Ana Paula Blower*

Desde sua chegada ao Vaticano, o Papa Francisco é acompanhado de polêmicas. Após a renúncia de Bento XVI, o único a deixar o pontificado em 600 anos, Francisco se tornou o primeiro Papa latino-americano a assumir o posto, em 13 de março de 2013. Quatro meses depois, no dia 22 de julho de 2013, o Pontífice desembarcava no Brasil para uma viagem de sete dias em que não faltaram quebra de protocolos, lágrimas de fiéis, carisma e cenas não previstas no seu roteiro. A primeira cidade visitada foi o Rio de Janeiro, onde presidiu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), encontrando católicos e curiosos do mundo todo. De religioso pouco conhecido no início daquele ano, ele passou a ser o símbolo simpático de uma nova era na Igreja Católica.

A ansiedade era enorme. De um lado, cariocas que aproveitavam o feriado para deixar a cidade e fugir da multidão. Do outro, centenas de milhares de pessoas contavam as horas para ver, mesmo que de longe, o carismático Papa Francisco. Em sua primeira viagem ao exterior como Papa, o religioso pousou num Rio de temperaturas amenas, às 15h45m de uma segunda-feira, e foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, no Aeroporto Internacional do Galeão. Depois percorreu as ruas do Centro, num papamóvel de vidros abertos, não blindado. Na época, chegou a afirmar que "ou se faz uma uma viagem com comunicação humana, ou não se faz".

Francisco pegou crianças no colo, abraçou dependentes químicos, disse que queria ir à casa de cada brasileiro tomar um cafezinho, arrancou lágrimas de fiéis e despertou a emoção dos mais céticos. Os cariocas pela primeira vez conheciam um Papa de um país vizinho, a Argentina. Nem mesmo a hostilidade aos hermanos, presente no futebol, conseguiu abalar sua imagem. Pelo contrário, disse o que muitos queriam ouvir: em seu primeiro discurso, saudou os jovens e, em seguida, ao longo da visita, falou sobre desigualdade social e respeito aos políticos e instituições. No mês anterior à sua chegada, as mesmas ruas que seriam palco da fé cristã, foram cenário de manifestações, o que endureceu o sistema de segurança nacional para a visita do Papa. Do outro lado, na época, o Vaticano acalmou ânimos e assegurou até que o religioso não usaria papamóvel blindado, intensificando sua aproximação com o público.

Em tom de brincadeira, o Papa chegou a anunciar: “O Papa é argentino e Deus é brasileiro”, caindo, ainda mais, nas graças de todos. Consagrava-se, assim, o Papa Pop, que vêm mudando a imagem da Igreja católica no mundo.

Em sua passagem por aqui, o religioso arrastou multidões. Segundo organizadores do evento, cerca de três milhões de pessoas se reuniram para ouvi-lo rezar a Missa de Envio, nas areias de Copacabana. Depois do Rio, o Papa seguiu para Aparecida, em São Paulo, onde realizou missa e almoçou com seminaristas. Ainda em 2013, Francisco foi eleito personalidade do ano pela revista “Time”, e sua passagem pela JMJ foi considerada determinante para isso.

É bem verdade que Francisco substituiu um Papa que não tinha como forte a simpatia, mas ele surpreendeu. Assumiu o Vaticano num momento de contestação à Igreja Católica, enfrentando escândalos de corrupção e pedofilia. Nos meses que se seguiram, opinou também sobre temas polêmicos e pouco falados no universo católico, como homossexualidade e separação.

O Papa voltou a fazer história, em 2015, quando Estados Unidos e Cuba reataram relações diplomáticas. Ele, de novo ele, estava por trás de um fato histórico, baseado numa nova visão de mundo: ajudou a aproximar inimigos desde os anos 60, no auge da Guerra Fria. Em julho do ano passado, Francisco voltou ao seu continente e realizou viagens por Equador, Bolívia e Paraguai. Na ocasião, o Papa Francisco fez críticas ao capitalismo extremo e usou tom político em seus encontros e declarações. Como já anunciou, seu pontificado será curto, mas outras polêmicas e surpresas ainda podem vir.

*Com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO

Copacabana. Peregrinos assistem à Via Sacra e ao discurso do Papa Francisco, reproduzido em telões: 1,5 milhão de pessoas na praia

Copacabana. Peregrinos assistem à Via Sacra e ao discurso do Papa Francisco, reproduzido em telões: 1,5 milhão de pessoas na praia Paula Giolito 26/07/2013 / Agência O Globo