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Em Nápoles, Papa pede que mafiosos abandonem o crime

‘Um cristão que deixa a corrupção entrar em sua vida fede como um animal morto’, afirmou pontífice ao criticar ‘renda desonesta’ da máfia
Papa Francisco é recebido por multidão na Praça do Plebiscito em Nápoles. Visita do pontífice à cidade inclui discurso contra o crime e a corrupção Foto: MARIO LAPORTA / AFP
Papa Francisco é recebido por multidão na Praça do Plebiscito em Nápoles. Visita do pontífice à cidade inclui discurso contra o crime e a corrupção Foto: MARIO LAPORTA / AFP

NÁPOLES, Itália — Em visita ao empobrecido Sul da Itália, o Papa Francisco falou com moradores de Scampia, um bairro degradado dominada por mafiosos da Camorra, e lamentou o cenário de desemprego crônico na região. Em discurso na Praça do Plebiscito, o pontífice pediu aos napolitanos que resistam à exploração por parte dos chefões da máfia e busquem a dignidade do trabalho honesto.

Em lugares como Scampia, mais da metade dos jovens está desempregada. Muitos acabam trabalhando para a máfia napolitana como transportadores de drogas ou responsáveis por extorsões, cobrando o chamado “dinheiro de proteção” dos comerciantes locais.

Na praça principal de Nápoles, o pontífice pediu a dezenas de milhares de pessoas que mantenham as esperanças e resistam aos “ganhos fáceis e renda desonesta” do tráfico de drogas. Francisco pediu aos mafiosos e seus cúmplices que abandonem o caminho do crime.

— É sempre possível voltar a uma vida honesta. Quem pede isso são mães que choram nas igrejas de Nápoles — disse o Papa diante de cem mil fiéis na Praça do Plebiscito, advertindo que “todos têm a oportunidade de serem corruptos e caírem na delinquência”. — Como um animal morto, a corrupção fede. A sociedade corrupta fede, e um cristão que deixa a corrupção entrar em sua vida também fede.

O Papa apoiou fortemente o apelo da filipina Corazon Dag-Usen, que pediu que os imigrantes vindos da África e da Ásia sejam “reconhecidos”, e pediu abrigo para os muitos desabrigados da região.

— Eles são cidadãos, não são cidadãos de segunda classe! Nós também somos todos migrantes, filhos de Deus, no caminho da vida! Ninguém tem um lar permanente nesta terra — exclamou Francisco.

O Papa considerou ainda que o trabalho clandestino, generalizado na economia paralela napolitana, era uma forma de “escravidão”, e citou o testemunho de uma jovem que havia recebido uma proposta de 11 horas de trabalho por dia, por 600 euros por mês.

Neste quadro sombrio, em meio a aplausos estrondosos, o Papa exaltou a vitalidade da cultura napolitana.

— A vida em Nápoles nunca foi fácil, mas nunca foi triste — afirmou o pontífice. — Seu maior recurso é a alegria.