Um exemplo de investimentos estagnados e em setor bastante sensível vem da guerra cibernética. O assunto ganhou evidência com as revelações da espionagem digital praticada pelo governo americano.
Imagine uma informação originada na Ásia e destinada à Europa. O caminho dela muitas vezes passa pelo Brasil porque as redes de fibra ótica são conectadas em todo o mundo. Esse emaranhado que atravessa os continentes mostra a necessidade de investir em segurança cibernética.
No ano passado, o governo federal tinha um orçamento de R$ 110,9 milhões para o Sistema de Defesa Cibernética, conhecido como CD Ciber. Depois, ele foi revisto para R$ 83 milhões. Mas só executou projetos no valor de R$ 61 milhões porque uma parte dos recursos foi cortada e apenas R$ 34 milhões foram realmente pagos.
A prática de orçar um valor, executar outro e empurrar para frente os pagamentos não é incomum no Brasil, mas revela uma distorção. "Quando esses números são muito diferentes isso é um problema de gestão. Porque os pagamentos ficarem em um terço daquilo que foi inicialmente orçado, ou seja, daquilo que o governo diz que iria gastar e o Congresso aprovou, é um sinal de deficiência", diz o analista da Tendências Consultoria Felipe Salto.
O orçamento deste ano para o projeto é de R$ 90 milhões, mas até agora o governo gastou bem menos. "Esse ano, está se repetindo a mesma coisa. Nós temos R$ 90 milhões no orçamento e só R$ 11 milhões, incluindo os restos a pagar, foram efetivamente pagos”, diz Gil Castello Branco, secretário geral da ONG Contas Abertas.
O Ministério da Defesa reconhece a necessidade de ampliação do orçamento para a área, mas negou que tenha havido pouco investimento no setor. Para o ministério, os recursos aplicados até agora foram relevantes para criar o centro de defesa cibernética. O governo sustenta que até o fim do ano irá usar a verba prevista para o projeto em 2013.
Ainda assim, o valor é muito baixo, segundo Almir Meira Alves, especialista em segurança cibernética. “Comparado com alguns países que são líderes na área de segurança da informação, o Brasil investe muitas vezes menos. Então, eu diria que o que a gente deveria utilizar, que o governo promete como orçamento, ainda é umas dez vezes menos do que deveria ser efetivamente gasto", diz o coordenador de engenharia da Fiap.