Até um dia, Marcelo Min

O fotógrafo Marcelo Min, 47 anos, colaborador da revista GLOBO RURAL  e de várias outras publicações da Editora Globo, será sepultado neste sábado (29/8), no Cemitério do Morumbi, em São Paulo. Marcelo faleceu na quinta-feira (27/8) após sofrer um aneurisma cerebral irreversível.

O fotógrafo era doador declarado de órgãos. Após a confirmação da morte cerebral, a família autorizou a doação de todos os órgãos. 

Marcelo estava andando de patins no Parque Villa Lobos, em São Paulo, quando passou mal. Levado às pressas para o Hospital das Clínicas, foi constatado o aneurisma cerebral. Devido à gravidade do caso, ele não pôde passar por uma cirurgia.

Marcelo deixou esposa, dois filhos - de 6 e 10 anos - e muitos amigos, que eternamente lembrarão dele não somente como o ótimo profissional que sempre foi, mas como um amigo, companheiro, artista, colega e um ser humano, fora de série.

Confira uma galeria de fotografias do Marcelo Min

Leia alguns depoimentos dos repórteres e editores de GLOBO RURAL:

Acabamos de saber que nosso colega fotógrafo Marcelo Min acaba de morrer. Creio que fui o último jornalista a fazer uma grande reportagem com ele. Foi nas montanhas de Cascavel, no oeste paranaense, há apenas quinze dias. Fomos fazer uma reportagem sobre avicultura que é a capa da edição de setembro de GLOBO RURAL .

Conheço Marcelo Min há pelo menos 20 anos, quando estivemos juntos em Esteio, no Rio Grande do Sul, para o jornal Folha de S. Paulo. Cobrimos a Expointer, uma famosa exposição agropecuária de lá.

Agora em Cascavel, ele estava feliz e cheio de planos. Um dia no hotel, enquanto tomávamos uma cerveja, Min brindou comigo por ter sido convidado a fazer três trabalhos de uma vez só. Depois me falou das suas brincadeiras com seus dois filhos. Aliás, no avião, na volta, ele me disse  que queria chegar logo em casa justamente para rever os meninos.

Até brincamos um com o outro dizendo que era muito gostoso sair para fazer nossas reportagens. “Mas é melhor voltar, não é, Tião?”, ele disse. “Sim, é muito melhor retornar, Min”, eu respondi. 

É melhor voltar, Min. Até um dia, colega.

(Sebastião Nascimento)

Fazer as reportagens para a revista GLOBO RURAL exige, além de conhecimento, uma boa dose de paciência, horas a fio dentro de um carro, estradas de terra, nada de frescuras e a cara cheia de poeira, sempre. Para uma dupla conseguir cumprir sua jornada, companheirismo é fundamental. E o Marcelo Min, era o meu melhor companheiro.

No ano passado, rodamos mais de 10 mil quilômetros pelo Brasil. Passamos semanas viajando sem parar para a cobertura do Prêmio Fazenda Sustentável. Foram semanas em que conversamos sobre tudo na vida: política, casamento, filhos, dinheiro, moda, carros...tudo mesmo!

No final do ano, recebi a incumbência de ir até a Holanda fazer uma matéria sobre cafés. Nem pensei duas vezes: eu quero ir com o Marcelo Min. E lá fomos nós, passar uma semana correndo por Amsterdã. 

Alugamos bicicletas para trabalhar. Ele saía disparado na frente e sempre tinha que ficar me aguardando na esquina. Quando eu chegava, ele ria e me chamava de tartaruga. Foram dias inesquecíveis. Em uma das jornadas, ele esqueceu a camera portátil acoplada na bicicleta e então, só lembramos disso à noite. 

Para nossa surpresa, horas depois, fomos procurar a bicicleta e a camera estava lá. Essa cena, o equipamento registrou, sozinho, a nossa cara de espanto (é essa foto acima).

Separei alguns dos melhores momentos nossos para postar aqui, como este vídeo no final da página. Talvez, procurando apenas uma forma de agradecer todo o companheirismo e amizade desse cara, espetacular e evoluído, que repudiava o consumismo, amava a natureza e a vida. 

Min, até um dia. Você é inesquecível e vai fazer muita falta aqui. No entanto, vai que o caminho é teu.

(Viviane Taguchi)

Marcelo Min era um daqueles caras que você consegue "ler" em poucos minutos de conversa. Uma pessoa transparente e de coração enorme, um profissional grandioso. Infelizmente, tive a oportunidade de trabalhar com ele em uma pauta apenas.

Em janeiro deste ano, fomos até Brasília fotografar e gravar um vídeo com a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que foi a entrevistada da edição de fevereiro. Antes de subirmos ao gabinete dela, conversamos algumas horas numa sala de reuniões do ministério. Falamos sobre o futuro do jornalismo, novos projetos e sobre a vida.

Ao desembarcarmos em São Paulo, depois de um dia exaustivo, combinamos como faríamos a edição do material gravado e ele decidiu que ia direto para o escritório finalizar o vídeo. Era noite de uma sexta-feira. "Vou passar no mercado, comprar uma cervejinha e trabalhar", disse ele no carro. No sábado pela manhã,  chegava uma mensagem no meu e-mail avisando que o material estava pronto, após uma noite inteira de trabalho. Ficou show! Decidimos publicar no mesmo dia e a repercurssão foi enorme nas redes sociais. "u-hullllll", me escreveu o Min numa mensagem de celular. Respondi agradecendo pelo capricho com a edição e por todo o apoio durante a gravação da entrevista. E disse ainda: "Se Deus quiser, vamos fazer outros bons trabalhos juntos, meu caro."

Lamentavelmente, isso não será possível. Com aperto no coração, mas certo de que você está num lugar muito melhor que todos nós, desejo a você uma passagem em paz. Vai com Deus, parceiro. E continua cuidando de sua família aí onde você está.

(Cassiano Ribeiro)