26/05/2015 11h00 - Atualizado em 26/05/2015 12h38

Estudo propõe atacar o vírus ebola inibindo proteína do próprio corpo

Ainda não há droga eficaz para tratar doença que matou mais de 11 mil.
Cientistas descobriram que doença usa proteína do corpo para se instalar.

Mariana LenharoDo G1, em São Paulo

Imagem do vírus ebola observado em um microscópio eletrônico: pesquisa descobriu alvo inédito para tratar ebola  (Foto: Frederick Murphy/CDC via AP)Imagem do vírus ebola observado em um microscópio eletrônico: pesquisa descobriu alvo inédito para tratar ebola (Foto: Frederick Murphy/CDC via AP)
Infográfico sobre ebola, V6 (Foto: Infográfico/G1)

Pesquisadores descobriram um novo alvo para tratar o ebola. Esta é a primeira abordagem de tratamento que mira, não o vírus em si, mas uma proteína do próprio organismo do paciente. Chamada Niemann-Pick C1, ou NPC1, esta proteína é essencial para que o vírus ebola se instale nas células humanas e se replique.

Ainda não existe uma droga eficaz aprovada contra a doença. A maior epidemia já registrada, que teve início com a infecção de uma criança na Guiné em dezembro de 2013, já matou mais de 11 mil pessoas e infectou quase 27 mil.

A estratégia inédita baseia-se no seguinte mecanismo. Quando o vírus ebola penetra na célula do indivíduo, ele é envolvido por um tipo de uma bolha formada pela própria membrana da célula. Para se replicar, o vírus precisa sair dessa bolha e chegar até o citoplasma. O que os pesquisadores descobriram é que a proteína NPC1 é um componente essencial para que o vírus consiga se liberar dessa bolha e continuar seu ciclo de vida.

Para testar essa hipótese, o estudo expôs dois tipos de camundongos ao ebola: o primeiro grupo, do “tipo selvagem”, tinha a proteína NPC1. Já o segundo grupo não tinha o gene responsável pela produção da proteína.

O resultado foi que os camundongos com a proteína foram infectados, enquanto aqueles que não tinham a proteína ficaram livres da doença, já que o vírus não conseguiu se replicar.

O experimento foi desenvolvido por cientistas de duas instituições americanas – a Faculdade de Medicina Albert Einstein, da Universidade Yeshiva e o Instituto de Pesquisas Médicas em Doenças Infecciosas do Exército dos Estados Unidos (USAMRIID) – e os resultados foram publicados na revista “mBio” nesta terça-feira (26).

Esperança de novas drogas
A ideia é que futuras pesquisas possam levar a drogas que inibam temporariamente a proteína NPC1, impedindo desta forma a instalação do vírus. “Nosso estudo revela que a proteína NPC1 é o ‘calcanhar de Aquiles' da infecção pelo vírus ebola”, diz um dos autores do estudo, Kartik Chandran, professor de virologia e imunologia da Faculdade de Medicina Albert Einstein.

Segundo um dos autores do estudo, Andrew S. Herbert, pesquisador sênior do USAMRIID, hoje ainda não existem drogas aprovadas capazes de impedir a conexão dos vírus com a proteína NPC1. "Ainda estamos em fases muito iniciais de desenvolvimento, mas já desenvolvemos vários candidatos a fármacos com atividade antiviral potente em células e esperamos começar os estudos em camundongos ainda este ano", afirmou Herbert, por e-mail.

Ebola ainda não tem tratamento
Ainda não há remédios específicos para tratar o ebola. Existem algumas terapias experimentais, como a transfusão de sangue de pacientes que se curaram do ebola, e drogas em teste como ZMapp, TKM-Ebola, Brincidofovir e BCX4430. Mas nenhum desses métodos passou por todas as fases de pesquisa necessárias para aprovação.

 

Os pacientes recebem cuidados gerais para aliviar sintomas, como medicamento contra febre, hidratação e alimentação contínua.

Herbert oberva que a epidemia de ebola na África Ocidental impulsionou um esforço de pesquisa sem precedentes focado em encontrar novos tratamentos e medidas preventivas contra o ebola.

"Entidades ao redor do globo começaram a testar todos os candidatos a fármacos que poderiam conceitualmente funcionar contra o vírus ebola com o objetivo de providenciar rapidamente algo que podeira ajudar a retardar a epidemia", afirmou. "Muitos desses esforços continuam até hoje, apesar da diminuição de casos na África Ocidental, para que possamos estar mais bem preparados para a próxima epidemia de ebola."

Transmissão
O ebola é uma doença infecciosa grave provocada por um vírus. Os sintomas iniciais são febre de início repentino, fraqueza intensa, dores musculares, dor de cabeça e dor de garganta. Depois vêm vômitos, diarreia e sangramentos internos e externos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de mortalidade associada à doença é de, em média, 50%.

Ela é transmitida pelo contato direto com os fluidos corporais da pessoa infectada: sangue, suor, saliva, lágrimas, urina, fezes, vômito, muco e sêmen. Não há risco de contaminação pelo ar.

Epidemia pode durar até o fim do ano
A epidemia de ebola na África Ocidental pode continuar por pelo menos durante todo este ano se as condições não melhorarem de forma considerável, advertiu nesta terça-feira o principal responsável da OMS na luta contra o vírus, Bruce Aylward, de acordo com a  agência EFE.

"Ainda vai levar um tempo para concluir o trabalho", afirmou Aylward em entrevista coletiva, ao lembrar quanto custou à Libéria acabar com a transmissão da doença antes de ser declarado país livre de ebola em 9 de maio.

  Beatrice Yordoldo, última paciente com ebola a ser atendida na Libéria, tem alta da unidade de tratamento de ebola em Paynesville, subúrbio de Monróvia, capital do país  (Foto: Zoom Dosso/AFP) Beatrice Yordoldo, última paciente com ebola a ser atendida na Libéria, tem alta da unidade de tratamento de ebola em Paynesville, subúrbio de Monróvia, capital do país (Foto: Zoom Dosso/AFP)
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