Política Impeachment

Câmara tem 27 deputados que estavam no impeachment de Collor

Parlamentares que participaram de decisão nos anos 90 analisam pedido contra Dilma

BRASÍLIA — O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) lembra claramente a cena que presenciou em 1° de setembro de 1992 no Salão Verde da Câmara. Ele estava ao lado de Ibsen Pinheiro, então presidente da Casa, quando o viu receber do presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Barbosa Lima Sobrinho, o pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello. Com o documento em mãos, Ibsen disse a célebre frase: “O que o povo quer, esta Casa acaba querendo”.

Vinte e três anos depois que o país destituiu o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura militar, e com a sombra do impeachment a rondar novamente o Palácio do Planalto, O GLOBO levantou os 27 deputados que participaram da votação do impedimento de Collor, em 29 de setembro, e que enfrentarão o processo pela segunda vez. Só dois deles votaram contra a decisão que cassou Collor: os deputados Nelson Marquezelli (PTB-SP) e Átila Lins (PSD-AM). Os demais foram favoráveis. Dos dez ouvidos pela reportagem, cinco votariam pelo impeachment de Dilma, quatro seriam contra, e um preferiu não responder.


Marquezelli: “Não voto no oba-oba”
Foto: Agência Câmara / Brizza Cavalcante
Marquezelli: “Não voto no oba-oba” Foto: Agência Câmara / Brizza Cavalcante

Um dos mais próximos aliados de Collor naquele momento, Marquezelli disse que votou contra depois de fazer uma “análise jurídica” do parecer. Ele também é contra o impeachment de Dilma.

— Não vou votar no oba-oba — disse.

Jandira Feghali (PCdoB-RJ) estava grávida de quatro meses e em seu primeiro mandato como deputada federal quando anunciou o voto no plenário da Casa. “Voto ‘sim’ pelos que virão”, disse então.

— Quem ia imaginar que agora a minha filha ia vivenciar tudo isso de novo? E num processo onde não há crime ou acusação dirigida a ela (Dilma).

No dia da votação, aliados de Collor tentavam, até o último momento, virar alguns votos. Mas o clima já era “festivo” no plenário, disse o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), um dos integrantes da CPI que acabou esbarrando em falcatruas envolvendo o ex-presidente. Naquele momento, o método escolhido foi o voto por ordem alfabética. Com medo da pressão, alguns deputados com nomes começando com a letra A deixaram o plenário e só votaram na segunda chamada. Um deles foi o atual presidente do TCU, Aroldo Cedraz.

Miro acredita que o parecer elaborado pelo jurista Hélio Bicudo sobre Dilma Rousseff não tem força para tirá-la do cargo:

— Impeachment existe ou não existe. Não é algo que seja articulado. O pedido de impeachment é Sua Excelência, o fato, como dizia Ulysses.

Pauderney Avelino acabara de entrar na política e caiu de paraquedas num Congresso em chamas. Ele participou da coordenação pró-impeachment a convite da então deputada Roseana Sarney. No dia da votação, vestiu uma roupa nova para enfrentar o dia histórico. Ironicamente, Avelino resolvera participar da política por admirar o “vigor” dos discursos de Collor. Ele integrou a campanha do ex-presidente em 1989 e resolveu se candidatar. No único encontro que teve com Collor no Planalto, contou que ficou decepcionado com a postura do ex-presidente, que recebeu a bancada do extinto PDC de pé, como um “gelado bloco monolítico”:

— Ele repudiava o Congresso. A postura dele não é tão diferente da que atribuem à Dilma — disse. — O impeachment é inexorável. Há crime de responsabilidade, não adianta negar.


Landim: “Dilma tem partido e militância. Collor não tinha nada”
Foto: Agência Câmara / Zeca Ribeiro
Landim: “Dilma tem partido e militância. Collor não tinha nada” Foto: Agência Câmara / Zeca Ribeiro

O deputado Paes Landim (PTB-PI) explicou que votou pelo impeachment “com peso na consciência”. Ele foi professor de Direito do ex-presidente na Universidade de Brasília e gostava de Collor, mas não resistiu à pressão do voto aberto:

— Não me orgulho disso, mas a pressão foi violenta. Falei com ele depois, mas acho que ele nunca me perdoou — disse o petebista.

Ele é contra o impeachment de Dilma e avalia que a presidente, ao contrário de Collor, tem uma estrutura partidária e uma militância fortes, dispostas a apoiá-la:

— Não acho que tenha fundamento, até o do Collor foi um pouco forçado. Mas a Dilma tem um partido e uma militância por trás. O Collor não tinha nada.

Landim contou que, uma semana antes da votação do impeachment, o então deputado Ulysses Guimarães, inquieto, foi procurar Ibsen Pinheiro nos corredores da Câmara para reclamar que o processo parecia andar “a passo de valsa”. Outra pérola de Ulysses lembrada pelos parlamentares foi dita logo depois de aprovado o impeachment na Câmara. Quando a denúncia foi recebida pelo Senado, o peemedebista foi conversar com o vice-presidente Itamar Franco, que receava assumir a cadeira de Collor. Depois da conversa, disparou: “É incrível, o anzol é muito maior do que a boca do peixe”.