01/06/2015 05h00 - Atualizado em 01/06/2015 19h07

Turismo social permite conhecer o mundo fazendo trabalho voluntário

Projetos atuam em orfanatos, santuários de animais e aldeias rurais.
Tailândia, África do Sul, Peru, Índia e Moçambique são alguns destinos.

Flávia MantovaniDo G1, em São Paulo

O oncologista Marcelo Aisen já conheceu nas férias vários destinos da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia. Mas algumas de suas melhores lembranças de viagem com a família vêm de um lugar inusitado: uma aldeia rural sem luz elétrica nem água encanada em Moçambique.

Em março deste ano, Marcelo embarcou para o país africano com a mulher e a filha adolescente em uma viagem de uma semana organizada por uma ONG internacional.

Lá, eles ajudaram a pintar um centro comunitário, trocaram ideias com pessoas pertencentes a uma realidade muito diferente da sua e conheceram Fátima, uma criança de oito anos que a família apadrinha com suas doações há alguns anos.

Selo Marcelo Aisen em Moçambique: Foi um dos melhores dias da minha vida (Foto: Marcelo Aisen/Arquivo pessoal)Selo Marcelo Aisen em Moçambique: Foi um dos melhores dias da minha vida (Foto: Marcelo Aisen/Arquivo pessoal)

A viagem, organizada pela organização ActionAid, levou um grupo de sete pessoas para conhecer projetos sociais em Moçambique. A entidade oferece esse tipo de viagem desde 2010: as demais foram dentro do Brasil, nos estados do Piauí, Bahia, Alagoas e Maranhão.

Os gastos são pagos pelo turista – a de Moçambique, por exemplo, custou cerca de R$ 1.500 por pessoa, fora a passagem aérea. No segundo semestre deste ano, haverá outra viagem para a região semiárida do norte de Minas Gerais.

De orfanato a santuário de animais

Adoro cachorros e achei legal poder trabalhar com eles. Foi inesquecível, diz Jefrey Moura (Foto: Jefrey Moura/Arquivo pessoal)

Outras organizações e agências que atuam no Brasil e oferecem viagens parecidas, com foco em trabalho voluntário e causas sociais.

Entre as muitas atividades disponíveis, é possível ensinar inglês em orfanatos na Tailândia ou no Peru, auxiliar em aulas de equitação para pessoas com deficiência na África do Sul, ser voluntário em uma clínica de medicina alternativa na Índia ou cuidar de crianças vítimas de abuso no Chile.

É possível ensinar inglês em orfanatos na Tailândia, auxiliar em aulas de equitação na África do Sul, ser voluntário em uma clínica de medicina alternativa na Índia ou cuidar de vítimas de abuso no Chile

Há também projetos com viés ambiental, em santuários de felinos ou de aves raras, parques de elefantes e reservas de animais selvagens em países como África do Sul e Namíbia.

Para sua primeira viagem ao exterior, o massagista Jefrey Moura, de 25 anos, optou por um projeto voltado para ajudar animais. Ele passou um mês fazendo trabalho voluntário em uma ONG que acolhe cães de rua na Cidade do Cabo, na África do Sul. “Tenho cachorro desde pequeno, adoro. Achei um atrativo legal”, diz.

Suas tarefas incluíam percorrer as ruas da cidade atrás de cachorros e gatos abandonados, passear com eles, alimentá-los e reeducá-los para serem adotados depois. “Foi inesquecível”, diz. ”Consegui me virar bem, conheci o lugar. Faria de novo”, afirma.

‘Choque’

Brasileira abraça moradora de aldeia em Moçambique durante a viagem  (Foto: Ernânio Mandlate/ActionAid/Divulgação)Brasileira abraça moradora de aldeia em Moçambique durante a viagem (Foto: Ernânio Mandlate/ActionAid/Divulgação)

 

Na viagem da ActionAid para Moçambique, o grupo do Brasil visitou duas aldeias no interior de Moçambique. Foi recebido com músicas, teatro, danças típicas e uma partida de futebol feminino. “Joguei bola com eles, fiz mágica. Foi um dos melhores dias da minha vida”, lembra Marcelo Aisen.

A chegada até lá foi demorada. Só na ida, eles pegaram três voos, além dos trajetos de ônibus e van. Um dos voos atrasou e o grupo levou dois dias além do previsto para chegar ao destino. Mas ninguém reclamou. “Se fosse uma viagem de turismo as pessoas ficariam bravas. Mas ali todo mundo aceitou tudo, o espírito era muito legal”, diz Marcelo.

Segundo o médico, a experiência foi “um choque”. “A gente não imagina a miséria que ainda tem pelo mundo. Eu nunca tinha visto algo naquele grau”, conta

Foi um choque para a minha filha. Deu um clique nela, diz Marcelo Aisen (Foto: ActionAid/Divulgação)

Para a filha de Marcelo, uma estudante de moda de 17 anos, a experiência foi ainda mais transformadora. “Deu aquele clique nela. Ela viu que a gente não pode desperdiçar as coisas, que a gente tem que ajudar”, afirma o brasileiro, que voltou disposto a fazer outra viagem com a ONG para poder levar o filho de 15 anos, que não conseguiu ir dessa vez.

Segundo Bruno Benjamin, coordenador de captação da organização no Brasil, a ideia é fazer uma prestação de contas diferente, dando ao doador a noção de como a organização trabalha e como seu dinheiro é utilizado.

“Começou com esse objetivo. Mas a gente percebeu que vai muito além disso. É um grande encontro de solidariedade, tanto para as pessoas que viajam quanto para as que recebem o grupo”, diz.

Marcelo Aisen concorda. “Uma coisa é você doar. Outra é você chegar na outra ponta”, diz.

Intercâmbio social

Thaís (sentada, no centro) no albergue onde foi voluntária, na Guatemala (Foto: Thais Gervasio de Brito/Arquivo pessoal)Thaís (sentada, no centro) no albergue onde foi voluntária, na Guatemala (Foto: Thais Gervasio de Brito/Arquivo pessoal)

Uma das entidades que atuam há mais tempo no Brasil em viagens para trabalhos voluntários é a Aiesec, organização sem fins lucrativos que promove intercâmbios profissionais e sociais para jovens universitários.

O programa voltado para viagens sociais, chamado Cidadão Global, é dirigido a jovens entre 18 e 30 anos que tenham no máximo dois anos de formados ou cursem graduação ou pós-graduação. Os destinos favoritos dos brasileiros para os intercâmbios sociais são Peru, México, Argentina, Colômbia, Hungria, Polônia, Turquia e Índia.

A publicitária Thaís Gervasio de Brito, de 27 anos, é uma das pessoas que já viajaram com a organização. No início deste ano, ela passou três meses na Guatemala. Foi sua primeira viagem internacional.

“Escolhi o país pela curiosidade. É um lugar sobre o qual a gente não tem referência, que tinha grande chance de me surpreender. E é muito pobre, queria ir para um lugar onde fizesse a diferença na vida das pessoas”, diz.

Selo turismo social Thaís Gervasio de Brito (Foto: Thais Gervasio de Brito/Arquivo pessoal)

Thaís trabalhou na zona rural do país, em um albergue para mulheres e crianças vítimas de abusos. Passava todas as manhãs no local, tinha aulas de espanhol à tarde e nos fins de semana viajava pelo país.

A publicitária diz que a experiência foi “riquíssima” e a surpreendeu positivamente “em todos os sentidos. “Eu estava apaixonada pelo trabalho que fazia. É muito bom fazer algo pelo outro, receber um abraço e ver que você melhorou a vida de alguém. Incorporei isso para a vida”, diz.

Quem oferece

ActionAid
O programa "Mão na Massa" leva brasileiros para conhecer projetos e beneficiários da ONG internacional dentro e fora do país. É preciso pagar os custos da viagem. O programa é aberto a doadores e não doadores. A próxima viagem será para a região semiárida no norte de Minas Gerais.

Informações neste link.

Aiesec
O projeto Cidadão Global leva jovens de 18 a 30 anos para fazer intercâmbios sociais em vários países. É preciso cursar graduação ou pós-graduação ou ter no máximo dois anos de formado. O preço máximo é de R$ 1.500, mais a passagem aérea. Os destinos incluem Colômbia, Peru, Polônia, Guatemala e Rússia.

Informações neste link.

CI
A agência de intercâmbio tem roteiros voltados para trabalho voluntário em países como África do Su, Peru, Sri Lanka, Namíbia e Índia. Há projetos com foco social, em lugares como centros de saúde ou orfanatos, e ambiental, em santuários de aves, elefantes e felinos, por exemplo.

Informações neste link.

Experimento
A empresa de intercâmbio oferece diversas opções de viagens com foco em voluntariado. Entre elas, trabalhar em uma fazenda orgânica na África do Sul, ajudar uma instituição que preserva a cultura turca em Istambul e ensinar inglês para crianças na Tailândia ou no Peru.

Informações neste link.

STB
O STB oferece programas de trabalho voluntário com crianças e adolescentes, idosos, mulheres, animais e projetos ambientais. Os destinos incluem África do Sul, Seychelles, Costa Rica, Índia, Thailandia, Nepal, Sri Lanka, Vietnã, Argentina e Guatemala. Podem participar pessoas com idade a partir de 18 anos.

Informações neste link.
 

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