Economia Negócios

Bolsa tem maior alta do ano e dólar fecha em R$ 3,94 após reforma

Apetite para risco sobe com provável adiamento da alta dos juros nos EUA
Foto: Chris Ratcliffe / Bloomberg News
Foto: Chris Ratcliffe / Bloomberg News

RIO - O dólar caiu a R$ 3,94 e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou a maior alta desde o ano passado nesta sexta-feira, com a reforma administrativa anunciada pela presidente Dilma Rousseff e os investidores prevendo que os juros dos EUA subirão apenas no ano que vem. O dólar comercial, que chegou a subir a R$ 4,047, fechou em queda de 1,44%, cotado a R$ 3,944 para compra e a R$ 3,946 para venda. Na mínima, caiu a R$ 3,939. Já o índice de referência do mercado acionário, o Ibovespa, avançou 3,80%, aos 47.033 pontos, com uma disparada de mais de 10% das ações da Petrobras. Foi a maior alta do índice desde os 5,02% registrados em 21 de novembro de 2014.

Dados sobre o mercado de trabalho americano e as encomendas às fábricas do país demonstraram a fragilidade da recuperação econômica da maior economia do mundo, fazendo com que os investidores alterassem suas expectativas com relação ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). A divulgação dos números reforçou junto ao mercado a aposta de que o aumento de juros ficará apenas para o ano que vem.

No cenário doméstico, a presidente Dilma Rousseff anunciou seis medidas que fazem parte da reforma administrativa do governo : a redução de oito ministérios, um corte de 10% nos salários dos ministros, a extinção de 30 secretarias em todos os ministérios, o fim de 3 mil cargos de confiança e a redução de 20% nos gastos em custeio. Também serão limitados os gastos dos funcionários com viagens e telefone e vendidos imóveis da união porque, segundo a presidente, "a União não pode continuar sendo uma grande imobiliária". A presidente também criou uma comissão permanente da reforma administrativa.

— O mercado internacional interpretou de forma muito imediata que os juros americanos não vão subir este ano. Isso significa que vai ter mais dinheiro circulando no mundo, o que incentiva a tomada de risco. Justamente quando essa interpretação estava se consolidando, o discurso da Dilma anunciou a reforma ministerial — afirmou Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

Para Ricardo Zeno, sócio-diretor da AZ Investimentos, embora a reforma tenha agradado os investidores, a avaliação é que o alívio é passageiro.

— Até o momento, o mercado parece ter gostado da reforma. De qualquer forma, trata-se de um movimento pontual. As questões problemáticas são bem maiores que isso, como o possível rebaixamento do país pela agência Fitch, a elevação dos juros nos EUA e a deterioração dos nossos indicadores econômicos. Esses são fatores que vão seguir propiciando volatilidade — disse.

Em escala global, a moeda americana desabou imediatamente após o relatório de emprego nos EUA. O índice Dollar Spot, da Bloomberg, saiu de uma leve alta para uma queda de 0,65% em questão de minutos. Agora, o indicador mede a força do dólar contra uma cesta de dez divisas recua 0,30%.

O relatório de emprego americano mostrou que, em setembro, a criação de vagas foi menor que a projetada, os salários ficaram estagnados e a taxa de desemprego se manteve estável com profissionais deixando o mercado de trabalho, sugerindo que a lentidão na economia global está tendo efeito sobre os EUA.

Foram criadas no mês passado 142 mil vagas, enquanto os economistas esperavam 201 mil, segundo pesquisa da Bloomberg. O salário médio por hora se manteve estável, em US$ 25,09, e cresceu apenas 2,2% na comparação com o mesmo mês de 2014.

PETROBRAS DISPARA

Na Bovespa, as ações da Petrobras fecharam em forte alta, com o papel ordinário (ON, com direito a voto) disparando 9,32% (a R$ 9,15) e o preferencial (PN, sem voto) subindo 10,68% (R$ 7,77). Os bancos também impulsionaram o índice Ibovespa. O Banco do Brasil saltou 6,77% (R$ 15,92), enquanto o Bradesco avançou 3,68% (R$ 22,51) e o Itaú Unibanco, 4,06% (R$ 27,97).

— As estatais estão subindo com muita força após a reforma ministerial. As movimentações políticas geram especulações sobre uma nova agenda do governo com relação a seus próprios ativos — acrescentou Raphael Figueredo.

Segundo Flávio Conde, da consultoria Whatscall, a alta da Petrobras e de outros papéis é exagerada, porém.

— A reforma, sobretudo quanto ao corte de cargos comissionados, mudou o humor do mercado, mostrando uma intenção do governo de cortar despesas. Isso teve impacto ainda maior no papel das estatais, mas acho que o movimento foi exagerado — afirmou. — Para a Petrobras, contribuiu o fato de a produção de petróleo no Brasil, divulgada ontem, ter sido maior que o esperado. Além disso, o papel estava muito barato, o que propicia altas mais intensas.

A produção brasileira de petróleo em agosto subiu pelo segundo mês consecutivo, atingindo recorde de 2,547 milhões de barris por dia (bpd) e tornando o campo de Lula, no pré-sal da Bacia de Santos, o principal produtor do país pela primeira vez. O volume extraído foi 3,3% superior a julho e 9,5% maior que agosto de 2014, segundo dados publicados na quinta-feira pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A Vale, que foi um dos destaques do pregão de ontem, hoje subiu 3,48% (ON, a R$ 17,82) e 3,88% (PN, a R$ 14,46).