Neste sábado, Dunga estará num banco de reservas e Ramón
Díaz em outro. Técnicos de Brasil e Paraguai que, como relatou o brasileiro há
uma semana, já trocaram confidências e tomaram vinho juntos há muito tempo. Certamente,
nem imaginavam que, anos depois, disputariam uma vaga para enfrentar a Argentina na
semifinal da Copa América.
Fortes elos ligam os comandantes. O sucesso de ambos como
jogadores na Europa passou pela Itália. O agente era o mesmo, Antonio Caliendo,
italiano, é claro. E os dois foram treinados por um dos homens de maior
prestígio no futebol da época: o sueco Sven-Goran Eriksson.
Dunga chegou à Fiorentina para a temporada 1988-89.
Justamente quando Díaz deixou o clube rumo à Internazionale. Eriksson havia
chegado em 87, quando o atacante argentino, hoje técnico do Paraguai, já fazia
parte do elenco. Ao planejar a temporada seguinte, entre os reforços que
solicitou à direção da Fiorentina, estava um certo brasileiro.
– Eu queria Dunga fortemente porque o vi jogar muitas vezes
pelo Pisa. Ele era forte. Quando enfrentou a Fiorentina, jogou como um meia
avançado, e como deu trabalho nossos quatro defensores. Impressionante –
relembrou Eriksson em entrevista ao GloboEsporte.com
A diretoria atendeu seu pedido e Dunga chegou com 24 anos.
Depois dos primeiros treinos na pré-temporada, o sueco desconfiou do sucesso do
jogador. Era tímido demais, calado demais. Mas bastaram as primeiras partidas
para que ele convencesse seu técnico: daria certo.
Mesmo introvertido fora de campo, Dunga, segundo Eriksson,
conquistou rapidamente um status de liderança dentro do grupo. Uma liderança
natural, imposta de maneira calma, ainda menos visível do que passaria a ser ao
longo dos anos 90 com a camisa da seleção brasileira.
– Ele não falava muito, era um pouco tímido, mas quando
entrou em campo se transformou. Falava muito e todos o seguiam. Era um líder
que nasceu para ser líder. Era natural.
Ramón Díaz, por outro lado, corria menos, era menos líder,
porém fazia mais gols. Era atacante. Foram 22 nas duas temporadas de
Fiorentina, o que não impediu que, em determinado momento, seu carro fosse
cercado por torcedores raivosos com uma vitória em 12 jogos. Eriksson, por sua
vez, dizem os jornais da época, jamais era contestado.
Díaz se transferiu para a Internazionale, mas os brindes com
Dunga se deram graças a Caliendo, um dos mais antigos empresários de jogadores
do mundo que uniu seus clientes fora de campo.
O técnico sueco consegue encontrar um ponto em comum entre
os adversários deste sábado: a inteligência para se posicionar quando estavam
no gramado.
– Dois jogadores muito inteligentes. Dunga tinha uma visão
de jogo privilegiada, bom posicionamento em campo, bom passe. Assim como
Falcão, que treinei no Roma anos antes, sabia ler muito bem o jogo. Ramon fazia
gols sempre. Sabia quando tinha que correr, mas quando não precisava, não
corria. Estava sempre no limite de ficar impedido, mas tinha inteligência para
correr na hora certa, entrar na área e gol, gol, gol. Os gols eram sua vida,
era muito difícil defender contra ele.
Em 2010, Dunga e Eriksson se enfrentaram na Copa do Mundo. O
sueco estava à frente da seleção de Costa do Marfim, derrotada pelo Brasil por
3 a 1. O mestre afirma que já esperava ver seu discípulo se transformar num
treinador conceituado, justamente pelas características de liderança e visão de
jogo que revelava como atleta.
Enquanto Ramón Díaz tenta retomar os melhores momentos de
sua carreira, e Dunga busca impulsioná-la no retorno à seleção brasileira, Eriksson
se distancia cada vez mais do futebol competitivo. Há dois anos, publicou uma
autobiografia em que se expõe totalmente. Fala de mulheres, como perdeu
dinheiro, sucessos e fracassos. Agora, lançou uma coleção de vinhos.
Técnico do Shanghai Dongya, clube chinês onde atua o
argentino Darío Conca, o sueco de 67 anos, prêmios e títulos aos montes no currículo, está longe dos tempos de glória que
teve, predominantemente no Benfica e no Lazio, mas não consegue abandonar o
futebol. E vê tudo. Viu até a entrevista de Neymar depois de ser suspenso por
quatro partidas e deixar a concentração brasileira no Chile.
– Ele será um dos melhores jogadores do mundo por muitos
anos. Eu vi sua entrevista na televisão. Ele pediu desculpas a todos e admitiu
sua falha. Basta. A vida continua – decretou o histórico Sven-Goran Eriksson,
que também não se furtou de apontar, entre seus pupilos, um favorito para
avançar à semifinal da Copa América.
– O Brasil é mais forte no papel. Então, Dunga.
FICHA TÉCNICA
BRASIL: Jefferson, Daniel Alves, Thiago Silva, Miranda e
Filipe Luís; Fernandinho, Elias, Philippe Coutinho e Willian; Robinho e Roberto
Firmino. Técnico: Dunga
PARAGUAI: Villar, Valdez, Paulo da Silva, Aguilar e Píris; Aranda, Victor Cáceres, González e Benítez; Haedo Valdez e Santa Cruz. Técnico: Ramón Díaz
Data: 27/06/2015 Horário: 18h30 (de Brasília)
Local: Estádio Ester Roa, em Concepción (Chile) Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Auxiliares: Mauricio Espinosa e Carlos Pastorino (URU) Transmissão: a TV Globo,
o Sportv e o GloboEsporte.com transmitem a partida ao vivo