• Marina Espin
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Marcelo Tas posa no camarim do programa Papo de Segunda (Foto: Juliana Coutinho)

Marcelo Tas posa no camarim do programa Papo de Segunda (Foto: Juliana Coutinho)

"Precisamos descobrir que nós é que mudamos a sociedade e não vai descer um disco voador e nos salvar." É o que defende Marcelo Tas ao falar do que mudou um ano depois de sua entrevista com o filho Luc, na qual falaram sobre a transição de gênero dele. “Recebi muitas respostas de pais e também de filhos, evidentemente, que não conseguem conversar com seus pais. Falaram que a entrevista deu coragem, deu motivo. Criou um assunto dentro de casa. Fiquei muito feliz com isso”, afirma o apresentador. Mas o caminho ainda é longo, principalmente por causa do preconceito. “Existe uma enorme estrada para se percorrer. Porque ainda há muita violência”, diz.

Marie Claire conversou com Tas nos bastidores do programa “Papo de Segunda Verão”, do GNT, do qual é mediador. Durante o especial de verão, exibido neste mês e em fevereiro, as apresentadoras do “Saia Justa” – Astrid Fontenelle, Barbara Gancia, Maria Ribeiro e Mônica Martelli –,  também do canal fechado,  se juntarão ao time masculino, João Vicente de Castro, Xico Sá e Léo Jaime. O programa coloca Tas numa situação diferente da qual costumava viver em seus programas. Pela primeira vez, não assume nenhuma personagem. Se é muito diferente? "Sim e mais arriscado", afirma o apresentador. “Você pode tropeçar mais. E, às vezes, a gente aqui procura isso. A gente procura se expor e estamos procurando convidar o homem a não ter medo disso. Então a gente tem que dar exemplo.”

A nova temporada do “Papo de Segunda”, com o elenco original a partir do dia 7 de março, não é o único plano do apresentador para este ano. No segundo semestre, Tas vai lançar um acervo e um livro sobre Ernesto Varela, o intrépido repórter criado por ele em parceria com o cineasta Fernando Meirelles, sucesso anos 80. No ano que vem, Tas pretende reviver o marcante personagem, numa nova série.

Marie Claire – Em pouco tempo você vai entrar no ar ao vivo e parece bem sossegado... Apresentar um programa ao vivo já é tranquilo assim para você?
Marcelo Tas –
Claro que não. Tranquilo não é, mas é por isso que eu gosto. Eu não sou um homem que gosta de tranquilidade. O ao vivo é fantástico porque todo mundo fica no mesmo estado. E quando não é ao vivo uma parte da equipe pode estar mais desatenta. Fica todo mundo mais ligado, igualmente. Tanto a gente que aparece quanto toda a técnica. Eu acho maravilhoso. Eu amo TV ao vivo. Tem muito a ver com o veículo, cada vez mais. É o que difere a televisão da internet, de cinema, de tudo. O ao vivo é a cara da TV.

MC – Este é o primeiro programa em que você é mais você, sem personagem...
MT –
É e é muito difícil. No caso do CQC era uma coisa mais ficcional quase. Tinha um figurino, parecia que estava dentro de uma nave espacial. E os assuntos também não eram relacionados a mim. Era uma coisa mais de crônica do país e da semana. Aqui não. Aqui o tiro é direcionado para a gente. A gente fica mais exposto. Eu tenho percebido isso ao longo deste ano que a gente ficou no ar. Isso fez com que muitos casais assistissem ao programa juntos. O programa dá mil motivos para eles puxarem um assunto difícil. Principalmente com humor. Com assunto difícil é legal você trazer o humor porque ele ajuda você a ser mais sincero. O humor permite a sinceridade.

MC – De que forma?
MT –
Por incrível que pareça, quando você usa o humor, você pode falar a verdade. É aquela famosa expressão popular que é brincando que se fala as coisas sérias. E é assim mesmo. Às vezes num casamento quando você brinca, acaba falando uma coisa que estava fechada, engasgada, e você detona um processo.

MC – Isso não parece uma cutucada?
MT –
Veja bem. Isso não é uma receita garantida. Porque a sinceridade é muito importante em qualquer relação. Então não tem fórmula, não tem mesmo. Por isso que o relacionamento das pessoas é este mistério. Não só no casamento, mas qualquer tipo e associação, de amizade.

MC – E é diferente para você estar ali mais exposto?
MT –
Muito. É mais arriscado, sem dúvida nenhuma. Não tem script mesmo. Você pode tropeçar mais. E às vezes a gente aqui procura isso. A gente procura se expor e estamos procurando convidar o homem a não ter medo disso. Então a gente tem que dar exemplo.

MC – Falando em dar exemplo, há pouco mais de um ano você deu uma entrevista para a revista Crescer falando sobre a transição do seu filho Luc. Foi uma exposição positiva?
MT –
Neste caso foi muito positiva. Eu recebi muitas respostas de pais e também de filhos, evidentemente, que não conseguem conversar com seus pais. Falaram que a entrevista deu coragem, deu motivo. Aquilo que eu falei também sobre o programa, criou um assunto dentro de casa, como “vocês viram aquela entrevista que o Tas deu”. Eu fiquei muito feliz com isso. A entrevista foi uma coisa que veio naturalmente com o tempo. Como eu escrevo na revista, eles já sabiam disso já há alguns meses e a gente não quis fazer a entrevista logo que eles souberam. Teve um tempo, também, de maturação. E é legal isso. Quando existe este tempo, o resultado é muito mais forte.

Marcelo Tas posta foto no casamento do filho Luc (à esquerda) com Nic (à direita) (Foto: Reprodução/ Instagram)

Marcelo Tas posta foto no casamento do filho transgênero Luc (à esquerda) com Nic (à direita) (Foto: Reprodução/ Instagram)

MC – E você gostou desta repercussão?
MT –
Eu adorei. Eu acho bacana também esta fase aqui do GNT de eu procurar compartilhar um pouco das minhas angústias, dos meus dramas, do que eu penso e isso servir para alguém. Isso eu acho incrível.

MC – Você sente que esta história ajudou e colocou em pauta um assunto importante ou ainda tem muito a ser conversado e discutido?
MT –
Existe uma enorme estrada ainda para se percorrer. Porque ainda há muita violência. A gente ainda está num estágio muito primitivo deste assunto e uma violência absolutamente irracional. Contra gays, contra os transgêneros e até mesmo contra as mulheres. A pessoa sofre violência porque é mulher. Isso é uma coisa muito primária.

MC – Já é um começo...
MT –
O Brasil tem essas coisas malucas. A gente avança muito rapidamente em relação a algumas coisas, até comparado com outros países e ao mesmo tempo precisamos ficar atento ao nosso lado animal porque não podemos aceitar assassinatos de gays mulheres ou até estupro de crianças, como acontece diariamente no país. É uma coisa bárbara.

MC – Às vezes a gente precisa se expor para colocar luz em determinados assuntos?
MT –
Sim, às vezes a gente precisa se expor e chamar mais gente para se expor. Chamar as pessoas para se manifestarem. Precisamos descobrir que nós é que mudamos a sociedade e não vai descer um disco voador e nos salvar, como a gente gostaria, ou um paizão, como geralmente a política nos aponta. Somos nós mesmos que temos que mudar as coisas. Começando por alguém muito difícil que é a gente mesmo.

Marcelo Tas brinca com Mônica Martelli nos bastidores do programa (Foto: Juliana Coutinho)

Marcelo Tas brinca com Mônica Martelli nos bastidores do programa (Foto: Juliana Coutinho)

MC – E como está sendo esta mistura com as meninas do Saia Justa?
MT –
Eu estou amando. Elas trouxeram a faísca. E uma das coisas que estou amando aqui no GNT é o quanto que aqui há uma preocupação com a renovação constante do programa. Que é uma coisa que eu estava ansiando muito. Eu fiquei muito tempo na TV aberta. A TV aberta às vezes tem muita dificuldade com renovação. Ela acha que renovação pode assustar o telespectador. O que, na minha opinião, é uma burrice. Porque nós vivemos hoje um telespectador que assiste tudo ao mesmo tempo: TV aberta, celular, rede...  É um cara que está ficando cada vez mais parecido. Eu sempre fui desta praia de estar sempre mudando.

MC – Você está com um projeto relacionado ao Ernerto Varela...
MT –
Eu estou num trabalho de recuperação do Ernesto Varela, que foi o meu primeiro trabalho na TV. E está bem adiantado. A gente está com 60% deste trabalho feito. Estamos fazendo com o Instituto Cultural Itaú e tá incrível. Vamos recuperar e retratar todas as imagens e contextualizá-las para os dias de hoje.

MC – Isso significa que você vai interpretar o personagem novamente?
MT –
Tem uma chance... Com o material pronto, ficamos vontade de fazer uma série, usando o material e gravações contemporâneas. Mostrando que a história do Brasil se repete muito.  E querendo aprender um pouco com isso. O acervo vai ser lançado no segundo semestre deste ano. Vai ter um livro também. A série deve ficar para o ano que vem.