Quatro meses. Tempo em que o São
Paulo saiu da euforia para o desânimo. O vice-campeonato brasileiro do ano
passado, a manutenção do elenco e a contratação de reforços deram ao
torcedor a certeza de que o ano prometia para o Tricolor. De que o jejum de títulos importantes poderia ser quebrado. Mas, com apenas
quatro meses, o time que começou mal não esboça reação, não tem padrão de jogo
e acaba de perder seu treinador.
Para piorar, o elenco está cada vez mais
pressionado pela sequência de resultados ruins e pelas constantes ameaças de membros de torcidas organizadas.
ENQUETE: quem deve ser o técnico do São Paulo?
O ano tricolor começou na
primeira fase do Paulistão. Mas o primeiro grande teste veio no dia 18 de
fevereiro, na derrota para o Corinthians. Vieram mais três clássicos, com duas
derrotas e um empate - e nenhum gol marcado até o momento contra os grandes rivais do estado.
Na Libertadores, o sorteio colocou a equipe num grupo difícil, e hoje, faltando duas rodadas, o time ocupa a segunda colocação, na briga
direta com o San Lorenzo por uma vaga.
O GloboEsporte.com enumera abaixo
os motivos da crise do Tricolor:
saída de kaká
É unânime nos lados do Morumbi que foi a presença de Kaká o motivo da reação do time no segundo turno do Campeonato Brasileiro - o Tricolor chegou a brigar pelo título com o Cruzeiro. Todos sabiam que o meia iria embora no final do ano para o Orlando City, mas ninguém esperava tamanha queda de rendimento da equipe. Dentro de campo, o São Paulo perdeu um cara que ajudava muito taticamente, era inteligente e, que acima de tudo, tinha postura de líder, como Rogério Ceni. Fora das quatro linhas, o ambiente piorou após a saída do jogador.
saúde de muricy
Desde o começo da temporada, Muricy não foi o Muricy que todos conheciam. Depois de ter sido internado com uma arritmia em setembro de 2014, ele voltou ao hospital logo em janeiro por causa de uma diverticulite. O treinador passou a evitar os excessos, mudou de postura na linha lateral e pouco falava com os jogadores. Ele simplesmente não conseguia mais fazer o time reagir.. A gota d'água foi a derrota para o Botafogo, no último domingo. No dia seguinte, ele disse que precisava se cuidar e, em comum acordo com a diretoria, acabou indo embora.
fragilidade tática
Além dos problemas de saúde enfrentados por Muricy, alguns jogadores não estavam satisfeitos com o trabalho do treinador. A fragilidade tática da equipe, a falta de padrão e as constantes mudanças desagradavam. Muricy não achou um time ideal. Outras queixas eram quanto aos métodos de treinamento aplicados pelo ex-técnico, que costumava dar muito trabalho em campo reduzido, cruzamentos e finalizações. Coletivos eram raros. A alegação era de que ele estava ultrapassado e isso explicaria o desempenho nos clássicos contra o Corinthians (de Tite) e Palmeiras (de Oswaldo de Oliveira).
queda de rendimento
Além do trabalho de Muricy não ter rendido, o que também atrapalhou foi que as principais peças da equipe não renderam o esperado. Rogério Ceni falhou nos clássicos contra os principais rivais. Paulo Henrique Ganso é o jogador mais criticado pela torcida, cansada da apatia mostrada pelo jogador nas partidas. Luis Fabiano, que atualmente se recupera de uma contratura na coxa esquerda, é outro em baixa. Ele fez três gols no ano e tem deixado a desejar nos jogos decisivos. Os volantes Souza e Denilson também não rendem o melhor futebol.
reforços não vingam
Com a base de 2014 mantida, Muricy Ramalho pediu a contratação de reforços para a atual temporada. Chegaram: os laterais Bruno e Carlinhos, os zagueiros Breno e Dória, os volantes Thiago Mendes e Wesley, e os meias Daniel e Centurión. Dos que estrearam (Daniel, Wesley e Breno ainda não foram utilizados), ninguém rendeu o esperado. Bruno e Carlinhos, que começaram como titulares absolutos, haviam sido barrados por Muricy. Centurión, que custou R$ 14 milhões, já foi multado pela diretoria por ter se reapresentado com atraso da Argentina.
crise política
Se dentro de campo as coisas não vão bem, fora andam ainda pior. O atual presidente, Carlos Miguel Aidar, e o antecessor, Juvenal Juvêncio, trocam acusações a todo instante. Em um dos episódios mais quentes dessa guerra fria, a namorada do mandatário, Cinira Maturana, foi acusada pela oposição de receber comissões. O vice de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, é criticado por gente de dentro do clube, insatisfeita com seus métodos de trabalho. Muricy e Aidar também trocaram farpas via imprensa. Constantemente, o clube está em ebulição.
problemas financeiros
O São Paulo sofre para manter as contas em dia. O clube está sem patrocinador e, para não ver a situação piorar, recorreu a empréstimos bancários. Somente em juros, são pagos R$ 2,8 milhões por mês. Os direitos de imagem e dos jogadores chegaram a atrasar no começo do ano. Um novo empréstimo foi feito e tudo foi quitado. O próximo débito é de aproximadamente R$ 3 milhões ao técnico Muricy Ramalho, valor correspondente a metade dos salários que ele receberia até o final do contrato.