18/09/2015 07h38 - Atualizado em 18/09/2015 07h38

Perdeu o emprego e quer se qualificar para melhorar o currículo? Veja dicas

Engenheiro usou dinheiro da rescisão para fazer cursos na Irlanda.
Consultores dizem que é preciso cuidado ao decidir gastar após demissão.

Marta CavalliniDo G1, em São Paulo

Marcelo Roberto Scapol está em Dublin há 15 dias para melhorar o inglês, fazer cursos de aperfeiçoamento e intercâmbio profissional (Foto: Arquivo pessoal)

Quem está empregado reclama que não tem tempo para fazer o que gosta ou ampliar seus conhecimentos. Já quem está desempregado reclama que sobra tempo mas falta dinheiro para colocar em prática aquilo que não pôde fazer quando estava trabalhando.

 

Perdi o emprego, e agora? Ao longo desta semana, o G1 vai dar dicas para quem está sem trabalho, e contar histórias de brasileiros que superaram essa dificuldade e voltaram a se recolocar

O engenheiro químico Marcelo Roberto Scapol, de 45 anos, decidiu usar o tempo que sobrava após perder o emprego e o dinheiro que havia recebido da rescisão para ampliar seus conhecimentos na Europa.

Scapol perdeu o emprego em junho de 2014 e não conseguiu recolocação por um ano. Ele trabalhava numa multinacional como gerente de produção. Após a demissão, devido ao corte de custos na empresa, Scapol tomou a decisão de ir para Dublin melhorar o inglês, fazer cursos de aperfeiçoamento e intercâmbio profissional.

“Não tinha isso em mente até perder o emprego, porém, após a rescisão do meu contrato, não consegui me recolocar, o que me fez avaliar a possibilidade de aperfeiçoar o inglês e me desenvolver profissionalmente com cursos voltados à minha formação”, conta.

Além do curso de inglês, com duração de 6 meses, ele começará daqui a 3 meses, após ter mais segurança na língua inglesa, cursos de coaching e gerenciamento de projetos, que deverão durar outros seis meses.

“Muitas empresas avaliam currículo pelos cursos e formações, e no nível executivo a experiência importa. Porém, com formação no exterior, o candidato se destaca e faz a diferença em critérios de empate”, afirma.

O dinheiro que Scapol está usando para bancar os custos da viagem é da rescisão de contrato. Ele chegou a Dublin há 15 dias e pretende ficar de 6 meses a 1 ano, pois tem planos de voltar ao Brasil. “Estou sendo assessorado por uma consultoria de recolocação que irá me ajudar a voltar ao mercado”, diz.

No entanto, Scapol diz que não está otimista em relação a uma melhora no mercado de trabalho brasileiro e tem como “plano B” estar preparado para trabalhar na Irlanda ou em países próximos na área de engenharia de projetos e de produção.

Perdi o emprego (Foto: G1)

Procura por intercâmbio
De acordo com a gerente de produtos da CI – Intercâmbio e Viagem, Luiza Vianna, a procura por intercâmbios continua grande, apesar da desaceleração na economia. O principal perfil de quem procura por experiências no exterior continua sendo de jovens e profissionais que querem melhorar o inglês e o currículo para o mercado de trabalho, como é o caso de Scapol.

“O Brasil é um mercado forte para intercâmbio lá fora”, diz. Segundo ela, aumentou a demanda pelo Canadá em detrimento aos EUA, e da Irlanda e Malta em substituição à Inglaterra. Além de optar por destinos mais baratos, com moedas menos valorizadas em relação ao real, o consumidor tem adiado a viagem para se planejar melhor e optado por parcelamentos mais longos.

“O comportamento do consumidor mudou ao longo dos anos, antes ele vinha em cima da hora, e hoje em dia já começa a pagar para viajar daqui a um ano, ou opta por estudar menos tempo lá fora”, afirma.

Dicas de especialistas
De acordo com Karina Freitas, diretora de transição de carreira da Stato, o período de transição de carreira pode ser muito produtivo para reflexões, ajustes na sua trajetória profissional e até mesmo para descansar, colocar a vida em ordem e se divertir.

"Defina um objetivo claro, planeje como irá atingi-lo, o tempo e recursos necessários para chegar lá. Se fez um bom planejamento financeiro, pode se dar ao luxo de viajar, conhecer lugares novos e até mesmo fazer um sabático antes de pensar na sua recolocação no mercado. Mas, se não tiver muito fôlego financeiro, pense em se aperfeiçoar fazendo cursos de curta duração que reforcem os diferenciais competitivos para aumentar suas chances como candidato”, recomenda.

Veja abaixo mais dicas de Erik Penna, consultor e palestrante motivacional, e da coach Bibianna Teodori:

Selo - período sabático (Foto: G1)

De acordo com Erik Penna, o período sabático é ótimo para oxigenar as ideias, conhecer lugares e ampliar horizontes, o que amplifica conhecimentos, ações e resultados. “Mas se o momento mais oportuno para fazer isso é logo após a demissão, vai depender das reservas financeiras. Faça as contas, é arriscado investir todo o recurso recebido na rescisão. Cabendo no bolso, o ideal é investir um pequeno valor numa viagem e reservar uma boa quantia para poder esperar mais tranquilamente a próxima oportunidade”, aconselha.

“É importante planejar tudo sobre o ano sabático. Afinal, o período, como todo projeto, deve ter início, meio e fim. Para que seja um sucesso, é importante manter ativos todos os fios de conexão da sua vida”, diz Bibianna.

Para ela, é preciso superar obstáculos mentais, como o medo e a angústia sobre o futuro. “Essas barreiras se tornam ainda mais acentuadas para a realidade brasileira, que não possui a cultura do período sabático. É importante fazer um bom plano e um alinhamento pessoal e familiar, considerando os graus de dificuldades para cada perfil de pessoa”.


selo - curso de idiomas ou informática (Foto: G1)

“Se a desculpa era falta de tempo ou dinheiro, isso acabou. Uma atualização, além de otimizar conhecimentos e habilidades, poderá contribuir para conquistar uma melhor ou mais rápida recolocação. Transmite, ainda, a imagem de que você não está parado na zona de conforto, mas sim buscando aprimoramento e melhoria contínuos”, diz Penna.

Segundo Bibianna, mandarim, inglês e espanhol são as línguas mais faladas ao redor do mundo. “Pensando na recolocação no mercado, é importante se preparar para realizar viagens internacionais. Estudar outros idiomas também significa conhecer outras pessoas, fazer networking, se conectar com outros professionais. Hoje em dia, falar diferentes idiomas significa também tornar-se indispensável e requisitado no mercado de trabalho, além de ajudar a entender melhor outras culturas”, afirma.


selo - pós, MBA ou nova faculdade (Foto: G1)

Penna cita pesquisa da Catho que aponta que o profissional sênior, com especialização, costuma ganhar 20,6% a mais. Já quem tem MBA chega a ganhar 33% a mais.

“Mas, no caso de um desempregado, só vale a pena fazer uma especialização ou MBA se tiver uma boa quantia financeira reservada. É arriscado, logo após a demissão e num período de incertezas econômicas, comprometer a renda com um curso de longa duração, em geral 18 ou 24 meses, uma vez que não é possível saber nem se irá conseguir honrar todas essas parcelas caso o emprego não apareça”, pondera.

Para Bibianna, ter uma pós gera boa impressão, pois mostra que o profissional busca constante aperfeiçoamento, e pode ser diferencial em processos seletivos. “Antes de qualquer coisa, reflita quais as habilidades e aptidões que serão desenvolvidas durante o percurso. O profissional deve estar certo que a área estudada é a que ele quer seguir. Para reconhecer o momento, basta observar os requisitos pedidos pelo mercado de trabalho”, diz.

Segundo Penna, o período pós-demissão tende a ser reflexivo, mas é preciso agir com calma, pois nem tudo está perdido ou requer uma mudança radical. “A decisão por iniciar uma nova faculdade precisa ser bem analisada, afinal, é algo de longo prazo, 4 ou 5 anos. Se essa decisão não for assertiva, a pessoa poderá iniciar um novo curso e, em poucos meses, aceitar uma proposta na mesma área que já atuava. Isso poderá fazê-la abandonar a faculdade, desperdiçando tempo e dinheiro”.


Selo - Qualificação na área de atuação (Foto: G1)

Penna considera que qualificação gera aprimoramento, deixa a pessoa atualizada e antenada com as novidades, amplia a rede de contatos e a expertise profissional.

Ele recomenda investir não só em cursos, mas na leitura de revistas e livros da área, jornais e textos na internet, além de participar de eventos e encontros do setor em que atua.

Bibianna diz que o profissional deve avaliar as competências que não tem e procurar desenvolvê-las. “Os cursos de qualificação são vistos como alternativa para fugir da crise e reconquistar um emprego no momento em que as empresas voltarem a contratar”, afirma. Segundo ela, os cursos são o caminho mais rápido para exercer uma atividade que dê renda, mas é preciso analisar o mercado.


Mudança de carreira ou curso profissionalizante  (Foto: G1)

Penna considera que curso profissionalizante ou técnico tem bom custo-benefício, pois com baixo investimento é possível identificar em pouco tempo o real interesse e desempenho em uma nova carreira.

Mas, ele opina que, antes de decidir mudar de carreira, o profissional deve responder às seguintes questões: Por que quero mudar de carreira? Tenho paixão pela nova profissão? Tenho performance acima da média diante dos novos concorrentes? Se aparecer uma oportunidade amanhã na minha função atual irei continuar esse novo curso na faculdade? Isso me fará melhor e mais feliz? Há espaço e o mercado costuma remunerar essa nova expertise o quanto eu espero?

Segundo Bibianna, buscar uma nova carreira pode ser uma boa saída somente para quem não gosta do trabalho atual. Para ela, é preciso autoconhecimento para entender as motivações que levam ao desejo de mudança para tudo ocorrer de forma estruturada e alinhada com as metas de vida. “É importante definir qual carreira deseja seguir, qual área atende às necessidades profissionais e pessoais, conhecer as competências e definir um plano de ação.”

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