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Artigo: O Rio amanheceu cantando...

‘Vamos, carioca, sai do teu sono devagar. O dia já vem vindo aí e o sol já vai raiar’

A Praia de Copacabana nas primeiras horas do dia: manhãs prateadas
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A Praia de Copacabana nas primeiras horas do dia: manhãs prateadas Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Cada paralelepípedo da cidade vai se arrepiar. Vem fazer história que hoje é dia de glória neste lugar.

O Rio amanheceu cantando... Meu Deus, vem olhar! Vem ver de perto uma cidade a cantar até o dia clarear. O Rio de Janeiro continua lindo. Abençoado por Deus e bonito por natureza.

Rio das manhãs prateadas, das morenas queimadas ao brilho do sol, tens a ardência de um beijo em cada arrebol.

Rio dos sambas e batucadas, dos malandros e mulatas tão bonitos, tão bacanas, tão sacanas, tão dourados.

Alô, moça da favela com suas pernas torneadas pelas ladeiras do morro, aquele abraço!

Menino vadio, coração de eterno flerte, eu canto pra Deus proteger-te.

Moça do corpo dourado que vem e que passa a caminho do mar. Ela é carioca, basta o jeitinho dela andar. Ela tem um passinho que vai e que vem. Ela vem, sempre tem esse mar no olhar. Ela tem tanta coisa que não sabe o que tem.

Solteiro no Rio de Janeiro, arranjei novo amor no Leblon, uma louraça satanás gostosona e provocante. Kátia Flávia, a godiva do Irajá, que atende pelo pseudônimo de Mariposa Apaixonada de Guadalupe. Garota carioca suingue sangue bom!

O Rio é uma cidade de cidades misturadas. A cidade é maravilhosa, mas se liga, mermão! Civilização, encruzilhada, cada ribanceira é uma nação. Com ladrão, lavadeiras, honra, tradição, fronteiras, munição pesada. A cidade que tem braços abertos num cartão-postal tem os punhos fechados na vida real. Essa onda de assaltos tá um horror. Turistas ingleses assaltados em Copacabana. Turistas espanhóis presos no Aterro do Flamengo por engano.

Rio 40 graus, cidade maravilha purgatório da beleza e do caos. Situações acontecem sob um calor inominável. Beleza convive lado a lado com um dia a dia miserável.

Mesmo assim, eu sou Zerovinteum. Não troco por lugar algum. Já disse: esse é o meu lugar. Cercado de luta e suor, esperança num mundo melhor e cerveja pra comemorar. O meu lugar é bem perto de Oswaldo Cruz, Cascadura, Vaz Lobo e Irajá. Lá tem samba até de manhã. Império e Portela também são de lá! Lá não tem brisa, não tem frescura nem atrevimento. Lá no avesso da montanha.

Vai, traz as cabrochas e a roda de samba. Dança teu funk, o rock, teu hip-hop. Desbanca a outra que abusa de ser tão maravilhosa! Fala, Pavuna! Alô, alô, Realengo! Fala, Olaria! Fala, Piedade, casas sem cor, ruas de pó, cidade que é sem vaidade. Fala, Penha! Mais saudade de ti, não há quem tenha!

Tem certos dias quando eu passo no subúrbio, eu muito bem, vindo de trem de algum lugar, aí me dá uma inveja dessa gente que vai em frente sem nem ter com quem contar!

Estou aqui na plataforma da Estação Primeira. Habitada por gente simples e tão pobre, que só tem o sol que a todos cobre, Mangueira, teu cenário é uma beleza. A lua furando os seus barracões de zinco, salpicava de estrelas nosso chão. E tu pisavas nos astros distraída, sem saber que a ventura desta vida é a cabrocha, o luar e o violão.

São Sebastião, tua cidade tem as curvas desse nobre violão.

Oh! Pai Odé, protege as matas que circundam esse altar, que da maré vazante ou cheia já se ocupa Iemanjá.

Cidade notável, inimitável, maior e mais bela que outra qualquer. Cidade do céu sempre azulado, teu sol é namorado das noites de luar.

Se todas fosse iguais a você, que maravilha viver!

Ei! Rio de Janeiro, hoje eu mando aquele abraçaço!