Economia

Tombini: ajuste fiscal está mais lento que o esperado

Para presidente do BC, fim de subsídios no setor de energia e impostos sobre combustíveis pressionaram inflação

Alexandre Tombini no encontro do FMI e do Banco Mundial em Lima, no Peru
Foto: STRINGER/PERU / REUTERS
Alexandre Tombini no encontro do FMI e do Banco Mundial em Lima, no Peru Foto: STRINGER/PERU / REUTERS

LIMA - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou, nesta quinta-feira, em seu discurso no Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), que o ajuste fiscal está sendo realizado em velocidade mais lenta que a esperada e que “fatores domésticos não econômicos” tem ampliado a volatilidade do mercado. Por outro lado, ele vê impactos positivos da desvalorização do real, onde os exportadores podem funcionar como “motores” da retomada do crescimento.

— No caso brasileiro, fatores domésticos também têm desempenhado um papel importante na dinâmica da taxa de câmbio. Incertezas quanto à trajetória das variáveis fiscais e não-econômica têm aumentado os prêmios de risco país e acrescentou a volatilidade ao mercado doméstico — disse no evento em Lima, no Peru.

Tombini informou que o real mais desvalorizado podem beneficiar setores que representam cerca de 15% do PIB, que podem ampliar as exportações com a mudança nos preços relativos. O presidente do Banco Central ainda afirmou que, por outro lado, o país está mais preparado para grandes choques de câmbio, possui reservas de mais de US$ 370 bilhões e está evitando fortes desequilíbrios financeiros que aconteceriam no passado, em caso de fortes desvalorizações como esta.

— O setor empresarial no Brasil não é excessivamente exposto a riscos cambiais. A maior parte da dívida em moeda estrangeira das empresas é de propriedade companhias que são grandes exportadoras, têm ativos substanciais no exterior ou têm hedge de suas exposições através de derivados. Em qualquer caso, estamos monitorando de perto a evolução no setor corporativo — afirmou Tombini, lembrando que o déficit em conta corrente já está diminuindo e que será totalmente financiados pelo investimento estrangeiro direto.

Se por um lado Tombini afirma que a situação cambial não gera muitos riscos, ele faz alertas para a inflação. Entretanto, ele afirma que o BC está atendo a isso:

—  Estamos observando  níveis anormais de incerteza (da inflação) e ainda não sei se eles vão persistir. Neste contexto, é importante que o BC não reaja de forma exagerada aos movimentos de curto prazo, o que poderia realmente adicionar volatilidade — disse.

INFLAÇÃO E DEMORA NO AJUSTE

Mais cedo, o presidente do BC afirmou que parte da alta da inflação no Brasil é decorrente do ajuste fiscal e da demora em sua aprovação. Ele lembrou que o ajuste fez a cotação do dólar subir e levou ao fim de subsídios no setor de energia e a novos impostos sobre combustíveis (Cide), ambos afetando os preços.

— O ajuste fiscal está em velocidade diferente do que imaginávamos e isso tem a ver com questões políticas, mas há um consenso crescente em torno do ajuste fiscal e isso vai ajudar. Mas o ajuste fiscal mais lento teve impacto na taxa de câmbio e isso trouxe certas dificuldades para reancorar as expectativas — disse ele, que participa do seminário “Desafios para os Bancos Centrais da América Latina”, dentro do encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial na capital peruana.

Tombini afirmou, contudo, que vê as expectativas de inflação para longo prazo voltando à meta, que é de 4,5%, podendo variar dois pontos para cima ou para baixo.

Ele concordou com colegas que participam do seminário que a região precisa se ajustar ao choque da queda do preços das commodities (produtos básicos de cotação global, como soja, minério de ferro e petróleo) e às novas condições globais, incluindo um freio no crescimento da China e ao aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. E ressaltou que não cabe apenas ao Banco Central enfrentar esses desafios.

O presidente do BC disse ainda que é preciso uma estrutura de política macroeconômica forte para lidar com a nova realidade, e que o Brasil é relativamente flexível. Afirmou também que o país mantém uma boa estabilidade financeira e que o sistema bancário é sólido. Ele destacou que o BC tem, desde 2010, novos instrumentos para combater crises, incluindo uma robusta reserva externa.

— Mas se tem algo que aprendemos nos últimos anos é que as crises econômicas sempre têm custos altos — disse.