Economia

Para denunciar machismo na publicidade, site reúne depoimentos de profissionais assediadas

Tumblr ‘Liga das Heroínas’ também traz perfis de mulheres que se destacam na área

‘Liga das Heroínas’ combate o machismo na área da publicidade
Foto: Reprodução
‘Liga das Heroínas’ combate o machismo na área da publicidade Foto: Reprodução

RIO - No ar há apenas um dia, o Tumblr “Liga das Heroínas” já reúne mais de 15 depoimentos de publicitárias que foram assediadas, subestimadas ou simplesmente desrespeitadas em seu ambiente de trabalho por serem mulheres. Criado pela publicitária Luíse Bello, formada pela UFF e, atualmente, gerente de conteúdo e comunicação da ONG Think Olga, o site pretende dar destaque às profissionais da área e também denunciar o abuso que muitas delas sofrem diariamente.

A página é uma resposta ao Tumblr “Liga da Criação”, que faz uma homenagem aos “heróis da propaganda brasileira”. Lançado no dia 10 de agosto, até esta quarta-feira, não havia sequer uma mulher na lista dos mais famosos publicitários do país feita pelo site. Joanna Monteiro, CCO da FCB Brasil, foi a primeira a entrar na galeria, depois de 17 dias e 20 homens. Pouco depois, foi a vez do portal “Meio & Mensagem” publicar a lista dos CEOs das maiores agências do país. Entre os 20 executivos também não havia uma mulher sequer.

“Ser mulher na publicidade não é fácil. Para muitas, passa por abrir mão de defender seu próprio gênero para evitar a fadiga ou até da própria vaidade para escapar de assédio, além de padecer a cada piadinha machista que sai nas salas de reunião. Reconhecendo a ausência de mulheres CEO entre as maiores agências do Brasil e entre os mais famosos publicitários do país, surgiu a ideia deste tumblr para homenagear essas profissionais que são verdadeiras heroínas, buscando justiça onde falta equidade com as próprias ideias”, diz Luíse na descrição da página.

Para ela, as mulheres que merecem o título de heroínas da publicidade. Por enquanto, o “Liga das Heroínas” já homenageou Joanna Monteiro, eleita por duas vezes consecutivas como uma das 30 mulheres mais criativas da publicidade, segundo o ranking da revista americana “Business Insider”; e Ana Lúcia Serra, que já ocupou cargos importantes na Ogilvy & Matter, DM9DDB, Euro RSCG e fundou a Agência Age. Hoje, fora da publicidade, ela é dona da galeria de arte Carbono.

As publicitárias que já passaram por situações de humilhação ou desrespeito podem deixar seu depoimento no Tumblr , que aceita relatos anônimos. Confira algumas histórias:

“Quando era estagiária (+-18 anos) acompanhava o Twitter de um “ídolo” de planejamento (+- 37 anos). Fui perguntar da área e emprego e ele me convidou para tomar vodka na casa dele”.

“Numa festa dentro da empresa, uma assistente foi buscar bebida numa salinha onde estavam algumas meninas, o CEO, um DC e um famoso que costumava frequentar a agência. O cara famoso convidou a assistente a sentar no colo dele. Quando ela recusou, foi convidada a se retirar, já que ali ‘só ficava periguete’”.

“Essa aconteceu com uma grande amiga. Ela tinha voltando de um tempo em Londres, onde foi fazer curso de inglês, e foi fazer entrevista na antiga agência em que ela trabalhava como atendimento de uma grande conta. O diretor de atendimento, que já tinha trabalhado com ela, disse que estavam procurando alguém ‘como ela’, alguém bonita, de boa presença, para agradar o cliente. Ela não aceitou a ‘grande proposta’”.

“Uma vez estava numa reunião de briefing de uma marca grande de cosmético e o cliente disse: ‘Sabe aquele dia em que a mulher está precisando de uma injeção de auto estima e então coloca uma roupa bem curta e vai passar na frente da obra, pra ver se ganha um elogio?’. E eu: ‘Não. Não sei’. O cara trabalha há 12 anos para marcas dirigidas às mulheres e teve a coragem de soltar uma merda dessas…”.