Edição do dia 31/05/2016

31/05/2016 14h28 - Atualizado em 01/06/2016 12h40

Idades para aposentadoria no Brasil são baixas demais, diz economista

Ruchir Sharma, economista do Banco Morgan Stanley, analisa os principais problemas do Brasil em entrevista exclusiva.

“O Brasil de hoje é tão pobre comparado aos EUA quanto era há 100 anos”, afirma o entrevistado do programa ‘Milênio’. Economista-chefe para Mercados Emergentes do Banco Morgan Stanley, Ruchir Sharma ficou famoso no Brasil depois que publicou o artigo chamado "Apostando Contra o Brasil", na Revista Foreign Affairs em 2012. No artigo, Ruchir fez previsões nada otimistas para o país e que, agora, se mostraram bem verdadeiras. Para o especialista, o Brasil precisa fazer, com urgência, o dever de casa: acertar o câmbio, aprender a economizar mais do que gasta, abrir seu mercado para novas negociações e sanar a corrupção e a crise política.

No artigo, Ruchir acreditava que a era dos ‘Brics’ tinha acabado, que a ascensão na última década tinha sido exagerada e que haveria futuramente muitos problemas surgindo nesses países devido ao superciclo das commodities estar no fim. Ruchir diz que o país tinha problemas demais e que as taxas de crescimento da última década dificilmente se repetiriam. “O ponto principal do artigo era que havia muita fé de que o Brasil seria o próximo superastro, e eu tentei derrubar o mito de que o Brasil estava tão bem”, afirma.

Em seu novo livro “Ascenção e Queda das Nações - Forças de mudanças em um mundo pós-crise", tradução livre já que ainda não foi publicado no Brasil, o economista enumera as regras fundamentais para o crescimento da economia de um país. A primeira, por exemplo, diz respeito ao crescimento continuo da população e Ruchir acredita que o Brasil está bem colocado. “Sabemos que, para o crescimento, dois fatores importam: um é o crescimento da mão de obra, o outro é a produtividade. Mas, se a mão de obra não cresce, é muito difícil um país crescer rapidamente. Nesse aspecto, o Brasil está relativamente bem em comparação a vários outros países”, declara o especialista.

Ruchir Sharma e Jorge Pontual (Foto: GloboNews)Ruchir Sharma e Jorge Pontual (Foto: GloboNews)

 

Um aspecto importante, que para o Sharma agrava a crise do país, é o quanto um único partido político fica à frente do poder. “No caso do Brasil, um partido passou muito tempo no poder, e alguns dos hábitos com os quais ele se acostumou ao longo desses anos foram ruins para o país”, afirma Sharma. Porém, o economista cita o caráter reformista de alguns líderes no início da última década, como Luiz Inácio Lula da Silva e Putin. “Esses líderes estavam fazendo coisas boas para a economia. No Brasil, Lula deu muito apoio ao Banco Central, se preocupou com a meta da inflação e não deixou os gastos públicos saírem do controle”, argumenta.

Ruchir Sharma apresenta outro problema do Brasil: um sistema previdenciário grande demais para um país com a sua renda per capita. Um líder capaz de reformar a previdência seria o ideal, mesmo sendo uma tarefa tão difícil devido aos cortes significativos e decisões difíceis de serem tomadas. As idades para aposentadoria no Brasil são baixas demais comparadas às de outros países em uma época em que as pessoas vivem muito mais. As pessoas não podem se aposentar por volta dos 50 anos. Isso tem que ser mudado”, analisa Ruchir.

Assista ao programa ‘Milênio’ completo no GloboNews Play.

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