Política Lava-Jato

PF prende ex-deputados Luiz Argôlo, André Vargas e Pedro Corrêa em nova fase da Lava-Jato

Investigações agora chegam à Caixa Econômica e Ministério da Saúde

Polícia Federal deflagra 11ª fase da Operação Lava-Jato
Foto: Divulgação Polícia Federal
Polícia Federal deflagra 11ª fase da Operação Lava-Jato Foto: Divulgação Polícia Federal

SÃO PAULO, CURITIBA e BRASÍLIA - A Polícia Federal realizou nesta sexta-feira a 11ª fase da Operação Lava-Jato. Três ex-deputados foram presos preventivamente: André Vargas (sem partido), Luiz Argôlo (SD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE), que cumpre regime semiaberto por ter sido condenado no mensalão. Foram detidos provisoriamente: a secretária de Argôlo, Hélia Santos da Hora, Ivan Mernon da Silva Torres, Leon Vargas (irmão de André Vargas) e Ricardo Hoffman, diretor de uma agência de publicidade. Eles são suspeitos de participar de esquema de desvio de dinheiro em contratos de publicidade com o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal . A operação foi batizada de “Origem”, por ter se voltado ao Paraná, estado de Vargas e onde as investigações da Lava-Jato começaram.

Ricardo Hoffman, dono da agência Borghi/Lowe em Brasília, tinha contas com a Caixa e Ministério, e é suspeito de operar esquema semelhante ao do mensalão, com repasses a políticos. A Polícia Federal apreendeu hoje na agência de publicidade documentos relacionados às faturas dessa empresa, em contratos com o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal e envolvendo também a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil)

Pelo menos cinco produtoras de filme, que teriam pagado duas empresas fantasmas - atribuídas ao envolvidos nessa fase - por prestações de serviço que não existiram também foram alvo de fiscalização. As produtoras foram subcontratadas pela Borghi/Lowe.

Na operação, a PF cumpriu 32 ordens judiciais nos estados de Paraná, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Além das prisões, havia16 mandados de busca e apreensão e 9 de condução coercitiva. Também foi decretado o sequestro de um imóvel de alto padrão na cidade de Londrina.

A pontado como laranja de Pedro Corrêa, Ivan Mernon foi preso em Niterói, no Rio de Janeiro. Argôlo e sua secretária, Hélia Santos da Hora, foram detidos em Salvador, ambos em suas casas. A secretária chegou a ir para a sede da Polícia Federal em Salvador, de onde seguiu para o aeroporto para embarcar rumo à Curitiba. Já o ex-deputado, foi levado de sua casa direto para o aeroporto.

A advogada da secretária, Cristiane Costa, afirmou que a prisão de sua cliente foi uma surpresa e, apesar de dizer que desconhece o motivo, afirmou que se trata de uma acusação infundada.


Hélia, secretária de Argôlo, deixa a sede da PF rumo ao aeroporto de Salvador
Hélia, secretária de Argôlo, deixa a sede da PF rumo ao aeroporto de Salvador

A PF prendeu também Leon Vargas, irmão de André Vargas, em Londrina (PR). O ex-deputado Pedro Corrêa já está preso em Canhotinho, no Agreste Pernambucano, mas o juiz Sérgio Moro pediu sua transferência para Curitiba. Hoffman foi preso no Distrito Federal. Com base num mandado de condução coercitiva, a polícia também levou para depor Mônica Maria Souza Cunha e Vera Lúcia Leite.

Segundo a PF, os crime abrangem organização criminosa, quadrilha ou bando, corrupção ativa, corrupção passiva, fraude a procedimento licitatório, lavagem de dinheiro, uso de documento falso e tráfico de influência. Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Durante a Operação, a PF utilizou um dos carros que pertencia ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos delatores do esquema, Paulo Roberto Costa. Os veículos apreendidos na Lava-Jato foram cedidos pela justiça, provisoriamente, à Polícia Federal.

A Range Rover usada na 11ª fase Operação foi peça chave na investigação do escândalo na Petrobras. A justiça identificou a partir do veículo a ligação entre o doleiro Alberto Youssef e o então diretor Paulo Roberto Costa, uma vez que o carro havia sido registrado no endereço do doleiro, mas em nome de Costa.

RELAÇÕES COM O DOLEIRO ALBERTO YOUSSEF

André Vargas, Luiz Argôlo e Pedro Corrêa, presos na Lava-Jato Foto: Montagem
André Vargas, Luiz Argôlo e Pedro Corrêa, presos na Lava-Jato Foto: Montagem

Um dos 40 réus no processo do mensalão, Pedro Corrêa foi condenado em 2013 a sete anos e dois meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e cumpre pena em regime semiaberto. Ele é acusado pela Polícia Federal (PF) de "dar sustentação à nomeação e à permanência nos cargos da Petrobras" de diretores e gerentes ligados ao esquema de corrupção.

De acordo com despacho de Moro, mesmo depois de cassado no processo do mensalão, o ex-parlamentar "não perdeu seu poder político, tendo inclusive logrado eleger sua filha Aline Correa para a Câmara dos Deputados". Na delação premiada, Alberto Youssef reporta-se por diversas vezes a Pedro Correa como um dos membros do PP que dava apoio a Paulo Roberto Costa e que, por conseguinte, recebia pagamentos de propina.

Moro esclarece que ainda não foi colhida prova documental de todos o repasses de valores efetuados por Alberto Youssef a Pedro Corrêa. Contudo, e-mails interceptados de conversas entre Youssef e Corrêa mostram supostas transações bancárias que somam ao menos R$ 100 mil. O juiz justificou a prisão de Corrêa afirmando que "a prova do recebimento de propina mesmo durante o processamento da Ação Penal 470 (mensalão) reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime, recomendando, mais uma vez, a prisão para prevenir risco à ordem pública".

André Vargas, que foi vice-presidente da Câmara, foi cassado em 10 de dezembro de 2014. Vargas foi flagrado em telefonemas com o doleiro Alberto Youssef. O doleiro pagou um voo para que Vargas fosse com sua família para João Pessoa (PB) no início de 2014. Investigações da Operação Lava-Jato mostraram que Vargas teria auxiliado o laboratório Labogem a conseguir uma parceria com o Ministério da Saúde. O laboratório era usado pelo doleiro para o envio ilegal de recursos ao exterior, como já admitiram os proprietários da empresa.

Já Luiz Argôlo, segundo as investigações, recebeu, ao menos, R$ 1,2 milhão do doleiro Alberto Youssef, alvo central da Operação Lava-Jato. O ex-deputado também seria sócio de Youssef na empresa de engenharia Malga. Segundo a polícia, o deputado e o doleiro trocaram 1.411 mensagens num determinado período. A intimidade era tamanha entre os dois que o deputado tinha até um telefone exclusivo só para falar com Youssef com a conta paga pelo doleiro. Ele teria recebido pelo menos R$ 330 mil no esquema. E chegou a culpar a imprensa por não ter sido reeleito. O dinheiro chegou a ser entregue em seu apartamento funcional em Brasília durante o seu exercício como parlamentar.

MORO PEDE O BLOQUEIO DE R$ 120 MILHÕES

Moro determinou o bloqueio de até R$ 120 milhões de seis pessoas presas na manhã desta sexta-feira. A medida afeta os ex-deputados Pedro Corrêa e Luiz Argôlo; a nora de Corrêa, Marcia Corrêa; a secretária de Argôlo, Elia Santos da Hora; e Ivan Vernon. Para cada um, o magistrado pediu o bloqueio de até R$ 20 milhões.