France Presse

30/08/2015 09h49 - Atualizado em 30/08/2015 09h53

Governo libanês segue sob pressão após grande manifestação

Sociedade civil lança ultimato para resolução da crise do lixo.
Milhares voltaram a protestar em Beirute no sábado.

Da France Presse

Manifestante leva cartaz para protestar contra a crise do lixo em Beirute, no Líbano, no sábado (29)  (Foto: Hussein Malla /AP )Manifestante leva cartaz para protestar contra a crise do lixo em Beirute, no Líbano, no sábado (29) (Foto: Hussein Malla /AP )

O governo libanês está sob pressão após uma grande manifestação organizada no sábado (29) pela sociedade civil e o ultimato lançado pelo movimento para encontrar uma solução para a "crise do lixo".

"Sua hora chegou", anunciaram neste domingo os organizadores da campanha cidadã "Vocês fedem" ao governo.

Eles prometeram uma "escalada" dos protesto caso suas exigências não forem ouvidas até terça-feira à noite, fim do prazo de 72 horas lançado no sábado para encontrar uma "solução ambiental sustentável para a questão dos resíduos no Líbano".

Depois de semanas de protestos, "Vocês fedem" afirma ter vencido depois de conseguir reunir no sábado à tarde dezenas de milhares de pessoas na Praça dos Mártires, no centro de Beirute.

"Prioridade aos cidadãos", "fora governo de corruptos", "estamos fartos": os slogans exibidos resumiam a exasperação da população, para quem nenhuma reforma verdadeira foi realizada desde o final da guerra Civil, em 1975.

Os escândalos de corrupção e a falta de serviços básicos, como eletricidade e água, cristalizam esse descontentamento.

"O sábado do povo", era a manchete neste domingo do jornal As-Safir, recordando que os jovens que tomaram as ruas "cresceram com os retratos de líderes que nunca deixaram seus postos" desde 1975.

Mas, para a imprensa, o caráter inédito das manifestações dos últimos dias pode anunciar uma nova fase.

O sucesso de sábado "sugere a certeza de uma mudança que se aproxima (...) sob a pressão de uma rua que se libertou da divisão entre o '8 de março' e o '14 de março'", escreveu o jornal An-Nahar, referindo-se aos dois grandes comícios organizados em 2005 pelos dois blocos políticos rivais no país: o primeiro liderado pelo poderoso Hezbollah xiita, apoiado por Damasco e Teerã, e o segundo pelo ex-primeiro-ministro sunita Saad Hariri, apoiado por Washington e Riad.

Jovem libanês leva placa para protesto contra corrução e incompetência dos políticos em Beirute, no Líbano (Foto: Anwar Amro/AFP)Jovem libanês leva placa para protesto contra corrução e incompetência dos políticos em Beirute, no Líbano (Foto: Anwar Amro/AFP)

Diálogo de surdos
Ambos os lados, reunidos há 18 meses em um "governo de entendimento", fecharam-se em um diálogo de surdos que impede a tomada de decisões.

Desta forma, o governo liderado por Tammam Salam realizou uma reunião de gabinete sem anunciar iniciativas para resolver a crise do lixo.

"Pela primeira vez em anos, as forças da sociedade civil estão se mobilizando em torno de demandas sociais e não a pedido de um líder político ou sectário", ressaltou An-Nahar.

O sistema político libanês é construído sobre uma partilha de poder baseada em quotas comunitárias e de uma tradição de "democracia consensual". Desde a independência em 1943, assegura a paridade entre muçulmanos e cristãos minoritários na região.

No entanto, ele é acusado, há décadas, de todos os males: corrupção, desperdício, favoritismo, guerra civil (1975-1990) e crises repetidas, exacerbadas desde o início de 2011 pela guerra na Síria, a antiga potência colonial no Líbano.

Os principais líderes que governam a vida política são antigos senhores da guerra que partilham responsabilidades no governo ou Parlamento.

Além da resolução da questão do tratamento dos resíduos, os manifestantes exigem a organização de novas eleições legislativas, quando o Parlamento estendeu duas vezes o seu mandato desde as últimas eleições, em 2009, por causa de divisões políticas.

Os deputados também provaram sua incapacidade de eleger um presidente, cargo vago desde maio de 2014.

Os manifestantes também exigem a renúncia do ministro do Meio Ambiente, Mohammad Machnouk, e o julgamento dos responsáveis pela violência registrada na semana passada, incluindo o ministro do Interior, Nohad Machnouk.

Além de "Vocês fedem", o movimento atual traz outros coletivos da sociedade civil como "Pedimos que prestem contas", "Na rua" ou "Fora", que usam principalmente as redes sociais para espalhar suas ideias.

Shopping
    busca de produtoscompare preços de