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Oposição venezuelana acusa governo de orquestrar morte de político

EUA, Unasul e OEA condenam assassinato em ato; Maduro critica acusações
Lilian Tintori e Henry Ramos Allup se abraçam após morte de dirigente opositor Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS
Lilian Tintori e Henry Ramos Allup se abraçam após morte de dirigente opositor Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

CARACAS — EUA, União Europeia e OEA condenaram nesta quinta-feira o assassinato de um político opositor venezuelano na quarta-feira durante um comício, a poucos dias das eleições parlamentares no país. O dirigente Luis Manuel Díaz foi atingido por tiros disparados de um carro em movimento enquanto participava de um ato de campanha na cidade Altagracia de Orituco, estado de Guárico, e não resistiu aos ferimentos. Na ocasião, ele estava junto a mulher do líder opositor Leopoldo López, Lilian Tintori, que também foi hostilizada no local e acusou o governo de orquestrar tentativas de matá-la.

O secretário-geral Luis Almagro disse que a morte de Díaz, do partido Ação Democrática (AD), é uma “ferida de morte à democracia”.

— O assassinato de um dirigente político é uma ferida mortal na democracia e uma sucessão de atos de violência política em um processo eleitoral é a morte da democracia. O que ocorreu não é um episódio isolado, mas parte de outros ataques realizados contra dirigentes políticos em uma estratégia que procura amedrontar os opositores — disse Almagro.

O secretário-geral da OEA disse ainda que não deve haver mais mortos e nem mais ameaças até as eleições.

— Na realidade o temor chega à sociedade inteira e estremece toda a comunidade internacional. Cada morto na Venezuela dói hoje em toda a América.

PAPEL DE PARTIDÁRIOS

Segundo o líder nacional da legenda AD, homens armados em um veículo dispararam contra Luis Díaz, chefe do partido em Altagracia de Orituco. Logo em seguida, ele informou sobre a morte nas redes sociais.

“Ele acaba de ser assassinado por arma de fogo”, disse Henry Ramos Allup no Twitter.


Partidários da oposição venezuelana participam em manifestações pela Dia do Estudante Universitário em Caracas, em 21 de novembro
Foto: FEDERICO PARRA / AFP
Partidários da oposição venezuelana participam em manifestações pela Dia do Estudante Universitário em Caracas, em 21 de novembro Foto: FEDERICO PARRA / AFP

Allup denunciou que partidários do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) estariam envolvidos no crime, mas não apresentou provas para reforçar as acusações. A coligação do governo ainda não fez comentários sobre o caso. Mas na quarta-feira, o presidente do Parlamento e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, chamou de “montagens” os ataques denunciados recentemente pela oposição.

— A nova moda é: grupos armados do chavismo atacaram não sei quem. Esta já conhecemos — disse Cabello em seu programa semanal de televisão, onde também repreendeu Macri por pedir a suspensão da Venezuela no Mercosul.

O governo venezuelano já reagiu contra as declarações de Allup: o chefe de campanha do Grande Polo Patriótico (coalizão que apoia Maduro), Jorge Rodríguez, abriu uma ação contra o opositor, dizendo que ele está difamando o governo com as falas.

CONDENAÇÃO E DEFESA

Mais cedo, a missão de observação eleitoral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), instalada na Venezuela desde a semana passada, lamentou em um comunicado a morte do opositor e expressou repúdio a todo tipo de violência que possa afetar o processo eleitoral. A organização também pediu uma investigação do caso, com o objetivo de evitar a impunidade.

Maduro se pronunciou sobre o crime, dizendo que ele se tratou de um "ajuste de conta de criminosos".

— Ontem à noite houve um incidente lamentável em Guárico. Transmito minhas condolências à família do falecido. As investigações começaram, o ministro do Interior já tem elementos que aponta para um ajuste de contas entre bandos criminosos rivais. Testemunhos e a investigação provam que a acusação temerária é falsa — ele disse, antes de chamar de "lixo" as declarações de Almagro.

Em um comunicado, o Departamento de Estado dos EUA mandaram uma mensagem clara à Venezuela por proteção ao processo político.

— Pedimos que o governo garanta a proteção de todos os candidatos e pedimos que o Conselho Nacional Eleitoral assegura o respeito o processo para todo o povo — disse o porta-voz John Kirby. — Campanhas de medo, violência e intimidação não cabem numa democracia.

Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López, participa de ato de campanha no estado de Guarico na quarta-feira Foto: FRANCISCO TRUCEIRO / AFP
Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López, participa de ato de campanha no estado de Guarico na quarta-feira Foto: FRANCISCO TRUCEIRO / AFP

TINTORI: 'QUEREM ME MATAR'

A mulher de López, em uma turnê nacional denunciando abusos contra os direitos civis e divulgando o caso de seu marido, deu mais detalhes sobre o “terror, o assédio e a violência”.

— Foi tudo planejado. O encarregado de disparar esperou a imprensa sair antes de fazê-lo. Minha vida se encontra em perigo. O tiroteio aconteceu muito perto de mim. Vou denunciar na Procuradoria-Geral, já que temos as provas.

Tintori afirmou ainda que o avião onde estava acabou pegando fogo porque os freios teriam sido removidos e ele acabou tendo que forçar impacto na fuselagem.

— Se fosse em outro aeroporto, todos a bordo teriam morrido. Não me resta dúvida de que isto foi planejado.

VIOLÊNCIA PERSISTE

Os venezuelanos comparecerão às urnas em 6 de dezembro para escolher os 167 deputados de uma Assembleia unicameral, controlada pelo chavismo há 16 anos. De acordo com várias pesquisas, a opositora MUD - da qual faz parte o partido Ação Democrática - lidera as intenções de voto com uma vantagem de 14 a 35 pontos, mas o presidente Nicolás Maduro afirma ter um “voto firme” de 40%.

“Exigimos una investigação imediata, profunda, profissional e independente”, disse a MUD em um comunicado.

A coligação já havia acusado o governo antes de estimular a violência na campanha. Durante o final de semana, um grupo da oposição foi atacado a tiros por homem encapuzados durante um evento de campanha em Caracas. Os dirigentes apontam que os criminosos seriam simpatizantes do governo. Ja são oito ataques em 12 dias.

Apoiadores de Maduro hostilizam Tintori em evento que acabou com político opositor morto Foto: FRANCISCO TRUCEIRO / AFP
Apoiadores de Maduro hostilizam Tintori em evento que acabou com político opositor morto Foto: FRANCISCO TRUCEIRO / AFP