04/09/2015 12h36 - Atualizado em 04/09/2015 19h52

Professor e escritor Joel Rufino dos Santos morre no Rio

Historiador era diretor do Tribunal de Justiça do Rio, que lamentou a morte.
Autor foi premiado por obras como 'Uma Estranha Aventura em Talalai'.

Do G1 Rio

O professor, escritor, jornalista e historiador Joel Rufino dos Santos morreu nesta sexta-feira (4), por complicações de uma cirurgia cardíaca realizada no dia 1º de setembro. Rufino era diretor-geral de comunicação e de difusão do conhecimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que lamentou o falecimento. Ele estava internado na Clínica de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul.

Rufino ganhou o Prêmio Jabuti em 1979 e em 2008 (com as obras "Uma Estranha Aventura em Talalai" e ""O Barbeiro e o judeu da prestação contra o Sargento da Motocicleta", respectivamente).

Joel nasceu em 1941, em Cascadura, no Subúrbio do Rio. Mudou-se para o bairro da Glória e cursou História na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, onde começou a dar aulas. Por conta do golpe militar de 1964, que implementou a ditadura, Joel deixou o Brasil. Morou na Bolívia e no Chile.

De volta ao Brasil, chegou a ser preso por conta da perseguição política. Como autor, venceu o Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil. Casado com Teresa Garbayo, ele deixa dois filhos e quatro netos. Ainda não há informações sobre o velório e funeral. Em 2008, Joel foi entrevistado para o blog Máquina de Escrever, de Luciano Trigo. Confira algumas das respostas.

G1: Você viveu exilado no Chile e na Bolívia após o golpe de 64. Conte alguns episódios e encontros que o marcaram, no exílio.

RUFINO: Dos poucos meses que passei na Bolívia, me impressionou a mudez de seus índios. Logo compreendi que era uma defesa antiga, vinda da época da Conquista: eles só eram mudos com os que vinham de fora. O altiplano, para brasileiros, é fantástico: as neves eternas, os lagos gelados, as aldeias esparsas… Vi de perto a combatividade das suas lideranças camponesas. Quanto ao Chile, se tornou minha segunda pátria, embora me sinta internacionalista. Ali conheci Thiago de Mello, nosso adido cultural na época, um semeador de amizades. Tínhamos um time, o Pedaço de Mundo. No Chile conheci também Pelé, que tem a minha idade, numa excursão do Santos. Achei que se, além de tudo, ele fosse politizado, seria Deus.

G1: Após voltar ao Brasil, veio a prisão. Que resumo pode fazer dessa experiência?

RUFINO: Voltei do exílio em 1966. Até 1972, conhecei prisões breves e leves. De 1972 a 1974, cumpri pena da Justiça Militar. Passei pelo Doi-Codi, em São Paulo, assisti à morte na tortura de Carlos Nicolau Danielli, vi e ouvi dezenas de outros presos sendo torturados. Tive o meu quinhão de socos e choques elétricos, mas não conheci o pior, a “cadeira do dragão”. É uma experiência inenarrável, no limite do humano. Quem a experimentou, em si ou nos companheiros, não sabe dizer qual é a natureza do torturador. Agora que a Justiça começa a julgá-los, alegam que torturaram em defesa da pátria. Que criaturas são essas?

G1: Nos últimos anos o debate sobre racismo tem crescido no Brasil. Como avalia esse tema, especialmente em relação à questão das cotas?

RUFINO: A ação afirmativa, que serve de base aos sistemas de cotas regionais, raciais, de gênero etc é um princípio democrático. O Estado corrige injustiças ao estabelecer condições justas de concorrência na luta pela vida. Sou, portanto, a favor, embora reconheça efeitos colaterais indesejáveis na aplicação do sistema. Mas um jovem branco que se sinta preterido pelas cotas é, por isso mesmo, capaz de entender a histórica preterição do negro na universidade, na diplomacia, na política e na iniciativa privada.

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