Rio

Oferta de quartos para as Olimpíadas deve superar meta

A preocupação dos empresários é evitar ociosidade

Hotel da Rede Yoo2 em construção na Praia de Botafogo
Foto: Hermes de Paula/O Globo
Hotel da Rede Yoo2 em construção na Praia de Botafogo Foto: Hermes de Paula/O Globo

RIO - A dez meses das Olimpíadas, o Rio já conseguiu cumprir a meta prevista no dossiê de candidatura de contar com pelo menos 40 mil quartos. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ), a oferta durante o evento, em agosto de 2016, deve chegar a 62 mil quartos, 55% a mais que o proposto inicialmente. No cálculo, entram apenas as vagas em meios convencionais, como hotéis, apart-hotéis e residenciais com serviços. O total poderá passar de 95 mil, levando-se em conta a oferta de imóveis particulares pelo aplicativo Airbnb (cerca de 20 mil) e 213 albergues (4 mil), além de 9.311 vagas provisórias oferecidas pelo Comitê Rio 2016 e pela prefeitura. Diante desse quadro, a preocupação dos empresários passa a ser outra: sustentar esses investimentos a longo prazo.

Em 2009, quando o Rio venceu a disputa para sediar as Olimpíadas, hospedagem e mobilidade urbana estavam entre as principais preocupações. Na época — quando a cidade contava com 28 mil vagas —, a equipe responsável pela candidatura chegou a cogitar arrendar até 8,5 mil quartos em pelo menos seis transatlânticos que ficariam ancorados na Praça Mauá. No desenvolvimento do projeto olímpico, ficou apenas um navio, com 1,9 mil vagas, que já estava reservado. As outras 7.413 vagas provisórias ficarão em condomínios do programa Minha Casa Minha Vida em Jacarepaguá (em construção) e de alto padrão no Recreio dos Bandeirantes. Segundo a ABIH, dos 62 mil quartos previstos, cerca de 80% foram reservados com sinal pago pelo Comitê Rio 2016 (todos em hotéis de três, quatro e cinco estrelas). O comitê ainda pode desistir de parte das reservas até o fim do ano.

Para o setor hoteleiro, o fantasma da falta de acomodações está afastado, e o desafio agora é repetir o desempenho de algumas cidades que, após sediarem as Olimpíadas, experimentaram aumento no número de visitantes. Isso aconteceu com Londres, última cidade a promover os Jogos (2012). Em 2013, a capital britânica registrou um recorde de mais de 12,8 milhões de estrangeiros — 12% a mais do que em 2012.

— Ninguém constrói hotel pensando em Olimpíadas. São investimentos cujo retorno se dá a longo prazo. É fundamental que o Rio aproveite a exposição que a cidade terá por causa dos Jogos para criar um calendário sólido de eventos — afirma o presidente da ABIH, Alfredo Lopes.

Prefeitura quer ampliar eventos

O presidente da Rio Eventos, Mário Felippo, disse que a prefeitura já se articula para atrair mais turistas após os Jogos. Segundo ele, umas dessas iniciativas é um decreto, que entrou em vigor na última sexta-feira, reduzindo as exigências para autorização de eventos na cidade. Ele acrescentou que, desde meados de agosto, já recebeu cerca de 80 propostas para promoção de feiras, congressos e festivais musicais na cidade em 2016 e 2017. Uma das ideias é que o Rio volte a sediar a etapa brasileira da Volvo Ocean Race (principal torneio internacional de regatas), na Marina da Glória. Na área de shows, isso incluiria edições cariocas do Bonnaroo Music Festival (que reúne artistas de diversos gêneros como rock, hip hop, jazz, reggae e pop) e do Ultra Music Festival (especializado em música eletrônica).

— Esses festivais musicais geralmente atraem público de mais de 50 mil pessoas. Ainda para 2016, estamos fechando com um organizador a realização de uma série de shows de MPB antes das Olimpíadas — contou Felippo.

Nem todos os indicadores, porém, são favoráveis. Mesmo com o aumento da concorrência nos últimos anos, a ABIH vinha registrando crescimento nas taxas de ocupação. Em 2015, a crise econômica provocou uma retração no mercado. A consequência é que os indicadores deste ano foram os piores registrados pela hotelaria desde 2008. E o problema é mais grave justamente na região da Barra da Tijuca e do Recreio, onde se encontra a maioria dos empreendimentos novos e em construção.

Em meio à crise, a ABIH pretende discutir com a prefeitura uma revisão no prazo para a concessão do habite-se dos “hotéis olímpicos”. Em 2010, o setor ganhou incentivos fiscais da prefeitura, como isenção ou abatimento de IPTU e ISS, para ampliar a oferta de quartos, condicionando a manutenção do benefício à concessão do habite-se até dezembro deste ano. Alfredo Lopes quer estender esse prazo. A prorrogação, porém, pode exigir o aval da Câmara dos Vereadores, que aprovou o pacote. O prefeito Eduardo Paes ainda não se manifestou sobre a reivindicação.

Sem apontar os hotéis que estariam com as obras atrasadas, a ABIH alega que vários fatores teriam contribuído para o problema. O principal não tem ligação com a crise: a dificuldade de se encontrar, nos últimos anos, mão de obra especializada e equipamentos, que já estavam mobilizados na execução de obras de infraestrutura.

As principais redes hoteleiras que investem no Rio não divulgam suas taxas de ocupação, alegando que essa é uma informação estratégica. São os casos, por exemplo, da Accor e Windsor, cujos executivos mantêm o discurso otimista. Até 2020, a Accor (Ibis, Ibis Budget, Novotel e Mercure) pretende inaugurar 20 em todo o estado. Dos 12 hotéis em construção ou recém-abertos na cidade tendo como objetivo as Olimpíadas, seis ficarão na Barra e vizinhanças:

— A Accor, antes de abrir um hotel, faz um longo estudo sobre o local. A conclusão é que existe uma demanda por muitos anos — disse Eduardo Camargo, diretor de Novos Negócios da empresa para a América do Sul.

CIDADE tem 57 hotéis em obras

O tom é parecido na rede Windsor, que inaugurará mais três hotéis na Barra nos próximos meses. Ao todo, serão oferecidos mais 1.560 leitos:

— Nós trabalhamos com planejamento a longo prazo e temos um negócio voltado para eventos corporativos. A crise existe, mas o impacto não foi tão grande para nós — diz o diretor de Marketing da Windsor, Paulo Marcos.

Ao todo, a cidade terá 289 hotéis para as Olimpíadas. Atualmente são 232 —57 ainda estão em obras. A lista inclui imóveis fechados que estão em reforma, como o icônico Hotel Nacional, em São Conrado. Na Barra, as obras para tirar do papel o primeiro resort da rede Hyatt no Rio incluíram até a ampliação de pistas e construção de um novo retorno na Avenida Lúcio Costa. Em Botafogo, a rede Yoo2 vai inaugurar em 2016 seu primeiro hotel, projetado pelo escritório de Philippe Starck. Por outro lado, o cenário ainda é de indefinição em relação ao Hotel Glória, cuja reforma praticamente parou.