Edição do dia 13/04/2015

13/04/2015 22h29 - Atualizado em 13/04/2015 22h34

JN mostra movimentos da sociedade para proteger mananciais

Gestão da água é o tema de uma série de reportagens que o Jornal Nacional começa a apresentar nesta segunda-feira (13).

O Brasil acompanhou nos últimos meses a rotina de milhares de pessoas afetadas pela maior estiagem dos últimos oitenta anos no Sudeste. E como agora começa o período de seca na região, aumenta ainda mais a preocupação com o nível dos reservatórios.

A gestão da água é o tema de uma série de reportagens que o Jornal Nacional começa a apresentar nesta segunda-feira (13). Na primeira delas, Alberto Gaspar e Dennys lLeutz mostram a importância das nascentes.

Nos limites da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a fazenda é bonita, bem cuidada. Mas, segundo o dono, o melhor, por lá, é mesmo a água. 

“É a minha riqueza. É a grande riqueza. E nem é só minha. Essa riqueza é de todos nós”, afirma o empresário Odilon de Lima.

A propriedade tem 13 nascentes. Pontos em que a água aflora do subsolo, formando um fluxo constante. Tirando o que se usa na fazenda, a maior parte da água desce em direção a um ribeirão. E ao importante Rio das Velhas, que fornece grande parte da água de Belo Horizonte.

A fazenda tem muita mata preservada. Mas, no alto dos morros, ela foi eliminada antes do Seu Odilon chegar por lá.

“Já tinham desmatado tudo e o pequeno fazendeiro aqui criava gado”, lembra Odilon de Lima.

O reflorestamento é possível, mas demorado. Onde não há árvores para reter a água da chuva, a estratégia é criar pequenas barragens. Já são 35 e a meta é chegar a cem.

A primeira utilidade das barraguinhas, como o Seu Odilon chama, é conter as enxurradas, impedir que elas causem dano morro abaixo. A segunda utilidade é preservar as nascentes de água mesmo nos períodos de seca.

A água retida vai se infiltrando lentamente no solo e alimenta o lençol subterrâneo. 

“A gente percebe claramente que as nascentes têm um fluxo maior e mais permanente”, diz Odilon de Lima.

Feliz com sua contribuição para a natureza, Seu Odilon se preocupa com vizinhos sem as mesmas condições para preservar nascentes.

“Acho, inclusive, que o poder público deve se preocupar em remunerar o produtor de água. Eu, felizmente, tenho outras fontes de renda. Mas não é a realidade da maioria dos produtores”, conta Odilon de Lima.

O pagamento por serviços ambientais, ou PSA, já é realidade em algumas regiões. Como a de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro, cheia de florestas e de fazendas de gado. Lá, as nascentes alimentam o Rio Piraí, que contribui para o abastecimento da Região Metropolitana do Rio. O projeto "Produtores de água e floresta" reúne poder público e entidades ambientais privadas.

O projeto inclui 53 propriedades rurais. Mais de 4 mil hectares de florestas preservadas ou em recuperação. O pagamento que elas recebem pelo serviço ambiental depende das características e das condições de cada uma. De R$ 80 a R$ 200 por hectare preservado, a cada semestre. Não é muito, mas é um bom começo, dizem os fazendeiros.

“Temos a produção de água e temos outras atividades. Então é bem possível”, afirma o produtor rural João Luis Lopes Coelho.

“Não ficamos tão somente pensando em questão ambiental, preservação ambiental. Nós visamos lucro também, nós somos empresários, mas com consciência que precisamos contribuir com a sociedade”, diz o produtor rural Sérgio Lima.

Seu Sérgio se empolga ao falar das nascentes, todas de acesso bem difícil. “Em cada grotão, entre dois morros, onde vemos uma vegetação mais densa, em cada uma delas, existe um córrego de água. Para a nascente, é ótimo que seja bem difícil e inóspito”, diz Sérgio.

Junto com outros trabalhadores rurais, Angélica participou do projeto, plantando mudas de árvores nessas encostas.

“Pau-Cigarra, Pau-Brasil, Pau-de-Cangalha, plantei aroeira. Plantamos pitanga também. Ingá, todas essas plantas plantamos”, conta a trabalhadora rural Angélica da Silva Dias.

Ela ganhou algum dinheiro e muito orgulho. "Fui eu que prantei aquilo lá! Vou falar para os netos ainda: aquilo lá fui eu que plantei”, afirma Angélica da Silva Dias.

Em São Paulo, junto a uma das castigadas represas do Sistema Cantareira, pequenos proprietários fizeram um trabalho parecido.

Financiado por uma indústria química, um projeto pretendia reflorestar 350 hectares ao redor do Reservatório Cachoeira. Não foi além de 120.

André Donizete Cunha do Amaral, gestor ambiental: Tudo que a gente está vendo de árvores são árvores a partir do Projeto Cachoeira. Antes não tinha nada existente.
Jornal Nacional: O que tinha aí?
André Donizete Cunha do Amaral: Braquiária, solo degradado.

Braquiária é um capim agressivo, que se espalha com facilidade e inibe a recuperação da vegetação nativa. Esse tipo de pastagem para o gado continua ocupando a maior parte da área. A placa do projeto até desbotou. Mas quem trabalhou nele não esquece. 

“Serviço aqui é difícil. A gente tinha uma garantia por mês, um salário fixo que vinha. Esse período foi bom”, lembra o produtor rural Silvio César Nascimento.

Em todo o Cantareira, as faixas junto a represas e cursos d’água, que deveriam ser reflorestadas prioritariamente, somam 21 mil hectares. Menos de um décimo da área total. O levantamento é do Instituto de Estudos Ecológicos, o IPE. É possível fazer, dizem os técnicos: em dez anos, e investindo R$ 350 milhões. 

“Parece bastante. Mas se a gente dividir pelo número de pessoas que necessitam dessa água para o seu consumo, então, são cerca de nove milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Vai dar mais ou menos cerca de R$ 20 por ano, ao longo de dez anos, por família”, explica Alexandre Uezu, coordenador do projeto Semeando Água.

A organização que patrocinou o Projeto Cachoeira informou que a restauração da mata ciliar já foi iniciada na área que falta recuperar. Mas que preciso de mais dinheiro para concluir a restauração.