Economia

Brasil aparece em ‘atoleiro’ na capa da edição da ‘Economist’ para a América Latina

Para revista, o país enfrenta seu maior desafio desde a década de 1990

RIO - Mais uma vez o Brasil será capa da britânica "The Economist", desta vez da edição da revista para a América Latina. Se a primeira delas foi positiva e trazia o Cristo Redentor "decolando" do Corcovado, a segunda mostrava o monumento em um voo "desordenado". Agora, a edição que chegará às bancas da América Latina trará outra representação negativa do país. Uma passista de escola de samba usando uma fantasia com as cores da bandeira brasileira aparece em um "atoleiro" (ou pântano) quase toda coberta por uma espécie de lodo verde.

A reportagem diz que, durante a campanha pela reeleição, a presidente Dilma Rousseff "pintou" um Brasil bem melhor do que o da realidade, condições ameaçadas apenas pelos "planos neoliberais de seus opositores". O texto afirma ainda que, passados dois meses do novo mandato, os brasileiros começam a notar que acreditaram em palavras "falsas".

Para a revista, a economia do Brasil está uma "bagunça", e os problemas seriam bem maiores do que o governo admite ou do que os investidores parecem notar. E a estagnação em que o país caiu estaria se transformando em recessão "provavelmente prolongada", com a inflação alta comprometendo a renda dos trabalhadores.

A publicação também ressalta que o investimento no país está 8% menor do que um ano atrás e pode continuar caindo. E que a corrupção na Petrobras envolveu muitas das maiores empreiteiras brasileiras e paralisou os gastos em algumas áreas, até que investigações e audições sejam concluídas. A desvalorização do real frente ao dólar, apontada como necessária, agrava a situação da dívida externa de empresas brasileiras com vencimento este ano.

Contornar estes problemas, diz a reportagem "seria difícil mesmo com liderança política forte". Mas a publicação faz uma ressalva: "A senhora Rousseff, porém, é fraca", afirma, lembrando a pequena margem pela qual a presidente foi reeleita e que sua base política está ruindo. Ainda sobre Dilma, o texto aponta a queda da aprovação do governo constatada por pesquisa do Datafolha divulgada este mês . A queda seria uma das consequências do escândalo de corrupção na Petrobras e da piora da economia.

Para que o Brasil consiga benefícios do segundo mandato de Dilma, "ela precisa levar o país em uma direção inteiramente nova", indica a revista que lista alguns dos pontos negativos do governo, como o aumento do déficit fiscal. Por outro lado, o texto elogia Dilma por ter reconhecido que o Brasil precisa adotar políticas que sejam mais favoráveis aos negócios, de forma que o país volte a crescer e mantenha o grau de investimento.

‘FINANCIAL TIMES’ LISTA ‘AMEAÇAS’ AO GOVERNO DILMA

E, para a “Economist”, o ministro da Fazenda Joaquim Levy personifica esse posicionamento, é “um dos raros liberais econômicos do país” e, no momento, é “indispensável”.

Ainda conforme a reportagem, o país enfrenta seu maior desafio desde a década de 1990, e “o risco é claro”: o Brasil pode perder grau de investimento. Comparado ao caso da Rússia, o Brasil não está em uma bagunça tão grande quanto à do país de Putin, ressalva a revista, que conclui que a hora de acertar as coisas é agora.

A capa do site do “Financial Times” trazia, na manhã desta quinta-feira, uma chamada para uma matéria de um dos blogs do jornal americano. Nela, são listados dez itens que ameaçam “derrubar” a presidente. Entre os motivos estão os problemas políticos, como os desentendimentos internos no PT e a redução da presença do partido no Congresso.

Os escândalos de corrupção da Petrobras, cuja nota de crédito foi rebaixada ao grau especulativo pela agência de risco Moody's, o enfraquecimento da confiança do consumidor e dos investidores, além da inflação em alta são outros pontos da listagem. Completam a relação o desemprego, o déficit primário de 2014, a economia em desaceleração e as crises hídrica e elétrica.