Rio

Badalada casa de jazz na comunidade Tavares Bastos, no Catete, The Maze pode ir abaixo

Laudo da Secretaria municipal de Urbanismo determina demolição de imóvel devido a risco de desabamento

A arquitetura do The Maze se destaca na Tavares Bastos, no Catete
Foto: Hudson Pontes / Agência O Globo
A arquitetura do The Maze se destaca na Tavares Bastos, no Catete Foto: Hudson Pontes / Agência O Globo

RIO — Um projeto construído ao longo dos últimos 34 anos que, agora, corre risco de ir ao chão. Um laudo da Secretaria municipal de Urbanismo (SMU) ordenou a demolição dos seis pavimentos do The Maze, mix de albergue e bar na comunidade Tavares Bastos, no Catete. A casa, criação do inglês Bob Nadkarni, ex-correspondente da BBC, ganhou fama por sua arquitetura, quase um labirinto no meio da favela, e pelas apresentações de jazz toda primeira sexta-feira de cada mês.

Segundo a prefeitura, há problemas estruturais e irregularidades na construção de oito andares. Bob nega, garante que são seis andares e que o imóvel não recebe acréscimos desde 2009.

Ele recorre à sua própria história para defender a permanência da casa na Tavares Bastos. No Brasil desde 1972, ele caiu de amores pela favela na primeira vez que subiu o morro para levar sua empregada em casa. Foi amor à primeira vista (e que vista do Pão de Açúcar!). A construção do que viria a ser o The Maze começou em 1981. Primeiro, como ateliê. Depois, um centro social que se tornaria o albergue, na Rua Tavares Bastos 414, casa 66.

Desde então, em seus deques e varandas, de formas sinuosas como as montanhas do Rio, estiveram astros como o rapper Snoop Dog e o ator Edward Norton. O Maze é citado na revista “Downbeat” como um dos 150 melhores casas de jazz do mundo.

— Não aparecemos aqui de um dia para o outro. Meu filho, hoje com 29 anos, não era nascido quando construímos o quarto andar — lembra Bob.

Os problemas com a prefeitura teriam começado por causa de uma rixa antiga dentro da favela, quando ainda existia o centro social. De acordo com Bob, ele passou três meses viajando e, ao voltar, o então presidente da associação de moradores tinha vendido o local. Bob conseguiu retomá-lo. Mas conta que o The Maze passou a ser alvo de recorrentes denúncias anônimas à polícia, à fiscalização sanitária, à Defesa Civil e até ao Conselho Tutelar. A mais séria chegou à prefeitura, em 2008, com a chancela da vereadora Leila do Flamengo, alegando que o local causava danos às casas de baixo.

MULTAS DESDE O ANO PASSADO

O inglês mostra um laudo, da época, de um engenheiro indicado pelo município, apontando o contrário. Mas a casa foi embargada, com pedido de regularização. Em 2009, Bob tentou atender à exigência, mas o pedido foi indeferido em dezembro do mesmo ano, porque o imóvel teria um total de pavimentos superior ao permitido pela legislação.

Desde o ano passado, Bob relata ter recebido uma série de multas, algumas sem sentido, de acordo com ele, como a aplicada por causa da instalação de um corrimão. Oficialmente, a SMU afirma que “em função da impossibilidade de legalização e de outros acréscimos irregulares posteriormente verificados, foi elaborado Laudo de Vistoria Administrativa visando a demolição das obras irregulares”.

O The Maze está no guia turístico da Riotur e aparece num dos filmes promocionais das comemorações dos 450 anos do Rio.