Edição do dia 04/08/2015

04/08/2015 13h12 - Atualizado em 04/08/2015 15h07

Samba da Vela reúne amantes do ritmo há 15 anos em São Paulo

Roda de samba acontece às segundas e só acaba quando a vela apaga.
Roda revela jovens compositores e já teve músicas gravadas por sambistas.

Michelle LoretoSão Paulo

Há 15 anos, uma roda mantém acesa a chama do samba, em Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. É o samba da vela, que revela jovens compositores e já teve músicas gravadas por sambistas como Beth Carvalho, que é a madrinha da roda. Toda semana, eles se reúnem em plena segunda-feira à noite, até a chama apagar.

O primeiro samba da vela aconteceu em 17 de julho de 2000. “Chamei os meninos, vamos montar um projeto de samba segunda-feira, dia bom, que não vai virar balada mesmo. O samba vai ser o único protagonista da parada. E nesse 'bate-bola' se perguntou como o samba ia parar por volta de 11 horas. Eu dei opção de um despertador. O Magnu ofereceu uma ampulheta. O Maurílio ofereceu um galo, se o galo não cantar, o samba não parava. Aí o Paquera, o saudoso Paquera, falou: 'vamos botar uma vela'”, conta Chapinha da Vela, fundador do Samba da Vela.

“Eu tô desde o primeiro ano. Hoje na roda do samba da vela, depois do Chapinha, eu sou o mais velho. Depois vieram outros meninos”, conta o músico e compositor William Fialho.

“A gente tem o costume de ir todo o domingo à igreja. Então, eu tenho duas missas semanais, a missa no domingo e a missa do samba segunda-feira na vela”, afirma o músico Guilherme Pechin, de 20 anos, o mais novo da turma.

Quase todo mundo fica sentado e tem o que seria uma bíblia só de samba, um livrinho com as músicas cantadas. “A gente viu que tinha que fazer um caderno, porque começou a chegar muito compositor. Já chegou dia de ter 50 compositores aqui. O caderno salva a gente, porque aí a gente canta exatamente o samba do caderno”, afirma Chapinha.

A cantora Beth Carvalho é a madrinha do local. “Sem a mão da Beth Carvalho, a gente não teria chegado onde chegou. A importância da Beth não é para nós, samba da vela, é para o samba. É uma das pessoas que mais gravou Cartola, Nelson Cavaquinho. Foi a única que gravou um disco só de compositores de São Paulo”, comemora o fundador.

Quem visita a roda, aprova. “Acho que é uma emoção pelo samba, a vibração”, diz Daiane Miranda, arquiteta. “Aqui é um reduto de compositores, de músicas novas”, afirma o produtor musical Alberto Dantas. “Samba mesmo, raiz mesmo, mexe com a gente”, completa a professora Sandra Marinho.

“Teve uma segunda-feira que estava aqui o Flea, baixista da banda Red Hot Chili Peppers. Na Copa do Mundo, em um dia só, tinha pessoas de 21 países”, conta Chapinha.

“O samba ajuda agente a viver. Eu só falto quando acontece algo muito especial, caso contrário, todas as segundas aqui já há 13 anos”, diz a compositora Vó Suzana.

“Eu sou um rapper e sou muito bem aceito. Pra mim é muito gratificante ser valorizado num núcleo de sambista, de compositores do samba, como rapper”, relata Pedrinho da Rima.

“A gente pede ali voluntariamente uma contribuição de R$ 5. A gente tem uma sopa no final. A gente tem os cadernos, a vela é comprada e água, que a gente não usa bebida alcoólica aqui”, explica Chapinha.

E o que fazer pra essa vela não apagar? O fundador do Samba da Vela responde: “O que temos que fazer é continuar fazendo samba, de coração, botar a alma na palma da mão, na ponta da língua, na ponta da caneta. A gente deixando a comunidade alegre, com a nossa música, acho que é sempre um convite pra volta dessas pessoas”.

Confira um clipe feito no Samba da Vela: