Economia

Sem verba para combater mosquito, Grécia volta a registrar malária, revela estudo

Com austeridade fiscal, casos de HIV cresceram 200% no país desde 2011

LONDRES E ATENAS - Estudo do economista político David Stuckler, da Universidade de Oxford, e Sanjay Basu, epidemiologista da Universidade Stanford, revelou que as políticas de austeridade adotadas pelos países estão tendo um efeito devastador sobre a saúde da população. O caso da Grécia é especialmente dramático. Segundo os dois acadêmicos, com a redução do acesso a medicamentos e atendimento médico, casos de suicídio, depressão e doenças infecciosas cresceram no país. A Grécia voltou até mesmo a registrar casos de malária, depois que os cortes orçamentários do governo afetaram os programas de combate ao mosquito transmissor.

Em um livro a ser lançado nesta semana, Stuckler e Basu afirmam que mais de dez mil suicídios e até um milhão de casos de depressão foram diagnosticados durante o período que eles batizaram como “Grande Recessão”, quando os governos da Europa e da América do Norte adotaram medidas de austeridade. Na Grécia, medidas como cortes orçamentários nos programas de prevenção à Aids coincidiram com um aumento de mais de 200% nas infecções pelo vírus HIV desde 2011 — o que tem como explicação também a disparada no uso de drogas, num contexto em que o desemprego juvenil chega a 50%.

Pressionado pela troika — formada por União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) —, o governo grego, liderado pelo conservador Antonis Samaras, adotou medidas de aperto fiscal, para reduzir o déficit público, num plano que envolveu cortes de gastos e o aumento de impostos. Na mais recente medida, o Parlamento grego aprovou no último domingo um plano de demissão de 15 mil servidores até 2014.

A economia grega continua em queda livre, tendo encolhido 20% nos últimos cinco anos. A taxa de desemprego supera os 27%, o maior patamar da Europa. A maior parte dos desocupados está sem trabalho há mais de um ano. Segundo reportagem do “New York Times”, a crise grega também se reflete na fome, especialmente de crianças.

“Nossos políticos precisam levar em conta as sérias e em alguns casos profundas consequências das escolhas econômicas”, disse, em nota, Stuckler, coautor do livro “The Body Economic: Why Austerity Kills” (A economia do corpo: por que a austeridade mata).

“No final, o que vimos é que a piora da saúde não é uma consequência inevitável das recessões econômicas. É uma escolha política”, disse, por sua vez, Basu na nota.