Edição do dia 16/05/2016

16/05/2016 21h02 - Atualizado em 16/05/2016 21h02

Classe média encolheu em 2015, diz pesquisa

Crise fez cair o padrão de vida de 1 milhão de famílias.
'De um dia para o outro despencamos', diz biólogo demitido.

A classe média encolheu em 2015. Um milhão de famílias passou a ter um padrão de vida pior por causa da crise econômica. A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa usou informações de institutos oficiais para medir o padrão de vida das pessoas.

“Nós estávamos no topo e de um dia para o outro despencamos. A gente está fazendo de tudo para mostrar para o nosso filho que tem altos e baixos”, diz José Alessandre de Andrade.

José está falando do padrão de vida da família. Ele está sem trabalho desde novembro. A mulher, desde dezembro. E desde que os dois perderam os empregos, estão perdendo, aos poucos, tudo o que conseguiram nos últimos anos.

“Cortamos empregada, ficamos sem plano de saúde. Os telefones eram de conta, agora passaram a ser pré-pago.  Mercado, a gente começou a não usar mais marca, é o mais barato”, diz Daniele, mulher de José.

José é biólogo e foi demitido com todos os outros funcionários quando o laboratório onde trabalhava fechou. Daniele era enfermeira numa empresa de importação de insulina que cortou 25% das vagas.
             
A renda dos dois dava certinho para pagar tudo em casa, mas não para guardar. E tem conta que não dá para deixar para depois.

“De tudo de tudo, esse é o maior medo. Porque se você começa a não pagar a prestação do apartamento, você perde. E a gente vai botar a criança aonde? Na rua?”, pergunta Daniele.

Para a maioria dos brasileiros, a base do sustento é o salário. E num emprego formal, com carteira assinada, o trabalhador ainda pode ter benefícios que vão ajudar a subir no padrão de vida como vale-refeição, vale-transporte, plano de saúde.

Quando, o emprego se vai, isso vai junto tudo isso. E se nesse momento não tiver alguém para ajudar, parentes, e isso durar muito tempo não tem como se manter no mesmo padrão.

“Quando o mercado de trabalho vai mal, a gente afeta duas coisas: tem menos gente trabalhando e as pessoas que estão trabalhando estão ganhando menos porque não conseguem recompor a inflação. O que vai continuar acontecendo é que as pessoas vão continuar procurando bicos, fazendo com que o rendimento caia”, afirma Armando Castelar, economista da FGV.

Na chamada pirâmide social, tem brasileiro caindo rapidamente. Cada letra corresponde a uma classe social. Para saber a posição em que as famílias estão, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa leva em conta principalmente a quantidade de bens, quanto tempo as pessoas daquela casa estudaram e se elas têm acesso a serviços públicos.

Em 2015, os pesquisadores descobriram que caiu o padrão de vida de 1 milhão de famílias, que estavam nas classes B1, B2 e C1 -  o meio da pirâmide. 

Ao mesmo tempo aumentou o número de brasileiros nas classes mais pobres: 914 mil famílias passaram a fazer parte das classes C2, D e E. com renda média de R$ 768 a R$ 1.625 reais.

O estudo usa informações de institutos oficias para medir nosso padrão de vida.

“Não é um retrocesso que nos leva lá para trás, mas o importante é que ele aconteceu, e aconteceu até mais rápido do que a gente esperava, né?   O que indica que existe um movimento realmente profundo acontecendo na economia para provocar isso em tão pouco tempo”, diz Luis Pilli, da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa.

O padrão de vida de Fernanda está despencando desde que foi demitida há cinco meses. A arquiteta está vivendo com o que recebeu de rescisão. Mas o dinheiro não vai durar muito.

“Eu consigo até outubro, novembro, esticar ao máximo as minhas despesas”, disse. 

Sem trabalho, sem renda. Muitas vezes, sem expectativas, as famílias cortam na própria carne.

“Nosso filho pediu um brinquedinho. Eu olhei pra minha esposa, ela olhou pra mim, filho, a gente não pode comprar. Deu um dó no coração . Deu vontade até de chorar, mas não tem condições, a gente está sem dinheiro mesmo, literalmente”, disse José.

Repórter: Isso tem fim?

“Tem fim. Círculos econômicos vão e vêm, ele tem um momento ruim, mas depois acaba tendo uma recuperação. Agora, quando essa recuperação vai acontecer é o problema. Qual a magnitude dela? Quanto tempo a gente vai demorar pra repor aquela perda de renda que a gente já teve?”, pergunta José Ronaldo de Castro Souza, pesquisador do Ipea.

Os 11 milhões de brasileiros que estão desempregados hoje esperam essa recuperação pra ontem.

“Nós estávamos no topo e de um dia para o outro despencamos. Mas eu tenho esperança, muita esperança que eu vá conseguir, que o país também vá conseguir voltar ao normal”, diz José.