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Disputa trava loja da Nike na Arena Corinthians, e lojista reclama: 'puro jogo de egos'

Disputa trava loja da Nike na Arena Corinthians, e lojista reclama: 'puro jogo de egos'

Sócio vendeu imóveis e pegou empréstimo para comprar 50% do negócio, mas, sem a inauguração, está no prejuízo: já demitiu 25 funcionários que acabara de contratar

RODRIGO CAPELO
27/10/2015 - 08h00 - Atualizado 27/10/2015 08h00
Nova loja da Nike na Arena Corinthians (Foto: Arquivo pessoal)

A loja da Nike na Arena Corinthians está pronta, após cerca de um ano de atraso da Odebrecht na finalização das obras no estádio, mas ainda não abriu as portas. Emperra a inauguração a disputa entre fabricante, clube e SPR, empresa gere a rede de franquias Poderoso Timão e tem 50% desta unidade. A não abertura tira receita das três partes, porque cada jogo com casa cheia tem potencial para gerar R$ 200 mil de faturamento, do qual Corinthians e Nike têm direito a royalties. E dá prejuízo para um grupo de três investidores que assumiu o risco milionário de comprar os outros 50% e o direito de operar esta loja no estádio. O impacto na vida deles é muito maior.

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A loja da Arena Corinthians é da Nike por contrato, bem como a do Parque São Jorge. O acordo do clube com a fabricante, hoje avaliado em cerca de R$ 50 milhões após a disparada do dólar, lhe dá este direito. Mas a Nike prefere não operar a loja ela mesma, e sim repassá-la a um terceiro. Faz assim porque evita comprometer dinheiro com estoque e giro, por exemplo. A marca procurou a SPR no início de 2014, então, para que ela lhe indicasse os melhores franqueados da Poderoso Timão, aqueles com maior rentabilidade e menor número de problemas com pedidos e entregas. A escolha era tocada enquanto a Odebrecht terminava as obras no estádio.

Entre os selecionados pela Nike estava um grupo de três franqueados que abriu a primeira de suas lojas da Poderoso Timão, no modelo de franquia, em 2009. Eles se interessaram, mas a princípio não tinham dinheiro suficiente. "Não imaginávamos que poderíamos ter uma loja dentro da arena pelo valor do investimento. Vendemos patrimônios, pegamos financiamento no banco, e aos poucos isso foi se tornando realidade", diz Carlos, nome fictício criado por ÉPOCA para preservar o lojista – ele e os dois sócios levantaram alguns milhões de reais com vendas de bens e empréstimos e não querem ser identificados por segurança. Os três puderam, com a verba, assegurar 50%. Os outros 50% ficaram à espera de outro investidor.

O problema é que este investidor não apareceu. Por meses Nike e SPR procuraram terceiros dispostos a comprar metade da operação da loja na Arena Corinthians, mas ninguém topou. O temor de quem começava a negociar era não fechar a conta: mesmo que o Corinthians vá bem em campo e alavanque as vendas em dias de jogos como mandante, o estádio fica vazio pelo resto do ano. Há 35 datas por ano com fluxo garantido de consumidores. Só. Até que Nike e SPR chegaram à conclusão de que a própria SPR poderia comprar os 50%, com a condição de que ela não participaria da gestão, deixada integralmente aos três investidores que detêm os 50% iniciais. O Corinthians não gostou. Roberto de Andrade, atual presidente, quer afastar a SPR por associá-la ao desafeto ex-vice-presidente Luis Paulo Rosenberg, por isso barrou o negócio como fora costurado.

O Corinthians não pode assumir, ele mesmo, 50% ou 100% da operação. Entidades esportivas não podem operar comércios. Andrade terá de nomear outro terceiro, e este terá de comprar do grupo e da SPR as partes deles no negócio. A SPR topou vender a fatia dela, mas os três sócios, não. Eles não abrem mão do contrato que assinaram com a Nike, e o Corinthians quer recuperar 100%.

Carlos promete enviar à Nike notificação extrajudicial nesta terça-feira (27) para que ela acione o Corinthians e resolva a disputa. "A loja está pronta. Já tem mercadoria dentro dela. Eu já tinha contratado 25 funcionários, mas tive que mandar todos embora", conta. O primeiro prazo que ele recebeu para abrir a unidade era 1º de setembro. Não deu. Depois, 12 de outubro. Nada. O prejuízo só aumenta, pois há fornecedores a ressarcir e rescisões com funcionários a pagar. "Minha vida todinha está dentro desse negócio, e eles não estão nem aí. É puro jogo de egos, politicagem. Eu estou no meio, não tenho nada a ver com isso, e estou sendo prejudicado."

Procurada por ÉPOCA, a Nike afirmou que "não divulga informações de contratos respeitados por cláusulas de confidencialidade. Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, recebeu e leu mensagem deixada pela reportagem na noite de segunda, mas não a respondeu.

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