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Após morte de Nabiré, restam apenas quatro rinocerontes-brancos do norte no mundo

Espécie está perto da extinção, mas programas de reprodução artificial tentam salvá-la

Sudan é o último macho vivo da espécie. Ele teve os chifres cortados para reduzir as chances de ser morto por caçadores
Foto: DIVULGAÇÃO
Sudan é o último macho vivo da espécie. Ele teve os chifres cortados para reduzir as chances de ser morto por caçadores Foto: DIVULGAÇÃO

RIO — O rinoceronte-branco do norte deu mais um passo em direção à extinção. No último dia 27, Nabiré, uma fêmea de 31 anos, morreu no zoológico de Dvůr Králové , na República Tcheca. Agora, restam apenas quatro animais vivos da espécie em todo o mundo.

— É uma perda terrível — disse Přemysl Rabas, diretor do zoológico. — Um cisto patológico dentro do corpo de Nabiré era imenso, não foi possível retirá-lo. Sua morte é um símbolo do declínio catastrófico dos rinocerontes causado pela ganância humana. A espécie está à beira da extinção.

Nabiré nasceu no dia 15 de novembro de 1983, no próprio zoológico de Dvůr Králové, onde passou toda a vida, sendo uma dos quatro únicos animais da espécie que nasceram em cativeiro, todos no zoológico tcheco.

Em liberdade, os rinocerontes-brancos do norte foram caçados até a extinção, por causa do alto valor do seu chifre em mercados da península arábica e do leste asiático. O nascimento de Nabiré foi resultado de um programa bem sucedido de reprodução em cativeiro realizado pelo zoológico tcheco. Em 1975, a instituição recebeu um grupo de dois machos e quatro fêmeas que viviam no Sudão. Dois indivíduos desse grupo continuam vivos: o macho Sudan, que vive em Ol Pejeta, no Quênia, e a fêmea Nola, que está em San Diego, nos EUA.

Ao lado de Sudan vivem duas fêmeas, Nájin e Fatu, também nascidas no Dvůr Králové. Desde 2009, o grupo vive em uma reserva protegida, vigiados de perto, 24 horas por dia, por seguranças armados. Eles são a última esperança de reprodução natural da espécie, mas pesquisadores também trabalham em programas de inseminação artificial, mas que não foram bem sucedidas até então.

Nabiré foi uma das participantes do programa de reprodução em Dvůr Králové, mas ela não podia procriar por causa da grande quantidade de cistos em seu útero. Entretanto, o ovário esquerdo era saudável, e, por isso, foi retirado imediatamente após a sua morte e levado para um laboratório da Itália. Seus ovos podem ser usados para fertilização in vitro.

— É nossa obrigação moral tentarmos salvá-los. Nós somos os únicos, ao lado do zoológico de San Diego, com material biológico suficiente para fazê-lo. Nós sabemos que nossas chances são pequenas, mas a esperança ainda vive — disse Rabas.

O programa de reprodução do Dvůr Králové foi o único no mundo a obter sucesso. Em 1989, um grupo foi transferido para o zoológico de San Diego, para reduzir o risco de todos os animais da espécie morrerem por causa de uma doença, mas as tentativas de procriação no zoológico americano funcionaram.

As técnicas de reprodução artificial começaram a ser empregadas em 2001. Todas as fêmeas foram estimuladas com implantes hormonais e Nájin e Fatu receberam sêmen repetidas vezes entre 2006 e 2007, sem sucesso. Em dezembro de 2009, o zoológico resolveu transportar dois machos e duas fêmeas para a reserva Ol Pejeta, no Quênia, na expectativa que o ambiente natural desse um estímulo para a reprodução. A climatização dos animais correu bem, o ciclo hormonal das fêmeas melhorou e cruzamentos foram observados, mas elas não engravidaram.