O bom humor está presente em algumas das melhores criações da MPB, que parecem evitar dramas e tragédias. Com exceção dos clássicos dor de cotovelo. Nos dias de hoje, o riso tem futuro na MPB? É a coluna de Nelson Motta.
Desde “Pelo Telefone”, o primeiro samba gravado, em 1916, o humor e a irreverência estão ligados à história da música brasileira. Afinal, a letra começa dizendo que o próprio chefe de policia telefonou para avisar que um cassino clandestino está rolando na rua da Carioca. De lá para cá, a música nos deu muita alegria e nos fez rir do Brasil e de nós mesmos.
Cronista da cidade, o gênio de Noel Rosa encontrou no humor a inspiração para clássicos como “Palpite Infeliz”, “Com que Roupa” e “Coisas Nossas”.
O Carnaval se tornou o veículo natural para músicas marcadas pelo humor e a irreverência, com a sátira, as paródias e o duplo-sentido divertindo o povo, criticando a sociedade e fazendo história.
E Carmen Miranda teve no humor um dos seus grandes aliados para o sucesso, com músicas de duplo-sentido criadas por Assis Valente especialmente para ela.
Nos anos 60, Juca Chaves fez grande sucesso com suas sátiras e eternizou Juscelino Kubitschek como “Presidente Bossa Nova”. E era mesmo.
Mas o humor também esteve a serviço da política, quando Chico Buarque fez uma gozação com as perseguições da ditadura: se a polícia aparecer, o que nos resta é chamar o ladrão.
Um deboche hilariante do Ultraje a Rigor se tornou o hino da campanha pelas Diretas, expressando a visão que o governo tinha dos cidadãos: “Inútil”.
A crítica social e a crônica da marginalidade foram a inspiração para Bezerra da Silva, um craque do humor na música.
Nos anos 90, os Mamonas Assassinas estouraram como um sucesso nacional e tiveram no humor juvenil a marca do seu estilo.
São muitas as gargalhadas que a música brasileira nos proporcionou, acompanhando os altos e baixos do país, fazendo a crítica política e a crônica social. A verdade é que atualmente não há muita coisa para rir.