Esportes Vasco

Vasco vence o Botafogo de novo e é campeão carioca

Com gols de Rafael Silva e Gilberto, time comandado por Doriva encerra jejum de 12 anos sem títulos estaduais
Rafael Silva comemora após abrir o placar no jogo entre Vasco e Botafogo no Maracanã Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Rafael Silva comemora após abrir o placar no jogo entre Vasco e Botafogo no Maracanã Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

Quem ousará dizer que não foi marcante, inesquecível mesmo para a massacrante maioria dos 66 mil presentes no Maracanã? Porque jogos de futebol, por vezes, podem prescindir de virtudes técnicas para que cumpram um papel. E quantas reflexões, quantas lições nos deixou a tarde deste domingo, no Maracanã. A começar pela conquista do Vasco, que foi além de vencer o Botafogo por 2 a 1, foi além de simplesmente ganhar uma taça. Na sua tarde de reencontro com o título estadual após 12 anos, a torcida deu a todos a exata dimensão do tamanho do clube, da força de sua gente.

- Estou muito feliz de estar aqui. E quero ganhar ainda mais - vibrou Gilberto.

- É uma emoção grande e inexplicável. Vim para o Vasco e consegui meu espaço e fui muito bem recebido. Mas esse é só o começo de uma história - comemorou o volante Serginho.

Não houve exatamente uma demonstração de poderio em campo. Mas disso falaremos adiante. Foi como se o campo refletisse, através de uma vantagem pequena, a vitória gigantesca na arquibancada. Eram 20 minutos do segundo tempo quando, com celulares, os torcedores produziram um espetáculo de luzes. Em seguida, numa coreografia enquanto cantavam que “o sentimento não para”, braços se moviam juntos. Era a prova: Sul, Leste e Oeste do Maracanã eram Vasco. Ao menos três quartos do maior público do futebol brasileiro em 2015. Por alguns anos, a crise técnica ou talvez o fato de mandar jogos em São Januário, que por um destes efeitos colaterais dos tempos modernos teve sua capacidade restringida, muitos se esqueceram do tamanho deste clube. Ocasiões como a de ontem, com um Maracanã tomado de assalto — como acontecera no fim do ano passado, na volta à elite —, nos ajudam a colocar as coisas nos devidos lugares. O Vasco reencontrou a taça num cenário típico de um clube de massa. Um Maracanã em que, embora menor, a torcida do Botafogo não fez feio. Se os vascaínos entraram em campo com um mosaico, os alvinegros também.

Quem se ocupar de editar os melhores momentos da decisão do Rio poderia selecionar os três gols do jogo e, no mais, exibir a torcida do Vasco. Ela produziu os melhores momentos. Movida pela ansiedade por um grito de campeão com significado muito mais amplo do outras celebrações de título que os vascaínos já viveram. O grito de gol após o chute de Gilberto, no minuto final, foi um grito de libertação. O Vasco não vencia o Estadual desde 2003, mas não está na fila desde então. Ganhou a Copa do Brasil em 2011. Mas sua torcida se machucou demais. Foi novamente à Série B, perdeu decisões, a última delas no minuto final com um gol impedido. A torcida entendeu que o clube, talvez mais do que qualquer outro, precisava deste título. Ganhou quem mais quis e mais necessitava.

A comemoração de Rafael Silva com o primeiro gol do Vasco no Maracanã Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo
A comemoração de Rafael Silva com o primeiro gol do Vasco no Maracanã Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo

Há outras lições que a tarde de domingo ofereceu. Como dizer que tem que acabar um campeonato que leva ao estádio 66 mil pessoas? Não eram 66 mil pessoas com qualquer atitude. Era gente tensa, nervosa, envolvida com o jogo. Rivalidade é coisa séria. E os Estaduais são pilar fundamental da formação do futebol brasileiro. Sua existência é um patrimônio nacional, não anomalia. São um produto a ser cuidado. Certamente, revisto e redimensionado. Sem dúvida, muito melhor tratado do que foi neste 2015.

Por fim, a lição do campo. Daqui a alguns anos, provavelmente a final do Estadual de 2015 seja lembrada mais pelo espetáculo da arquibancada do que por ter sido “o jogo do gol de Rafael Silva", “o jogo do gol de Gilberto" ou por alguma atuação individual. Houve muita intensidade, dramaticidade. Mas foi pobre de técnica. Não havia um fora de série que mudasse o curso do jogo com um belo lance.

René Simões tentou com Luís Ricardo pela direita, contendo os laterais do Vasco. Funcionou por dez minutos. Na melhor chance, Luís Ricardo tocou e Bill perdeu. Passada a surpresa inicial, o Vasco controlou o rival. Guiñazu, Serginho e Julio dos Santos ganharam o meio-campo. Mas as trocas de passe eram raras, as construções de jogadas também. A opção predominante era a bola longa. Não havia chances de gol.

O gol libertador

A sensação de que um desarme era mais capaz de conduzir ao gol do que um passe se confirmou aos 45. Marcelo Mattos perdeu para Gilberto e Guiñazu achou Rafael Silva. Reserva em parte do Estadual, ele se candidatava a herói.

Mas quebrar um jejum de 12 anos tem um preço: sofrer. O Botafogo do segundo tempo tinha Diego Jardel e Sassá. O lateral Gilberto trocava o lado do campo para virar meia. O Botafogo não sufocava um Vasco sólido na defesa, a principal característica do campeão. Mas conseguiu o empate com Diego Jardel, aos 29.

Fato é que o Botafogo fora ao seu limite, algo habitual neste time obstinado. Aliás, um motivo para sua torcida se orgulhar. Ainda teve Fernandes expulso. Mas o jogo fazia a torcida do Vasco reencontrar seus fantasmas. O medo de nova decepção, de outro gol fatal no fim. Até o time parecia sentir. Mesmo com um a mais e um rival cansado, o Vasco não matava o jogo. Mas houve tempo para a justa apoteose da torcida. Aos 48, quando Gilberto ficou diante de Renan, o tempo decorrido entre o domínio e o chute pareceu uma eternidade para os vascaínos. Até o arremate certeiro, libertador. Vasco campeão.

BOTAFOGO 1 x 2 VASCO

Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)

Árbitro: Wagner do Nascimento Magalhães (RJ)

Auxiliares: Rodrigo Figueiredo Henrique Corrêa (RJ) e Dibert Pedrosa Moises (RJ)

Renda e público: R$ 3.286.580,00 e 58.446 pagantes

Cartões amarelos: Willian Arão, Gilberto, Marcelo Mattos, Fernandes, Renan Fonseca, Diego Giaretta e Diego Jardel (BOT); Serginho, Julio dos Santos, Christianno, Dagoberto e Rodrigo (VAS)

Cartão vermelho: Fernandes (39'/2°T)

Gols: Rafael Silva 44'/1°T (0-1), Diego Jardel 29'/2°T (1-1) e Gilberto 48'/2°T (1-2)

BOTAFOGO: Renan, Gilberto, Renan Fonseca, Diego Giaretta e Carleto; Marcelo Mattos e Willian Arão (Fernandes 28'/1°T); Luis Ricardo (Sassá 15'/2°T), Tomas (Diego Jardel/Intervalo) e Rodrigo Pimpão; Bill. TÉC: René Simões.

VASCO: Martin Silva, Madson, Luan, Rodrigo e Christianno; Serginho e Guiñazú; Julio dos Santos (Lucas Goms 40'/2°T), Rafael Silva (Marcinho 26'/2°T) e Dagoberto (Bernardo 22'/2°T); Gilberto. TÉC: Doriva.