempre uma briga minha.
Porque quando a gente fala que foi segundo, terceiro, quinto do mundo,
quer dizer muita coisa. Mas acho que isso vai mudar ao longo
dos anos. A gente sabe que a expectativa com relação o vôlei é muito grande e sempre
falo: "Devagar com o andor" (risos).
Denúncias e protestos dos jogadores
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Toda forma de manifestação é democrática e isso tem que ser feito. Cada um deve manifestar da forma que melhor lhe
convier. O
que vejo pelo lado da CBV, e as pessoas que tenho conversado, é que as
medidas estão sendo tomadas, as portas para receber os atletas estão
abertas. Então, não vejo problemas futuros. Acho que o Banco do Brasil
vai continuar como patrocinador oficial das seleções. É uma turbulência
pela qual a gente está passando. Se houve irregularidades, os culpados
vão ser punidos. O que não pode é se ficar especulando muito. Acho que tem
porta-vozes na CBV que estão se expressando neste sentido. Vi uma
declaração do Neuri Barbieri (superintendente geral), que ele expôs o que está sendo feito, e agora é
aguardar os fatos para as coisas continuarem caminhando. Logicamente se
houver culpados, que eles sejam punidos. A
gente fica numa situação muito delicada, mas são turbulências que estão
acontecendo, e a transparência tem que continuar existindo. É um
orgão que trabalha com dinheiro público e tem que ser transparente com
relação a tudo. Mas as providências estão sendo tomadas.
FIVB x CBV
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Não posso falar de entrevero entre eles, porque eu sou do feminino e não estou ligado ao masculino que optou por não sediar a Liga Mundial. O mais adequado é falar com as pessoas que administram este lado. Eu administro o feminino, as jogadoras, mas não tenho relação com a área administrativa. Posso dizer pelo meu lado, não posso responder pelo Bernardo, nosso Mundial
decorreu da melhor maneira possível. Tivemos problema de arbitragem, num jogo.