Cada pequeno passo é motivo de comemoração para Thaísa. Depois
de passar por sua primeira cirurgia na carreira, a central de 28 anos está
redescobrindo o prazer de coisas simples, como caminhar sem auxílio de ninguém.
Os joelhos, operados há pouco mais de duas semanas, ainda têm limitações, mas já
não a incomodam tanto quanto antes. A bicampeã olímpica de vôlei festeja estar
sem dor depois de cerca de quatro anos jogando à base de fortes anti-inflamatórios.
- Tive um período de muita dor. Teve noite que tomei dois
remédios muito fortes para dor. Agora estou nas nuvens, porque não estou
sentido dor. Ainda tenho limitação, ainda me sinto presa às vezes, não consigo
subir e descer escada normalmente. Estou reaprendendo a andar. O Fernandinho
(Fernandes, fisioterapeuta do Osasco) me falou: “Você vai ter de reaprender a
fazer um monte de coisa”. Estou feliz por já estar na fase sem dor, e está bem
legal a evolução da fisioterapia - disse Thaísa, nesta quinta-feira, durante a
apresentação do novo uniforme do seu time, o Osasco.
Em acordo com a comissão técnica da seleção brasileira, a bicampeã
olímpica pediu dispensa da equipe nacional para poder cuidar dos joelhos. A
decisão se mostrou acertada após a cirurgia. Segundo Thaísa, o médico Luiz
Eduardo Tírico encontrou uma situação pior do que a imaginada quando operou os
joelhos da jogadora. Os tendões da patela estavam quase com ruptura total, o
que poderia exigir uma cirurgia mais complicada e uma recuperação de cerca de
um ano, colocando em risco a participação da central nas Olimpíadas de 2016, no
Rio de Janeiro.
- O médico falou: “Se você tivesse ido para a seleção, não
tivesse parado agora, você teria rompido total.” O tendão direito estava preso
por muito pouco. Foi no momento certo. Foi um sucesso, está quase sem inchaço.
Na hora eu estava bem nervosa até o anestesista chegar. Deu aquele frio na
barriga, mas o médico passou muita tranquilidade. Disse que meu joelho vai
voltar a ser como era quando eu tinha 15 anos de idade. Isso me aclamou -
contou a bicampeã olímpica.
A rotina de Thaísa agora está toda focada no tratamento dos
joelhos. Ela faz duas sessões diárias de fisioterapia, totalizando cerca de
seis horas e incluindo alongamento, fortalecimento e musculação apenas dos membros
superiores. Até que os tendões cicatrizem, nada de treino em quadra, muito
menos de saltar, o que ela espera começar a fazer em setembro. A previsão é de
que a central comece a defender o Osasco quatro meses após a cirurgia, mas ela
ainda precisará de um tempo para readquirir ritmo de jogo. A ansiedade é grande
para retomar ao alto nível técnico, mas por ora a bicampeã olímpica se contenta
com os pequenos avanços dos primeiros dias de tratamento.
- Eu nunca tive nessa situação de estar limitada. Para tudo
eu precisava de ajuda no começo, para tomar banho, para calçar um tênis. Eu
sempre fui independente, desde os 14 anos eu moro sozinha, então é difícil
depender de alguém. Isso para mim foi o mais difícil, ficava meio frustrada: “Não
consigo nem colocar uma meia”. Agora está melhorando. Dá uma ansiedade, porque
quando chegamos a um certo nível técnico, ficamos preocupados: “Será que eu vou
voltar igual? Será que vai doer?” Eu me cobro demais. Quero sempre estar bem,
quero sempre merecer estar onde estou. É uma ansiedade natural de querer voltar
bem - disse Thaísa.
A bicampeã olímpica mantém contato com o técnico José
Roberto Guimarães e com algumas jogadoras da seleção brasileira. Ela se prepara
para agora assumir o papel de torcedora e acompanhar de longe o time
verde-amarelo, que estreia no Grand Prix nesta sexta-feira, às 8h (de
Brasília), contra o Japão, na Tailândia. Os jogos do fim de semana são ainda
mais cedo - pega a Sérvia às 4h do sábado e a equipe anfitriã da etapa às 6h do
domingo.
- Vou perder o sono. Agora vou saber como é a vida dos
nossos fãs, que falam que acordam de madrugada para nos assistir. Eles se
orgulham disso. Eu vou passar por esse lado fã agora e entender isso.