Dilma e Cunha jogam pesado para controlar PMDB na Câmara

Com disputa apertada, liderança da legenda na Câmara será definida nesta quarta

por Júnia Gama e Leticia Fernandes

O atual líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ) - Michel Filho - 09/12/2015 / Agência O Globo

BRASÍLIA - Em uma disputa apertada, a liderança do PMDB na Câmara será definida a partir das 15 horas desta quarta-feira tendo como pano de fundo uma queda de braço entre o governo e o presidente da Casa, o oposicionista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que trará repercussões para ambos os lados. O governo aposta suas fichas na recondução de Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e para tanto deu aval para que o ministro da Saúde, Marcelo Castro, deixe o cargo em meio à crise do vírus zika para dar seu voto ao aliado. A saída será publicada no Diário Oficial desta quarta. Uma vitória de Picciani pode garantir maior tranquilidade na votação de matérias do ajuste fiscal e na tentativa de sepultar o impeachment.

Para o governo, a vitória de Hugo Motta (PMDB-PB), cuja candidatura foi criada por Cunha, significará o aprofundamento da instabilidade no Congresso vivida no ano passado e uma barreira a medidas de recuperação da economia. Por outro lado, para Cunha, a recondução de Picciani ao cargo exporá seu enfraquecimento em um momento em que necessita de todo o apoio político para sobreviver às denúncias de que é alvo na Operação Lava-Jato. Já a vitória de Motta mostrará que, apesar das seguidas denúncias, o presidente da Casa ainda é o grande líder do maior partido da Câmara.

Os dois grupos trabalharam intensamente nos últimos dias para conquistar votos e, apesar de ambos candidatos cantarem vitória, aliados admitem que o resultado da eleição, que será feita por voto secreto em urna eletrônica, é imprevisível. Enquanto Hugo Motta contou com o engajamento pessoal de Cunha em sua campanha, Picciani teve apoio do governo e dos correligionários no Rio de Janeiro, inclusive com a exoneração de secretários do estado e do município para ampliar sua votação.

Voto a voto

A saída temporária do ministro da Saúde dá a dimensão da incerteza que ronda a eleição. Ele só desejava deixar o ministério caso seu voto fosse considerado essencial para a vitória de Picciani. Diante das pressões de Eduardo Cunha, que procurou o ministro nos últimos dias para tentar demovê-lo da ideia e alertar que poderia sofrer constrangimentos na Câmara, Castro ensaiou recuar. Ontem, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) veio a público incentivar a saída do colega, afirmando que não havia “óbice” do governo e que ele tem o “mandato a preservar”.

Auxiliares do Planalto avaliaram que, mesmo que o voto isolado de Castro não altere a disputa, será uma forma de o ministro trabalhar para o governo, que neste momento considera mais importante reconduzir Picciani à liderança que evitar eventuais estragos à imagem do ministro. Mais do que o voto em si, o sinal de prestígio com a ida do ministro poderia influenciar a decisão de alguns deputados, segundo análise de assessores da presidente Dilma Rousseff.

— Houve uma avaliação de danos e ficou constatado que o dano maior e mais extenso é se Picciani perder a liderança do que um arranhão de imagem para o ministro Marcelo Castro e um estremecimento com o grupo de Hugo Motta — afirma um auxiliar do Planalto.

No início do ano passado, Cunha venceu a disputa com o governo pela presidência da Câmara, o que resultou no aprofundamento da crise política, com consequências na economia, já que o peemedebista se dedicou a armar as chamadas “pautas-bomba”, obrigando o Planalto a concentrar esforços em desarmá-las. No fim do ano, Cunha realizou o que o governo mais temia: aceitou um pedido de impeachment contra a presidente Dilma. Agora, enfraquecido pelas denúncias de corrupção no esquema de desvios na Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato, Cunha tenta novamente derrotar o governo, desta vez usando o deputado de apenas 26 anos, de quem se aproximou no ano passado.

Foi neste contexto que Dilma abriu uma interlocução direta com Picciani em meados de 2015 e, agora, abraçou sua candidatura — que também é patrocinada pela cúpula do PMDB carioca — como forma de fazer um contraponto ao oposicionismo de Cunha. Para interlocutores de Dilma, o que o governo mais busca neste momento é estabilidade no Congresso para ter chances de prosperar na recuperação econômica, o que não será alcançado caso o grupo de Cunha saia vitorioso hoje.

— Ao governo interessa tudo, menos instabilidade no Congresso. Não só por temas específicos, como o impeachment e a CPMF, mas para que seja possível retomar a previsibilidade e a confiança no país. Embora Hugo Motta tenha lançado algumas pontes de diálogo com o governo, a influência de Cunha sobre ele é clara — afirma um auxiliar da presidente.

Apesar de Picciani ter dado sinais a Cunha de que não haverá perseguição caso se mantenha na liderança, o presidente da Câmara teme que seu destino se complique com a derrota, que passaria a impressão de esvaziamento de seu poder entre os deputados do PMDB. Cunha enfrenta processo de cassação do mandato no Conselho de Ética e denúncia ao Supremo Tribunal Federal, que pode torná-lo réu em breve. Por esse motivo, em seus pedidos de voto, o presidente da Câmara tem dado o tom de se tratar de uma disputa de vida ou morte. Se por um lado a estratégia garante alguns votos de indecisos, por outro, a pressão aumenta a possibilidade de traições por parte de apoiadores dos dois lados.

A eleição promete ser disputada voto a voto. Ontem, os candidatos e seus principais cabos eleitorais montaram uma força-tarefa: revisaram suas listas de apoio, se reuniram com parlamentares, telefonaram para uns, almoçaram com outros e comentavam com frequência sobre a suposta lista de apoios do adversário. O grupo que apoia Hugo Motta orientou os deputados a pedirem votos para parlamentares com quem têm mais afinidade pessoal.

— Quem falar que tem uma margem folgada está mentindo, vai ser voto a voto. Não tem nada folgado, mas trabalhamos para ter alguma margem para compensar possíveis mudanças — disse o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), aliado de Motta.

'Minha vitória é positiva para o governo’

Para Leonardo Picciani , deputado do Rio e candidato à releição, governo e bancada sairiam vencedores.

O que sua vitória representa para o governo?

A possibilidade de interlocução, que a bancada dê suas opiniões e ouça as do governo para encontrar o consenso. Não diria que é uma vitória do governo, porque é uma decisão do partido. Mas acho que é positivo para o governo, na medida em que manteremos abertos os canais de interlocução, e para a bancada, que vai ter sua opinião considerada nos debates dos principais temas do país.

E para Eduardo Cunha, que trabalha para derrotá-lo?

Não faço uma análise do que representaria uma derrota dele. Não partiu de mim a busca desse antagonismo. Eu defendo as prerrogativas do presidente da Câmara, não faço nenhum prejulgamento em relação a ele e acho que ele deve ter todas as garantias que a lei concede a qualquer cidadão. Não adoto nunca atitude revanchista, portanto, não espere de mim nenhum movimento de retaliação.

Como tratará o tema do impeachment?

Eu sou contrário ao impeachment porque não houve e crime de responsabilidade por parte da presidente. Mas a posição será definida pela bancada. Hoje há divisão sobre esse tema. Vamos contemplar na comissão especial todas as correntes do partido.

E na votação da CPMF?

Da mesma forma, vamos discutir o tema. É importante entender que há uma crise fiscal que precisa ter algum remédio. Se não for a CPMF, devemos propor qual será. Minha posição é favorável à CPMF.

‘Eduardo Cunha é apenas um eleitor’

Apoiado pelo presidente da Câmara, o deputado da Paraíba Hugo Motta diz que não será líder do governo

Se o senhor for eleito, como fica a relação com o governo?

Desde o início da campanha colocamos que seria uma relação de diálogo permanente com o governo, mas não decidiremos nada sobre qualquer matéria sem consultar a bancada. Não será uma relação governista. O líder da bancada é líder do PMDB, não do governo.

Caso o senhor seja eleito, Eduardo Cunha será o grande vencedor?

Eduardo Cunha não é candidato na disputa, é apenas um eleitor. Nossa vitória representa não o fortalecimento do Eduardo Cunha, mas a possibilidade de o PMDB voltar a estar unido na Câmara.

O senhor vai apoiar a volta da CPMF?

Iremos discutir com a bancada, obedecer àquilo que a maioria definir. O que não estamos convencidos é que a CPMF é o modelo a ser seguido nesse momento de dificuldade econômica. O governo precisa convencer não só a bancada, mas o Parlamento, que não dá sinais de querer aprovar mais um imposto.

E como tratará o tema impeachment?

Já me posicionei pessoalmente contra o impeachment, mas a partir do momento que sou líder, tenho que respeitar aquilo que a bancada do PMDB é, uma bancada eclética. Sendo eleito líder, como a bancada está divida, vou indicar para a comissão especial do impeachment quatro membros a favor e quatro membros contrários ao afastamento.



5 comentários

  • Cristiano Ferreira

    É impressionante ver como nossos parlamentares estão preocupados com os problemas do país, um exemplo é o Ministro da Saúde... Lixo.

  • Victória Maria

    Essa GENTE estão zombando do povo e, ninguém, ninguém toma providências. BRASIL SENDO GOVERNADO POR LADRÕES! E O POVO NÃO SE MOBILIZA. NADA DESTE GOVERNO PxTista PRESTA! quase 14 anos de sofrência, pessoas morrendo por descaso com à saúde, outras senso assassinadas por descaso com a segurança pública, quanto à educação nem se fala, eles só querem PREGAR sua ideologia barata. Alguém que se DIZ PresidentA  usa tratativa de PresidentO para um sinhozinho destruidor da Pátria. É VERGONHOSO!

  • Lula Lá No Xilindró

    Cunha é o homem-bomba que pode salvar o Brasil. Uma vez cumprida a sua missão, ele "morre" junto com o clePToreich... ; )

  • Leonardo Ferreira Barbosa

    Mesmo com a suposta teimosia do Cunha,sou a favor q/ ele continue.Não podemos mais ficar a mercê deste desgoverno que está arruinando tudo e todos.O país está falido e mesmo assim este desgoverno não se manca. FORA PT.

  • Junior Abrantes

    Não queria dizer isso, até pq gostaria de ver o Cunha atras das grades. Mas o Brasil só não está mais na merd@ graças a ele. Não vejo a hora da Oligarquia Picciani dominar a Camara e junto com Renan e Governo fazerem gato e sapato do que ainda resta disso aqui. Vão criar CPMF, aumentar impostos, vao falir com tudo, rumo a Venezuela total. #ficaCunha #ficaAteADilmaCairPeloAmorDeDeus