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Novas ondas embalam a altíssima temporada de verão em Búzios

Cidade litorânea se reinventa e recebe a estação mais movimentada do ano com atrações além da Rua das Pedras
Pôr do sol no Porto da Barra, vizinho da colônia de pescadores em Búzios Foto: Foto de Fabio Rossi/Divulgação
Pôr do sol no Porto da Barra, vizinho da colônia de pescadores em Búzios Foto: Foto de Fabio Rossi/Divulgação

BÚZIOS — É para mergulhar de cabeça, com muito protetor solar e sem medo de ser feliz: acredite, Búzios nunca esteve tão bem provida de atrações e programas gostosos para desfrutar como nesse verão de 2015.

Estamos na altíssima temporada do balneário, com transatlânticos (cada vez maiores) atracando e desembarcando turistas ávidos por desfrutar dessa cidade e sua paisagem lindíssima. Mas há sempre um lugar ao sol, basta se organizar. Durante a semana — e falo com conhecimento de causa e efeito — o movimento cai consideravelmente e aí, sim, é doce o balanço a caminho do mar. Especialmente em direção a praias menos badaladas, como a bela Praia do Forno, que não por acaso ganhou a capa dessa edição: uma pequena enseada de águas translúcidas, com grutas e piscinas naturais sob medida para mergulho, snorkel ou um simples dolce far niente . Só uma curiosidade: apesar do nome, a água é geladinha, viu? Há outras praias encantadoras (são 23 ao todo), como Caravelas, Tucuns, Lagoinha, da Foca, Olho de Boi, da Gorda...

Mas a estrela maior do verão buziano é a gastronomia, até recentemente sem qualquer tradição ou atração. Já se comeu muito mal por ali, mas, felizmente, isso agora são águas passadas. Hoje há bons restaurantes em pontos variados da cidade, aliviando a barra (e tirando o foco) da frenética Rua das Pedras.

Alguns são frutos de investimentos sólidos, como o protagonizado pelo casal francês Paul e Françoise Lindemann, do Le Relais La Borie, em Geribá, que há três anos teve a ideia de convidar chefs franceses estrelados para cozinhar no festival Pantagruel, onde criam pratos usando apenas matérias-primas locais. E ainda repassam seus conhecimentos para os cozinheiros da região. Da edição passada do festival, alguns pratos foram parar no cardápio do restaurante Chez Françoise, instalado na pousada, aberto a todos, qualquer dia, qualquer hora.

O Porto da Barra, vizinho à Colônia dos Pescadores de Manguinhos, é outro bom exemplo da renovação por ali: uma empreitada de fôlego em 14 mil metros quadrados à beira-mar, só com atrações de qualidade. Bons restaurantes, bares, lojas, galerias de arte e um pôr do sol de cinema. Tudo junto, misturado e de cara para o mar. E quem acabou de aportar na área foi Cheff Santos, um mestre nos sabores lusos, no comando da A Tasca. Uma adesão de peso e valor.

NO CENTRO, BONS CHEFS, TAPIOCA DO XINGU, ARTE E COMPRAS

O Místico tem bela vista e comida única no Alto do Humaitá Foto: Foto de Fabio Rossi / Agência O Globo
O Místico tem bela vista e comida única no Alto do Humaitá Foto: Foto de Fabio Rossi / Agência O Globo

De cinema. Não tem visual mais bonito em Búzios do que o do Café Atlântico, restaurante do hotel butique Casas Brancas, que conta com um deque projetado para a Baía da Armação. Reforçando o climão, tem o décor cheio de bossas da argentina Amália de la Maria (mais de 20 anos de Armação), dona do lugar que anualmente integra a lista top da editora americana Condé Nast, e esse ano entrou também no rol das melhores hospedagens do mundo no ranking do American Express. Para o verão, o Atlântico passou por retoques e ganhou um novo chef, Emilio Galarza (e quem adivinhar a procedência do moço ganha um alfajor).

Sua aposta são os pescados frescos, que chegam cedo. Faz ceviche com o peixe do dia com kiwi marinado no leite de coco, milho torrado e suco de limão, coroado com um sorbet de pimenta, ou o pescado do dia com chalotas confitadas e purê de manjericão (R$ 80). O atum chega levemente selado, servido com couscous marroquino e tâmaras. Para harmonizar, uma equilibrada carta de vinhos que tem tudo a ver com... tudo. Imagine um branco alsaciano geladinho para acompanhar. O grand finale ? Fui de tartelette de limão com castanha-do-pará e pesto doce, uma maravilha. Depois de tudo e de todas, é curtir o visual que se tem dali. Ou marcar uma das muitas massagens do spa: o ponto alto é a jacuzzi com seis metros quadrados, voltada para o mar. É o endereço top do top, cada vez mais. (Café Atlântico: Casas Brancas Boutique Hotel & Spa. Alto do Humaitá 10, Orla Bardot. Tel. 22-2623-1458).

É mágico. O nome da pousada é Abracadabra e não por acaso: parece mesmo mágico o que se vê dali. Vizinha do Casas Brancas, recebe com uma vista não muito diferente. E no seu restaurante, o Místico, com uma cozinha igualmente de qualidade. Quem comanda ali é Rodo Lazlo (dessa vez, vale um doce de leite para quem cravar a nacionalidade do chef). O final de tarde é espetacular. O restaurante tem um terraço acima de tudo e de todos, que nos faz sentir em um transatlântico em porto seguro. É só conferir a foto na página ao lado: o salão envidraçado (e refrigerado), mesas ao ar livre e, repare só, o terraço que nos leva aos céus. Tem espreguiçadeiras gostosas, ombrelones para proteger do sol e um bom serviço de bar, com drinques, digestivos, cafés, sucos... É para cantar “Gracias a la vida”.

Almocei um polvo adorável, que traz o nome do restaurante, grelhado (e macio) acompanhado de aspargos, cebolinha, batatas calabresas e tomate cereja (R$ 69), enquanto meu parceiro foi de lagosta Armação: grelhada na manteiga de tomilho e limão, legumes no vapor, batatas soufflées e uma delicada emulsão de nirá. O chef Lazlo assina ainda um menu degustação com entrada, prato principal e sobremesa, que costuma ser estrelar. Depois. subimos para o terraço e tomamos um café com digestivo. Tudo sem pressa, testemunhando o passo a passo do sol mergulhando na baia de Búzios, com o mar prateado. No dia seguinte, a cena se repetiu igualmente linda... (Místico: Alto do Humaitá 13, Orla Bardot. Tel. 22-2623-1217).

Garota dos Ossos. De longe, parece uma transeunte de chapéu e shortinho, como tantas que passam por ali para desfrutar dos prazeres da Praia dos Ossos (quanto mais cedinho for, melhor será). Mas, na realidade, é a mais nova escultura de Christina Motta, a mesma artista que assina a famosa Brigitte Bardot, de malinha em punho, da Orla Bardot. O trabalho serve de chamariz para o novo Antiquário dos Ossos, que o colecionador de arte carioca José Newton Cunha abriu esse ano na Praça dos Ossos, pertinho do mar. É um simpático e espaçoso casarão de esquina, recheado de peças bonitas. A praia ali é outra, mas é divertido explorar o lugar, desfrutar do que está exposto (se der para comprar, melhor), telas, luminárias, cristais, louças... No último leilão teve tela de Guignard e obras de Burle Marx, coisa finíssima. Uma bossa a mais para se curtir na alta estação. (Antiquário dos Ossos: Rua Cassiano Rodrigues 45, Praça dos Ossos).

A tapioca do Aondê é feita com farinha brava do Xingu Foto: Foto de Fabio Rossi / Agência O Globo
A tapioca do Aondê é feita com farinha brava do Xingu Foto: Foto de Fabio Rossi / Agência O Globo

O Xingu é aqui. Vale a parada. E a entrada. Instalada perto da Praça dos Ossos, a lojinha de artesanato indígena da paulista Lizane Alves, além de cestarias incríveis, redes de palha, cocares, colares e tecidos lindos expostos (e à venda), tem a melhor tapioca que já comi na vida. Lizane traz tudo do Xingu, para onde vai pelo menos duas vezes ao ano. É farinha de mandioca brava, grossa, espetacular, de sabor, textura e coloração totalmente diferentes. É para saborear em uma das mesas do lado de fora. Ou no balcão de uma espécie de bar, de onde se vê a pequena cozinha e a confecção dos ingredientes que recheiam a tapioca. Provei a de tomate, cebola e queijo, e comeria outra nesse instante, se possível fosse. O sorvete é o típico paraense, o Cairu, isso fora o bom açaí do Pará e as caipirinhas feitas com frutas regionais, como bacuri e o cajá. Na hora de adoçar, Lizane usa mel de abelhas selvagens trazido da aldeia de Mehinako, Xingu. Conhece outra casa igual? (Aondê Arte Indígena: Rua José Bento Ribeiro Dantas 1.262. Tel. 22-2623-6704. Diariamente, das 11h às 23h).

Beleza pura. Não dá para esnobar a Rua das Pedras que, afinal, tem comércio bom (e preguiçoso, que só abre lá pelas 11h). A Âmbar é a minha perdição, sempre volto com a mala recheada. É do catarinense Luiz Randon, um filósofo que se instalou em Búzios há 15 anos. E abriu a Âmbar, misto de decoração e presentes bacanas, garimpo certeiro das muitas viagens que ele fez mundo afora, sobretudo pela Ásia. Nos dois andares você encontra peças de cama, mesa e banho, cestaria vietnamita, tapetes kilim indianos, luminárias filipinas, cerâmicas chinesas e italianas (da Sicília e da Toscana), estatuetas africanas, tecidos e quimonos da Índia e muitos objetos de design. Sérgio Rodrigues, Carlos Motta e Estúdio Manus assinam alguns deles. Há bonitos trabalhos do artesanato brasileiro e de artesãos locais, como peças de madeira de Pedro Petry, bolsas de lona de caminhão reciclada de Ivone Rigobello, cestaria mineira feita com palha de milho, joias de prata e penas da paulista Beth Tokitaka e gravuras de Armando Mattos. Bato sempre ponto lá. E não me decepciono nunca. (Âmbar: Rua das Pedras 116, Centro. Tel. 22-2623-4298. Diariamente, das 11h à meia-noite).

BRAVA E FERRADURA TÊM FAROFA ESTRELADA E MENU FRANCÊS

Búzios exibe seu litoral invejável em enseadas como a da Praia Brava Foto: Foto de Fabio Rossi / Agência O Globo
Búzios exibe seu litoral invejável em enseadas como a da Praia Brava Foto: Foto de Fabio Rossi / Agência O Globo

Ibiza? Esquece. A praia é a Brava, linda, que, como se não bastasse tanta beleza natural, abriga uma infraestrutura gastronômica fantástica, à beira-mar, onde se come na areia, no mais fino esquema “farofeiro cinco estrelas”. O Rocka não é novo, mas os donos do lugar (que começou descompromissadamente e acabou virando um dos pontos mais badalados do balneário), o argentino e chef Gustavo Rinkevich e Santiago Bebianno, colocaram a cozinha no chão e montaram uma nova completíssima, com instalações de restaurante grande. Detalhe: praticamente na areia e voltada para o mar. A área do salão continua a mesma (como deve ser, claro), rústica, como uma cabana de praia, em madeira. Mas basta entrar na cozinha para se surpreender. É de profissional.

Com isso, o chef Rinkevich está servindo maravilhas, que vão de peixes, carnes e verduras defumadas a sorvetes da casa, passando pelo ovo de baixa temperatura, os ceviches perfeitos, os lagostins (R$ 42) lindamente apresentados (confira a foto), carpaccio de polvo com aioli e vinagrete de aipo e maçã. Os vinhos são bons, os drinques idem e há muitas borbulhas, naturalmente. Domingo tem paella, programa para fim de dia. O Rocka dispõe de enormes camas pela grama e a areia para a clientela se estatelar. Tudo de frente para o mar, um dos mais bonitos da região. Há providenciais ombrelones laranjas, cor inconfundível da Veuve Clicquot. E os funcionários vestem Osklen. Alguém ainda pensa em Ibiza? A Brava com o Rocka é a nossa praia. (Rocka: Praia Brava 13).

Day use. Outro endereço top de Búzios, dessa vez com vista para a Praia da Ferradura, o Insólito tem visual de tirar o fôlego a qualquer hora do dia e da noite. Tem até uma linda praia (micra, é verdade) particular. Nos fins de semana, tem parrillada na areia, sob a batuta de um chef (adivinha?) argentino, que faz grelhados adoráveis como manda o figurino hermano . Com projeto sinuoso, a cada angulo do Insólito somos brindados por uma vista que é um presente. Peças de design pelos ambientes, quartos sempre diferentes uns dos outros, piscinas. E precisa com aquele marzão? Mas, enfim, o Insólito não tem apenas uma e sim três piscinas, uma delas recém-reformada para o verão e outra de água salgada. Não tem nada melhor do que ficar ali no cair da noite. Para a alta temporada, novidades são as Tapas Insólito, evento que acontece toda sexta-feira, no restaurante A Galeria, com show de MPB e bossa nova. E toda a sorte de tiraditos para acompanhar.

Outra boa nova é o sistema de day use : você paga R$ 350 por pessoa e tem direito a usar as piscinas, a sauna e o ofurô, além de ficar no bar e na prainha à beira do hotel. A gastronomia dali é boa, nas mãos do chef francês (viva!) David Jobert, que faz um fricassé de mexilhão com lagosta de Trancoso que é para lembrar para o resto da vida. Do lounge quem cuida é o chef Cesar Sidraschi, 100% brasileiro. (Insólito: Condomínio Atlântico, Rua E 1 lotes 3 e 4 , Praia da Ferradura. Tel. 22-2623-2172).

DELÍCIAS DO PORTO DA BARRA E MESA PORTUGUESA EM MANGUINHOS

Píer do Porto da Barra, lojas e restaurantes em localização cinematografica Foto: Foto de Fabio Rossi / Divulgação
Píer do Porto da Barra, lojas e restaurantes em localização cinematografica Foto: Foto de Fabio Rossi / Divulgação

Tudo junto e misturado. O Porto da Barra é dos mais bem sucedidos empreendimentos de Búzios, um terreno de 14 mil metros quadrados à beira-mar, ao lado da Colônia dos Pescadores de Manguinhos (tem mangue com caranguejo, peixe e camarão). O projeto é do arquiteto Octávio Raja Gabaglia, que imprimiu o estilo arquitetônico buziano desde o começo, com direito a um píer lindo, de localização cinematográfica. Para assistir ao pôr do sol, não tem lugar melhor. Mas se quiser ver de camarote, puxe uma cadeirinha no Donna Jô e peça uma porção de pastéis de frutos do mar: o dia estará ganho. No Porto tem lojas, ateliês, espaço cultural, bares e restaurantes variados, tudo em área arborizada, Mas (e há sempre um “mas” a administrar, fazer o quê?), como tem muito verde, melhor se munir de repelente contra a mosquitada. O ventinho ajuda bastante (é ponto de windsurfe) e a maioria dos lugares dispõe de áreas fechadas e refrigerados. Daí, xô mosquito!

Tombucu é uma loja bacana de peças africanas (tapetes, estatuetas, móveis, bijuterias). Sergio Soares é um artista que desenvolve um trabalho genuinamente local, feito a partir de madeira de embarcações antigas. Dê um pulo ainda no Studio Grabowsky, filial do espaço do Leblon. Na Sala Búzios, há sempre pequenas mostras em cartaz. No quesito comida, tem de tudo: Bar do Mangue, Juanito, a Donna Jô... (Porto da Barra: Av. José Bento Ribeiro Dantas 2.900. Manguinhos).

Da Terrinha, pá. Cheff Santos (sempre com dois “f”), acaba de chegar ao Porto da Barra. Santos fez a boa fama da gastronomia da Serra com o seu Arjamolho, restaurante de cozinha portuguesa que comandou durante anos, em Itaipava. Há menos de dois anos, chegou a ter três bons restaurantes de uma vez, todos no Polo da Praça XV. O Casual servia um dos melhores cozidos da cidade. Pois bem, mestre Santos, na saideira de 2014, arrumou as malas e baixou na Região dos Lagos. Levou junto suas caçarolas, as panelas de açorda e todas as melhores receitas da Terrinha, como os imbatíveis pastéis de nata, todo tipo de bacalhau (não tem bolinho melhor), leitões e que tais. A Tasca é a novidade mais recente do Porto da Barra. Vizinho dali, em breve, o mesmo Santos abrirá uma loja só com produtos portugueses. Imperdível. (A Tasca: Av. José Ribeiro Dantas 2.900, Porto da Barra. De terça-feira a domingo, a partir das 12h. Tel. (22) 2623-0599).

Os franceses. Les Pantagruels é um evento genial e fundamental. Há cinco anos consecutivos, o casal francês Paul e Françoise Lindemann, à frente do simpático hotel Le Relais La Borie, em Geribá, comanda o Les Pantagruels, um festival de gastronomia que reúne grandes nomes da cozinha francesa (muitos deles ganhadores de estrelas Michelin ou do “toque” do Gault Millau). Durante dois fins de semana, um grupo estrelar de franceses cria pratos a partir de ingredientes adquiridos nos marchés buzianos. Não é bom? Mas o melhor de tudo é que, a cada edição, o Chez Françoise, o simpático restaurante da pousada, acaba “herdando” pratos assinados pelos seus ilustres convidados.

Esse ano, o menu “engordou” bonito, com o belo ravióli aberto de camarão com manga do chef Marc Meurin, duas estrelas Michelin com o seu Château de Beaulieu, um Relais & Châteaux montado num castelo do século XVIII, na cidade de Busnes, na fronteira da Bélgica (a 180 km de Bruxelas). E com a releitura de uma cheesecake genial, obra do chef pâtissier Philippe Brye, da velha guarda dos franceses que aportou no Rio (como Claude Troisgros) e acabou ficando, ficando.

Além do Chez Françoise, o La Borie é uma pousada que tem outros atrativos. Como a praia de Geribá “logo ali”, uma adorável piscina com “ilha” ao centro e a simpatia do casal, os anfitriões, sempre de prontidão. Ah, e a adega do La Borie, com rótulos garimpados pessoalmente por Paul, é das melhores que temos por Búzios. (Les Relais La Borie: Rua dos Gravatás 1.374, Praia de Geribá. Tel. (22) 2620-8504).