Edição do dia 28/12/2015

28/12/2015 08h49 - Atualizado em 28/12/2015 08h49

Bom Dia Brasil mostra caos em hospitais públicos pelo país

Equipes do Bom Dia Brasil constataram que está faltando médico, remédio e equipamentos. Tem hospital funcionando apenas dois dias na semana.

O assunto é o caos na saúde pública em várias regiões do Brasil. Durante o fim de semana, as equipes do Bom Dia Brasil visitaram hospitais e constataram que está faltando de tudo: médico, remédio e equipamento.

Com a crise na economia, o que já era ruim, agora ficou péssimo. O que foi encontrado é de assombrar. O Bom Dia Brasil visitou hospitais de vários cantos do país e encontrou situações inacreditáveis.

Além das já conhecidas falta de leitos, de médicos, de medicamentos, de equipamentos e instrumentos para atender a população, tem hospital funcionando apenas dois dias na semana. É isso mesmo, dois dias da semana, como se os pacientes pudessem escolher o dia de ficar doentes. E foi encontrado também hospitais que suspenderam o atendimento a pessoas que moram fora do estado.

Laura, grávida de nove meses, se contorcendo de dor dentro do carro. Não, ela não entrou em trabalho de parto na rua. O carro estava quase na porta da maternidade do Hospital de Ceilândia, a cerca de 30 quilômetros de Brasília. Ela não tinha mais força nem para falar.

A cunhada é que contou o drama que começou às 6h deste domingo, com a passagem por dois hospitais. Essa foi a segunda ida ao de Ceilândia.

“Chega lá dentro, fala assim: ‘Não, volta com ela para casa’. Olha o estado dessa menina para voltar para casa, gente. Ela vai ganhar menino, igual eu falei para ela, vai ganhar dentro do carro, vai ganhar no banheiro, vai ganhar no chão, isso é um descaso com o ser humano, gente, isso não pode acontecer, não”, relata a cabelereira Helen Albernaz.

A bolsa de Laura rompeu no carro. O marido levou o carro para a porta da maternidade. Nada de maca, nada de algum funcionário da área de saúde. O vigia chegou com uma cadeira de rodas. Finalmente, Laura foi internada e a bebê nasceu saudável às 22h.

No mesmo hospital, mas na emergência geral, o atendimento também é precário. Quem foi ao pronto-socorro precisando de atendimento em clínica médica acabou indo embora sem consulta, porque desde às 7h até às 19h10, tinha apenas um clínico para atender só os casos mais graves.

O Bom Dia Brasil tentou descobrir por quê.
Bom Dia Brasil: E por que que não tem médico?
Funcionário: Aí eu não sei te explicar, teria que ser a chefia de equipe, só que a chefia de equipe também hoje não está tendo.

Em outro hospital, no de Base, que é referência para atender os casos mais complexos, a situação dos pacientes cardíacos e dos médicos chegou à nossa equipe por meio de mensagens trocadas entre os médicos em um aplicativo.

Um deles denuncia que estão trabalhando sem dois remédios importantes para pacientes com insuficiência cardíaca. Completa dizendo que dois pacientes podem morrer se o remédio acabar. Um deles tem 45 anos. O médico desabafa: “Não dá mais, gente. Ficamos contando as horas torcendo para não ter que dar mais uma notícia de óbito evitável. Os pacientes estão morrendo no Base.”

O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Gutemberg Fialho, confirma a denúncia. “A situação é grave. Hoje, neste momento, no Hospital de Base, nós não temos medicamentos para tratar infarto agudo de miocárdio”, diz.

No Ceará, o atendimento em cardiologia também passa por dificuldades. Em Fortaleza, o Hospital de Messejana, que é referência em tratamentos e transplantes do coração, não está recebendo crianças de outros estados há uma semana. Só este ano, foram em média dois transplantes por mês. A direção do hospital informou que está cortando despesas e que só vai atender pacientes de fora depois de março do ano que vem.

Isso compromete o atendimento a recém-nascidos com doenças cardíacas graves e pacientes do Maranhão, Piauí e Alagoas que não têm outra unidade para socorrer as crianças. A Secretaria de Saúde do Ceará informou que a prioridade é atender os pacientes do próprio estado.

Em Pernambuco, a prefeitura da cidade de Escada, reduziu o funcionamento do hospital para apenas dois dias na semana. O secretário Municipal de Saúde diz que o valor repassado pelo Governo Federal para o hospital é pequeno: R$ 218 mil por mês.

“O custo de manutenção desse hospital funcionando é R$ 800 mil. Isso a prefeitura fez durante dois anos, mas diante dessa crise é impossível o município arcar com essas despesas”, afirma o secretário de Saúde de Escada, Hermílio Rêgo Barros.

“O que que vai ser da gente? Vai morrer à míngua, não pode. A gente é ser humano”, diz a dona de casa Alice Leôncio da Silva Alves.

Em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, o único pronto-socorro do município está passando por uma reforma, e precisa mesmo, porque o Bom Dia Brasil flagrou uma goteira descendo do ventilador do teto de um dos quartos. Pacientes são atendidos pelos corredores sentados em cadeiras porque faltam macas. Cirurgias de emergência podem levar alguns dias para serem realizadas.

“Falta maca de carregar paciente, falta cama suficiente para paciente, falta praticamente tudo”, relata o pedreiro José dos Santos.

A Secretaria da Saúde do Distrito Federal se comprometeu a apurar o que aconteceu no Hospital de Ceilândia, onde o Bom Dia Brasil flagrou a longa demora para encontrar um leito para Laura ter o bebê dela e onde só havia um médico de plantão durante todo o domingo (27).

A Secretaria também disse que está tentando comprar os medicamentos em falta e com estoque reduzido como o dobutamina e o milrinona. A produção do Bom Dia Brasil tentou falar com a assessoria da prefeitura de Várzea Grande, mas não conseguiu contato.

No Rio de Janeiro, a repórter Lilia Teles ainda encontrou pacientes sendo recusados em algumas emergências, nesse domingo (28). Veja a reportagem completa no vídeo acima.

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