02/04/2015 13h58 - Atualizado em 02/04/2015 14h09

Professor que denuncia trotes na USP se diz atacado por combater violência

Em site, ex-aluno de Piracicaba questiona denúncias e cita 'autopromoção'.
Docente pesquisa abusos há 14 anos, falou à CPI e critica 'Manual do Bixo'.

Claudia AssencioDo G1 Piracicaba e Região

Professor Almeida Junior, da Esalq, pesquisa trotes nas universidades (Foto: Reprodução/EPTV)Professor Almeida Junior, da Esalq, pesquisa trotes nas universidades (Foto: Reprodução/EPTV)

“Sou atacado injustamente por combater a violência no campus", afirmou o professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba. Ele pesquisa a violação de direitos humanos nas universidades há 14 anos, falou sobre abusos à CPI dos Trotes, denunciou neste ano a existência do "Manual do Bixo" e disse ao G1 que passou a ser visto como alguém que "mancha a imagem da universidade".

“De repente o que mancha a imagem da universidade não é a violência praticada nela, mas o fato de você denunciar que existem abusos", declarou. Em uma publicação no site da Associação dos Ex-Alunos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Adealq), um engenheiro agrônomo formado em 1997 questiona a dimensão e até a existência dos abusos.

"Sobram-me razões para duvidar que o comportamento dos estudantes tenha atingindo o nível apresentado nas denúncias", diz um trecho. O texto com o título "Combate à Violência ou Autopromoção?" ainda afirma: "Almeida procura a evidência de violência nas repúblicas há pelo menos 15 anos e parece nunca ter achado algo de concreto". O autor da publicação pediu ao G1 para não ter o nome divulgado na matéria.

Defesa da violência
Para Almeida, reações como essa reforçam a presença de um grupo que defende a prática dos trotes, “que não é espontânea, mas incentivada”.  “Mas enquanto tiver aluno sendo humilhado, agredido e desrespeitado na universidade, essa luta tem que continuar”, afirmou.

Durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura a violência nas universidades paulistas, voltou à tona em janeiro deste ano o caso do suposto estupro sofrido por uma caloura da Esalq há cerca de 12 anos. O reitor da instituição, Marco Antonio Zago, afirmou que a investigação sobre o crime deveria ser retomada.

 Vídeos
Vídeos feitos em eventos realizados por repúblicas de Piracicaba mostram como são tratados os calouros da Esalq. Alguns destes estudantes dizem que os abusos ocorrem de forma gradativa e pioram com o passar do tempo (veja ao lado imagens de trotes).

"A coisa vai tomando uma proporção de chegar ao nível de você se negar a fazer alguma coisa e eles te obrigarem a fazer outra pior, como comer porcarias misturadas pra te fazer vomitar", conta uma aluna que preferiu não ser identificada.

Uma minoria
A Esalq tem cerca de 3 mil alunos matriculados e apenas 10% desses estudantes estão envolvidos nos trotes diretamente, segundo Almeida Junior. “Desse grupo de 300 alunos, podemos dizer que 40 agem violentamente e incentivam a prática”, afirmou. O professor é um dos autores do livro "Universidade Preconceitos & Trote".

Apesar de ser minoria, o pesquisador ressalta que as consequências dos atos de violência, moral, psíquica e, muitas vezes, física, são graves. “Os traumas podem ser devastadores. É uma vida acadêmica que pode ser interrompida, um sonho conquistado com esforço. Se vivemos uma democracia, não podemos deixar que a violação se sobreponha ao respeito.”

Diretoria da Esalq
O diretor da Esalq, Luiz Gustavo Nussio, também defende que apenas uma minoria de estudantes de repúblicas comete violações aos direitos humanos durante os trotes. "A maior parte das repúblicas representam um ambiente acolhedor, de integração, de crescimento do indivíduo como cidadão. Portanto, não está certo, e eu acho que é totalmente indevido, associar o nome de república a trote", afirmou Nussio à EPTV, afiliada TV Globo.

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