Política

Dilma diz que execução de brasileiro ‘afeta gravemente’ as relações entre Brasil e Indonésia

‘Indignada’, presidente chamou o embaixador do Brasil na Indonésia para consultas
Presidente Dilma Rousseff Foto: André Coelho / Agência O Globo
Presidente Dilma Rousseff Foto: André Coelho / Agência O Globo

BRASÍLIA — Após receber a notícia da execução do brasileiro Marco Archer, a presidente Dilma Rousseff decidiu chamar o embaixador do Brasil na Indonésia, Paulo Alberto da Silveira Soares, para consultas. O gesto significa um movimento diplomático do governo brasileiro de descontentamento com a medida tomada por aquele país. Em nota, a Presidência afirma que Dilma ficou “consternada e indignada” com a confirmação da morte do brasileiro.

Foi reiterado o conhecimento da gravidade do crime cometido por Archer, de tráfico de drogas, mas a presidente afirmou que a decisão da Indonésia “afeta gravemente as relações entre nossos países”. Além disso, o Itamaraty chamou na tarde deste sábado o embaixador da Indonésia. Na reunião, foi entregue uma nota de protesto do governo brasileiro.

Veja a íntegra da nota do Planalto:

“A Presidenta Dilma Rousseff tomou conhecimento – consternada e indignada – da execução do brasileiro Marco Archer ocorrida hoje às 15:31 horário de Brasília na Indonésia.

Sem desconhecer a gravidade dos crimes que levaram à condenação de Archer e respeitando a soberania e o sistema jurídico indonésio, a Presidenta dirigiu pessoalmente, na sexta-feira última, apelo humanitário ao seu homólogo Joko Widodo, para que fosse concedida clemência ao réu, como prevê a legislação daquele país.

A Presidenta Dilma lamenta profundamente que esse derradeiro pedido, que se seguiu a tantos outros feitos nos últimos anos, não tenha encontrado acolhida por parte do Chefe de Estado da Indonésia, tanto no contato telefônico como na carta enviada, posteriormente, por Widodo.

O recurso à pena de morte, que a sociedade mundial crescentemente condena, afeta gravemente as relações entre nossos países.

Nesta hora, a Presidenta Dilma dirige uma palavra de pesar e conforto à família enlutada.

O Embaixador do Brasil em Jacarta está sendo chamado a Brasília para consultas.”

IDELI: EXECUÇÃO É POLÍTICA

Já a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, considerou "política" a execução do instrutor de voo Marco Archer. Ideli acompanhou ontem o telefonema entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Indonésia, Joko Widodo, ocasião em que o pedido de clemência para que o brasileiro não fosse executado acabou ignorado. Já naquele telefonema, conforme Ideli, Dilma deixou transparecer a possibilidade de retaliação caso se confirmasse a execução, o que ocorreu na tarde deste sábado, pelo horário de Brasília.

Ainda segundo a ministra de Direitos Humanos, em entrevista ao GLOBO no fim da tarde deste sábado, Dilma aguardava apenas o retorno ao Brasil do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, que estava nos Estados Unidos, para detalhar as medidas da retaliação. Vieira já está no Brasil.

– Ele estava condenado à morte esse tempo todo, mas o presidente anterior da Indonésia deixou isso quieto. A decisão da execução (na gestão do atual presidente), de não acatar o pedido de clemência, foi também uma decisão política. Essa questão (do rigoroso combate ao tráfico de drogas) foi levada para a campanha dele. O brasileiro já estava condenado há muito tempo – afirmou Ideli.

A ministra considerou "inadmissível" a existência de pena de morte em determinados países:

– É absurda por não permitir nenhuma possibilidade de arrependimento e reintegração. A presidente deixou claro no telefonema que o Brasil não tem pena de morte e que isso era incompreensível aos brasileiros. Ela fez apelo como mãe e deu a entender na conversa que as relações entre os dois países não ficará igual depois desse episódio.

Ideli revelou que o outro brasileiro na fila das execuções na Indonésia por tráfico de drogas, Rodrigo Goulart, vem apresentando um "quadro psíquico muito grave" e, em razão disso, a Embaixada do Brasil na Indonésia tenta uma internação a ele, em vez da execução. Para isso, também haveria a necessidade de clemência por parte do presidente da Indonésia. As chances são remotas, segundo a ministra.

– As informações que chegaram até nós é de que o outro brasileiro está totalmente transtornado. Mas as possibilidades de clemência também são extremamente remotas – disse Ideli.

O sentimento após a execução de Marco Archer, conforme a ministra de Direitos Humanos, é de "choque" e "tristeza". Ela lembrou que o Brasil integra um grupo que discute na Organização das Nações Unidas (ONU) o fim da pena de morte.

– Esse episódio acirra o debate a respeito da pena de morte. Existe uma tristeza profunda – afirmou.

O secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, condenou o fuzilamento de Marco Archer Cardoso. Em sua conta no Twitter, ele disse que nada justifica a pena de morte e elogiou a atitude da presidente Dilma Rousseff, que fez um apelo ao governo indonésio para que o brasileiro não fosse executado. "Nada justifica a pena de morte e o fuzilamento do brasileiro na Indonésia. Foi acertado o apelo humanitário de Dilma", disse Abrão no Twitter.

Ele também retuitou outros três internautas que condenaram a execução. Uma delas, identificada como Louise Caroline, disse: "Tão triste quando a execução por pena de morte em pleno século XXI, são os defensores da medida com o discurso hipócrita de 'fez pq quis'." Outro internauta retuitado por Abrão, chamado Atila Roque, afirmou que Dilma "agiu bem convocando embaixador brasileiro na Indonésia p/ consultas, em sinal de desagrado c/ execução do brasileiro".