Edição do dia 02/05/2016

02/05/2016 06h23 - Atualizado em 02/05/2016 06h23

Trabalhadores aceitam cargos mais baixos por falta de oferta no mercado

Em momento de crise, o que vale é voltar ao mercado de trabalho.
Vagas para recém-formados são preenchidas por profissionais experientes.

Flávia CintraSão Paulo

A situação não está fácil na busca por emprego. Por isso, muitas pessoas estão aceitando dar um passo para trás na carreira e assumindo cargos muito abaixo do que estavam acostumadas. Na hora de crise, o que vale é voltar ao mercado de trabalho.

Os planos para o futuro estavam bem traçados e incluíam uma evolução contínua na carreira. Mas a arquiteta Denise Fonseca não previu que nesse caminho seria demitida. “Foi em outubro de 2014. Foi de surpresa e me pegou de calças curtas. Eu tinha acabado de comprar um carro”, diz.

Ela acreditou que logo arrumaria outro emprego à altura do que tinha perdido. Mas o tempo foi passando e nada aconteceu. “Quando eu me vi sete meses sem emprego, eu cheguei a uma conclusão de que ou eu me propunha a trabalhar em uma situação diferente ou não iria ter emprego por um bom tempo”, explica Denise.

Depois de 30 anos, Denise voltou à faculdade. Hoje, estuda engenharia civil e o único trabalho que conseguiu foi como estagiária. Os números mostram que 15% das vagas para recém-formados estão sendo preenchidas por profissionais experientes.

“Quando a gente fala de PIB caindo 4%, isso é um número. Mas quando a gente olha para a realidade e vê o que as pessoas estão passando é isso que significa”, diz Eduardo Zylberstajn, economista da Fundação e Instituto de Pesquisas Econômicas.

Fernando Barros era analista em uma empresa de energia e tecnologia. Desde quando perdeu o emprego em março, passou a sentir os efeitos da crise dentro de casa. “Eu tenho dois filhos, uma de 12 anos e um de três meses. A minha filha precisa de acompanhamento médico. Só de pensar em estar desguarnecido de plano de saúde já me causa aflição”, diz.

Ele também está aceitando dar alguns passos para trás. “Hoje, eu não tenho renda. A minha fonte secou e ela tem que voltar a pingar”, diz Barros.