Política

Pimentel admite que não pagou viagem a resort com a mulher

Governador critica o inquérito da PF, que chamou de ‘midiático e pirotécnico’

Um dia depois de operação da PF, Fernando Pimentel recebe medalha da Defensoria Pública em BH
Foto: Manoel Marques/Imprensa MG/Divul
Um dia depois de operação da PF, Fernando Pimentel recebe medalha da Defensoria Pública em BH Foto: Manoel Marques/Imprensa MG/Divul

BRASÍLIA - A defesa do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, reconheceu nesta sexta-feira que não foi mesmo ele quem pagou as despesas do um fim de semana que desfrutou em um resort de luxo na Bahia com a mulher, Carolina Oliveira. De acordo com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, a namorada do empresário Benedito Oliveira, conhecido como Bené, tinha um crédito no hotel e deu a viagem de presente a Carolina. Desse modo, o governador busca se isentar da suspeita de corrupção levantada pela Polícia Federal em relatório enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para basear a segunda fase da Operação Acrônimo. Na versão da defesa, a primeira-dama mineira também não teria cometido qualquer ilegalidade porque não era mais funcionária pública na ocasião.

No relatório, a PF incluiu a viagem como um indício de recebimento de “vantagem indevida” por Pimentel. Em novembro de 2013, quando era ministro de Desenvolvimento, ele passou dois dias com a mulher no resort de luxo Kiaroa em Maraú, no litoral baiano. A estadia custou R$ 12,1 mil e os registros mostram que teria cabido a Pedro Augusto de Medeiros, um preposto de Bené, fazer o pagamento. Os investigadores afirmam ainda que o empresário pagou o deslocamento aéreo de Carolina e Pimentel.

Pimentel era ministro do governo Dilma e não poderia receber presente superior a R$ 100, segundo prevê um código de conduta. Kakay argumenta que a viagem foi acertada entre Juliana Sabino de Souza, a namorada de Bené, e Carolina, num acordo sem qualquer vínculo com o setor público. A PF relata que Bené e a namorada já tinham se hospedado no resort em junho de 2012 e que foi a BR Distribuidora quem pagou R$ 15,7 mil pela hospedagem naquela ocasião. Procurada pelo GLOBO, a subsidiária da Petrobras pediu mais tempo para apurar a veracidade da informação.

Kakay afirma ainda que Carolina não recebeu dinheiro dos grupos Mafrig Global Foods e Casino, como acusa a Polícia Federal. Ela teria recebido apenas R$ 18 mil para fazer um portal na internet para o Instituto Marfrig. Relatório da PF levanta a suspeita de que Carolina tenha recebido R$ 595 mil do Marfrig e R$ 362,8 mil do Casino. A polícia diz que as empresas tinham interesses no BNDES e sugere que os repassses poderiam ter, como destinatário final, o governador.

— Carolina não recebeu dinheiro da Mafrig, não prestou serviços ao Casino. É uma acusação absurda, irresponsável — disse Kakay.

As investigações começaram com a apreensão, em outubro do ano passado, de R$ 116 mil em espécie em um avião com três passageiros, todos ligados a Pimentel, no Aeroporto de Brasília. Bené estava no avião e, na primeira fase da operação, no mês passado, foi preso pela PF acusado de integrar uma organização criminosa com a utilização de empresas de fachada. Após analisar a documentação apreendida nessa fase, a PF remeteu ao STJ pedido de investigação contra Pimentel por lavagem de dinheiro, corrupção e participação em organização criminosa.

Um dia depois da segunda etapa da operação, que cumpriu 19 mandados de busca e apreensão em três estados e no Distrito Federal, Pimentel recebeu nesta sexta-feira o Grande Colar da Defensoria Pública, em Belo Horizonte. Ele aproveitou a cerimônia para criticar a investigação da PF:

— Sem dúvida nenhuma perde a Justiça, e perde muito, quando os inquéritos se transformam em espetáculos midiáticos, pirotécnicos, colocando no lixo as regras judiciais e até de sigilo judicial.

Além da viagem, a PF apontou outras três linhas de investigação que envolveriam Pimentel e sua esposa. Os investigadores suspeitam de caixa dois na campanha que levou à eleição dele a partir de ordens de serviço apreendidas na gráfica de Bené que a PF suspeita terem sido fraudadas. (Com G1)