28/11/2015 19h05 - Atualizado em 28/11/2015 19h05

Advogado deixa defesa de Edson Ribeiro após ser citado em gravação

Ribeiro, que defendia Cerveró, é suspeito de tentar manipular delação.
Segundo PGR, ele atuava em conjunto com senador Delcídio do Amaral.

*Mariana OliveiraDa TV Globo, em Brasília

O advogado Bruno Espiñeira deixou neste sábado (28) a defesa de Edson Ribeiro, preso na Operação Lava Jato por suspeitas de tentar manipular a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para favorecer o senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Edson Ribeiro era advogado de Cerveró, mas, segundo a Procuradoria Geral da República, atuava para excluir da colaboração o nome do parlamentar e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.

Em uma carta de renúncia entregue ao cliente, à qual a TV Globo obteve acesso, Bruno Espiñeira explica o motivo: ele próprio teve o nome citado na gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, de uma conversa com Delcídio, o chefe de gabinete dele, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro. Os quatro foram presos nesta semana por tentativa de atrapalhar as investigações e devem ser denunciados nos próximos dias.

 

Na conversa gravada e usada para determinar as prisões, Edson e Delcídio citam os nomes de diversos advogados que atuam na Lava Jato e discutem com quem mais devem conversar. Edson, então, diz: "Hoje eu estou aqui com uma pessoa que é melhor ainda. Candidato à Presidência da Ordem (OAB) daqui, é o Bruno Espiñeira, que é procurador da Bahia. Está com o Jacques (Wagner) direto."

Na carta, Bruno Espiñeira diz lamentar a situação enfrentada por Edson Ribeiro, mas afirma ter ouvido a gravação "com cuidado" e constatar uma "característica fanfarrona" de mencionar nomes para "demonstração de prestígio".

"Ouvindo agora com cuidado toda a gravação realizada pelo filho do seu ex-cliente constatei que essa característica fanfarrona agora lhe custa muito caro. Afinal, mesmo como estratégia de defesa, como você afirma, e eu acredito, qual a necessidade de mencionar tantos nomes como demonstração de prestígio e como se alguma vez você tivesse efetivamente se beneficiado disso, e sabes bem que nunca ocorreu, inclusive o meu nome, se referindo a um cargo que ocupo e do qual muito me orgulho e no qual sempre me conduzi de modo ético, por quase duas décadas de exercício, quando jamais confundi o público com o privado?", afirma na carta de renúncia.

Segundo Bruno Espiñeira, a saída do caso é necessária para que o nome dele seja preservado. Mas o advogado acrescenta que Edson Ribeiro sofre "duro golpe" por ter sido preso sem que antes pudesse dar explicações.

"Embora tenha visto em suas palavras grande dose pueril de bazófia, jamais poderia deixar pairar qualquer confusão entre o meu mister público e o privado. Minha tristeza agora, vai além, meu amigo (e não será neste momento em que quase todos te viram as costas que o farei, preciso apenas preservar as instituições e o meu único patrimônio, meu nome), não apenas por ter que deixar sua defesa nesse momento em que tantos duros golpes são aplicados a você e ao Estado de Direito."

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA DE RENÚNCIA:

"Carta de renúncia dirigida ao amigo Edson Ribeiro,

Edson, lamento do fundo do meu coração que você esteja passando por tudo isso.

Sei que sua bela história de advocacia criminal não merecia findar desse modo e espero que isso ao final não ocorra, mesmo diante de toda essa intensidade hiperbólica de ódio que atualmente assola o nosso país.

Quando o querido amigo-irmão Felipe Caldeira nos apresentou tive a melhor impressão a seu respeito, mas, desde logo, já notava uma característica que um dia poderia prejudicá-lo.

Eis que o meu instinto, infelizmente, não falhou e por tal razão neste momento renuncio à sua Defesa.

Ouvindo agora com cuidado toda a gravação realizada pelo filho do seu ex-cliente constatei que essa característica fanfarrona agora lhe custa muito caro. Afinal, mesmo como estratégia de defesa, como você afirma, e eu acredito, qual a necessidade de mencionar tantos nomes como demonstração de prestígio e como se alguma vez você tivesse efetivamente se beneficiado disso, e sabes bem que nunca ocorreu, inclusive o meu nome, se referindo a um cargo que ocupo e do qual muito me orgulho e no qual sempre me conduzi de modo ético, por quase duas décadas de exercício, quando jamais confundi o público com o privado?

Conheço muitas autoridades nas diversas esferas de Poder? Sim. Contudo, com todas elas sempre me guiei sob o signo republicano, repito, sem jamais confundir papéis, funções, amizades ou mero conhecimento profissional, sempre distinguindo o público do privado e jamais utilizando-me dos seus nomes em meu benefício, mesmo que fosse em tom de bravata.

Sei que à vontade, sem saber que estão gravando a conversa de quem quer que seja, até mesmo o Papa Francisco deve dizer inconfidências e até mesmo algum teor impublicável, mas à mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta. Embora tenha visto em suas palavras grande dose pueril de bazófia, jamais poderia deixar pairar qualquer confusão entre o meu mister público e o privado.

Minha tristeza agora, vai além, meu amigo (e não será neste momento em que quase todos te viram as costas que o farei, preciso apenas preservar as instituições e o meu único patrimônio, meu nome), não apenas por ter que deixar sua defesa nesse momento em que tantos duros golpes são aplicados a você e ao Estado de Direito. Oportunamente, por certo, se esta missiva não lhe for por mim entregue pessoalmente, uma hora dessas irei ao Rio dar-lhe um abraço solidário.

Agradeço-lhe pela escolha, em se tratando você de um grande criminalista, carregarei isso para sempre como um atestado inequívoco de respeito profissional. Ainda que pouco, fiz até aqui sua defesa, como você bem sabe, com todo o denodo ao lado do meu querido sócio Victor Minervino Quintiere, sem recebermos um centavo e por amor à advocacia criminal e às garantias constitucionais, e mais uma vez, lamento o linchamento sem contraditório pelo qual você vem passando.

Rogo a Deus que dê conforto espiritual, neste momento, a você e à sua família.

Um abraço fraterno,

Brasília, 28 de novembro de 2015

Bruno Espiñeira Lemos

OAB/DF 17.918"

veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de