Economia

Esforço fiscal no Brasil vai levar pelo menos dois anos, diz ministro do Planejamento

Segundo Nelson Barbosa, governo está procurando adotar uma postura gradual no reequilíbrio das contas públicas
Nelson Barbosa, ministro do Planejamento: "É uma expectativa de mercado e, como qualquer expectativa de mercado, pode ser revista" Foto: Jorge William / Agência O Globo
Nelson Barbosa, ministro do Planejamento: "É uma expectativa de mercado e, como qualquer expectativa de mercado, pode ser revista" Foto: Jorge William / Agência O Globo

SÃO PAULO -  O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse nesta segunda-feira em São Paulo que o ajuste fiscal deve ser mais acelerado que processos semelhantes que ocorrem em outras economias, em razão das elevadas taxas de juros vigentes no país. Ele afirmou que o esforço perseguido pelo Brasil vai durar pelo menos dois anos, ressaltando que o governo está procurando adotar uma postura gradual no reequilíbrio das contas públicas.

— As principais economias estão promovendo consolidação fiscal depois dos esforços dos governos para superar os efeitos da crise de 2008/2009. Nossa estratégia é gradual, mas mais rápida porque no caso do Brasil a taxa de juros que incide sobre a dívida líquida do governo é muito alta. Por isso o ajuste tem que ser mais rápido — disse.

Falando no seminário "O desafio do ajuste fiscal brasileiro", na Fundação Getulio Vargas (FGV), Barbosa reafirmou que o governo buscará um superávit primário de 1,1% este ano, e de 2% a partir de 2016.

Questionado sobre as projeções mais pessimistas dos economistas para a recuperação da atividade, que só começaria a partir de 2017, e não já a partir do próximo ano, como prevê o governo, Barbosa afirmou que essas projeções são revistas a cada dois meses. Na reavaliação feita semana passada, lembrou, as projeções de crescimento foram reduzidas, tanto para este como para o próximo ano.

—  Trabalhamos com um modelo mais próximo aos do mercado, e no nosso cenário vemos o início da recuperação da economia a partir do último trimestre de 2016 —  disse.

Quanto aos efeitos dessa demora maior da retomada do crescimento e nas projeções de arrecadação do governo, Barbosa afirmou que, além das receitas correntes com impostos, o governo conta com recursos também com operações no mercado de capitais, como a abertura de capital da Cielo, que tem o Banco do Brasil entre os acionistas, e que por isso propiciou uma receita adicional de R$ 4 bilhões ao Tesouro.

—  E há os reajustes e revisões de contribuições, como já fizemos com a Cide, e as desonerações, como a proposta para a folha de pagamento, que tramita no Congresso. São esse ajustes e a revisão das de desonerações que sustentam as expectativas de arrecadação do governo —  disse.

DEMANDA POR PROJETOS DE INFRAESTRUTURA

Barbosa disse ainda que há interesse de investidores nacionais e estrangeiros pela infraestrutura no Brasil, afirmando que o setor de construção do país tem condições de executar os projetos.

— O setor de construção tem toda capacidade de atender esses investimentos. Firmas novas, firmas médias e mesmo as firmas que enfrentam alguns problemas — comentou.

O governo brasileiro está prestes a lançar um amplo programa de concessão de infraestrutura, abrangendo ferrovias, rodovias, portos e aeroportos. O lançamento do pacote coincide com um momento em que grandes empreiteiras estão envolvidas no escândalo de corrupção bilionário na Petrobras.

Barbosa disse que a taxa de retorno dos projetos irá refletir a realidade brasileira e que o real mais depreciado em relação ao dólar torna os ativos brasileiros mais atraentes em termos de taxa de retorno.

O ministro também avaliou que as taxas de juros na maior parte do mundo deverão continuar em níveis baixos.

— Mesmo que o Fed (banco central americano) aumente a taxa de juros, mesmo assim as taxas de juros no mundo permanecerão baixas e isso garante que, do lado da oferta, haverá interesse (no programa de concessões brasileiro).

* Com Reuters