11/03/2015 10h00 - Atualizado em 11/03/2015 13h40

Em 2011, PIB da nova série cresceu 3,9%, diz IBGE

Na série antiga, economia havia crescido menos, 2,7%.
Em média, valores ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga.

Anay Cury e Cristiane CardosoDo G1, em São Paulo e no Rio

PIB DE 2001 A 2011
em %
 
Fonte: IBGE

Em 2011, a economia brasileira cresceu 3,9%. Em valores correntes, chegou a R$ 4,375 trilhões, conforme aponta a nova atualização do Sistema de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira (11).

Antes da revisão, o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) havia sido de 2,7%.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a diferença dos resultados de 2011 se deve não só às mudanças metodológicas, mas também está ligada ao fato de que os dados anteriores de 2011 eram preliminares, segundo ela, calculado quando algumas fontes de dados ainda não estavam disponíveis. "Está misturado o efeito, que é o efeito de você ter feito as contas de modo preliminar", afirmou.

O PIB per capita também sofreu alteração. Na série anterior, o valor em 2011 era de R$ 20.988. Com a atualização, subiu para R$ 22.162.

 Em média, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011, na nova série, ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga. Nesse período, a taxa média anual de crescimento foi revisada de 3,5% na série anterior para 3,7%.

Alguns fatores influenciaram a diferença entre os números antigos e os novos de 2011.

“Um que é importante [para a diferença do PIB no ano 2011, série antiga x nova], que afeta a série inteira, a gente reformulou a medição da construção civil, por exemplo. Da para ver bem que quem teve maior revisão da série inteira foi a indústria e um dos motivos fortes disso tem a ver com a construção. A gente reformulou o índice para a série inteira, inclusive 2011, 2012 e até 2014 quando for divulgar o trimestral”, explicou Rebeca.

Ainda segundo Rebeca, o “impacto da energia elétrica, que foi positivo em 2011, o tratamento das térmicas e a saúde pública” também foram responsáveis pela diferença positiva no resultado do PIB em 2011, na comparação da série nova e antiga. “Os três foram para cima em 2011 e está impactando para cima o investimento. Então, isso impactou na série inteira e em 2011 também”, concluiu.

Wasmalia Bivar, presidente do IBGE (Foto: Cristiane Cardoso/G1)Wasmalia Bivar, presidente do IBGE
(Foto: Cristiane Cardoso/G1)

Recomendações para a mudança
As mudanças seguem recomendações do Manual Internacional de Contas Nacionais (SNA 2008) da Comissão Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI), da ONU e do Banco Mundial.

“Em 2011, nós iniciamos um processo de revisão do sistema de contas nacionais baseado no novo manual de referência 2008, que todos os países iriam, então, a partir do lançamento do manual, se empenhar para que os sistemas de contas nacionais do mundo pudessem ter comparabilidade”, explicou Wasmalia Bivar, presidente IBGE.

De acordo com os novos dados, a revisão da série não "impactou significativamente" no desempenho das atividades pesquisadas. Houve uma "pequena redução" da participação da agropecuária e da indústria e o aumento dos serviços.

Pela ótica da despesa, os investimentos (medido pela Formação Bruta de Capital Fixo) subiram de 19,5% para 20,6%, em 2010 e de 19,3% para 20,6% em 2011. Segundo o IBGE, o conceito de investimento foi ampliado e passou a incorporar os gastos com os produtos de propriedade intelectual (P&D, software e exploração mineral).

Indicadores econômicos (Foto: Reprodução/IBGE)Indicadores econômicos (Foto: Reprodução/IBGE)

“Inclusão de pesquisa e desenvolvimento tem impacto que muda tanto a taxa de crescimento do país, quanto acrescenta um pouco o PIB. Acrescenta cerca de 1% [do valor, do nível] no PIB [no ano de 2010]. Em 2011, é próximo”, afirmou Cristiano Martins, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.

De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais,“P e D [pesquisa e desenvolvimento] antes estava em consumo intermediário, agora a gente tem que importar uma produção e esse destino da produção que é investimento”, explicou.

Remuneração
Segundo Cristiano Martins, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, “a remuneração ganha peso no PIB e passa de 41,6% em 2010 para 42,2% em 2011”. Em 2005 (dado mais antigo), o peso era de 38,9%.

“Nesse período ainda era observado tendência que as remunerações ganhavam peso no PIB, continua havendo processo de formalização do trabalho. As pessoas saem da produção própria e vão para empregos formais. Isso fica claro também quando a gente olha as ocupações. Então, nas ocupações entre 2010 e 2011, aumenta 5% de 48 milhões para 51,4 milhões”.

O que mudou
Além da inclusão de novas fontes de dados econômicos, como o Imposto de Renda, a atualização teve ainda a incorporação do Censo Agropecuário de 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009, a inclusão de pesquisa e desenvolvimento, exploração e avaliação de recursos minerais e software na formação bruta de capital fixo e modificação da classificação de ativos fixos.

“Um dos conceitos mais fortes foi a parte do que é um ativo, formação bruta de capital fixo ou investimento. Uma série de produtos que eram considerados como gasto, passam a ser considerados como investimento”, afirmou Roberto Olinto nesta segunda-feira (9), quando as mudanças foram anunciadas.

As Contas Nacionais Trimestrais atualizadas, referentes aos quatro trimestres de 2014, além da série histórica desde 1995, serão divulgados no dia 27 de março. Em novembro, serão reveladas as Contas Nacionais Anuais referentes a 2012 e 2013.

Termelétricas
O tratamento das usinas termelétricas na atividade energia elétrica do PIB também foi modificado.

“Nesse caso, não tem a ver com o manual, tem a ver com uma situação específica da economia brasileira. A gente sabe que o custo x produção é bastante diferente das hidroelétricas e termelétricas. Para a mesma produção, tem que gastar mais nas térmicas do que hidroelétricas. Quando liga tem efeito negativo, e quando desliga, positivo”, explicou Rebeca.

"Esse fenômeno [usinas termelétricas na atividade energia elétrica] ficou muito importante de 2010 para cá. Então, na série velha, não tinha muita diferença. De 2010 para cá, a gente foi obrigado a fazer esse tipo de tratamento porque a diferença era muito grande. A gente vai ver que em 2011 o efeito foi ao contrário, porque em 2010, elas ficaram muito ligadas, e em 2011, nem tanto, então, o impacto foi mais positivo. Então, depende do ano", explicou Rebeca Palais.

Construção civil
O novo sistema irá separar a parte da construção relacionada à edificação e estrutura. “A gente antes fazia suposição que a taxa de crescimento seguia a taxa de crescimento dos insumos da produção. A construção tem essa parte residencial, que tem essa parte importante com as famílias”, explicou a coordenadora.

"A gente passou a incluir a parte do gasto com a remuneração que é bastante importante no caso da construção também. Não só os insumos, mas também toda a parte da remuneração. Então, agora a nossa taxa de crescimento da produção de construção vai ser uma média entre evolução dos insumos e remuneração do setor".

Sede das empresas
Ainda segundo órgão, haverá mudança no tratamento das sedes de empresas, o que “tende a reduzir o PIB industrial". "Não muda o PIB total, mas faz redistribuição”, analisou Rebeca de La Roque.

“Exemplo, a empresa tem sede no Rio, mas não tem unidade produtiva no Rio, todas são na Bahia. Agora, identificando essa sede e não tendo produção industrial, tem que atribuir uma produção aumentada no Rio e produção diminuída na Bahia, porque a parte dessa produção do Rio está sendo consumida nas unidades produtivas da Bahia. Aumenta serviços no Rio”, explicou.

Saúde pública
A nova referência trará ainda mudança do índice de volume da saúde pública, acrescentou a coordenadora. Os dados foram disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus).

“Antes pegava todos os procedimentos e internações, mas você pode ter internação de caso supercomplicado que custe muito e outro caso simples, claro que esses gastos são diferentes e antes a gente via isso como se fosse único. A internação da UTI valia a mesma coisa da pessoa que ia tirar um cisto. Agora a gente conseguiu separar em grupos e isso adiciona qualidade à nossa taxa de crescimento”, explicou Rebeca.

Índice de Preços ao Produtor (IPP)
As Contas Nacionais passarão a utilizar ainda o Índice de Preços ao Produtor. Segundo o IBGE, a decisão irá "agregar mais informação". "Porque a gente tem agora, quando faz contas anuais, parte de tecnologia de informação, computadores. Se você comprar um computador hoje, daqui a uma semana é diferente, como tem esse crescimento da produção, é complicado", concluiu Olinto.
 

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