Quinta, 02/04/2015, 09:30

Cinco anos após tragédia do Morro do Bumba, 2.859 famílias vivem de aluguel social de R$ 400

O valor é o mesmo desde o deslizamento que matou 48 pessoas. Trinta famílias moram em área de risco, perto do local do desabamento. Apenas 12% vivem em apartamentos cedidos pela prefeitura de Niterói.

por Natalia Furtado (natalia.furtado@cbn.com.br)

Em áreas de risco, em casas de parentes, em barracos sem telhado. Esta é a realidade de muitas pessoas que perderam as casas na tragédia do morro do Bumba, no dia 7 de abril de 2010. 48 pessoas morreram no deslizamento e cerca de 3.200 casas da região foram afetadas pelas chuvas. Cinco anos depois, mais de 2.850 famílias ainda recebem um aluguel social de R$ 400 e não têm previsão de receber um imóvel. O valor é o mesmo desde a tragédia e limita as opções de moradia para as vítimas das chuvas daquele ano. Com uma inflação acumulada de 35% desde abril de 2010, o benefício já deveria ter sido reajustado para R$ 540. Sem saber para onde ir, 30 casas ainda resistem no alto do morro em áreas de risco.

Casa em área de risco no Morro do Bumba (Crédito: Natalia Furtado)

É o caso de Laís de Sá Araújo Barreto. Moradora do Bumba há mais de 15 anos, ela não vê a hora de deixar a comunidade. Mas não achou nenhuma casa para alugar por 400 reais. A dona de casa mora com o marido e dois filhos, de 7 e 13 anos. Laís conta que tem medo de ficar no imóvel quando está chovendo e, por isso, sempre vai para a casa da irmã. 

- Quando está chovendo muito eu vou para a casa da minha irmã, não fico aqui. Com as coisas que acontecem aqui, poste caindo sozinho, sem chuva, a gente fica até com medo. E naquela época não estava nem chovendo quando aconteceu aquilo. Estava apenas garoando. Eu fico com medo porque a terra aqui está sempre molhada mesmo. Tudo úmido. Eu fico até com medo de ficar aqui.

Laís Barreto mora até hoje no Morro do Bumba (Crédito: Natalia Furtado)

A dona de casa ainda afirmou que agentes da prefeitura pediram para ela sair do local e ameaçaram derrubar a sua casa. Laís disse que foi informada de uma rachadura na encosta atrás do imóvel, mas não tem condições de sair do morro.

- Cada um tem o seu jeito de ser. Quer viver aqui, vive. Mas eu quero sair. Se desse, eu já teria saído há muito tempo. Não tem como eu sair daqui com R$ 400. Falaram que atrás da minha casa tem uma rachadura. Eles ficam colocando pânico na gente porque aqui atrás de casa é uma barreira. Eu fico só olhando cheia de medo. Eu falei para eles que se me arrumassem uma casa por R$ 400 eu saía daqui. Mas nem um quitinete custa R$ 400.

Imóvel onde mora a dona de casa Laís de Sá (Crédito: Natalia Furtado)

Quem conseguiu ganhar um apartamento para morar ainda não vê a tragédia como coisa do passado. Há dois anos, 147 famílias se mudaram para o conjunto habitacional Viçoso Jardim, bem em frente ao morro do Bumba. Até hoje, eles temem uma encosta que fica atrás dos prédios. Segundo o engenheiro Francisco Carlos, o governo prometeu fazer um muro de contenção, que deveria ter ficado pronto em maio do ano passado, mas somente uma parte foi feita. 

- As pessoas já saem de um problema e estão encarando outro aqui. Grande parte da encosta tem 4 metros de altura. Chega até o quarto andar do prédio. As pessoas que já passaram por trauma e conseguiram sobreviver estão aqui, mas ficam receosas. Vieram aqui, fizeram uma obra, mas pararam porque o orçamento foi maior do que a verba disponibilizada. E nós ficamos aqui nessa situação mais uma vez.

Encosta atrás do conjunto habitacional Viçoso Jardim (Crédito: Natalia Furtado)

Os moradores do condomínio ainda reclamam de rachaduras e infiltrações. Em nota, o governo do estado informou que fez uma vistoria técnica no conjunto residencial e constatou que não existe abalo na estrutura dos prédios. A Secretaria de Obras disse ainda que não existe risco de deslizamento na encosta e que o local recebeu uma geomanta para previnir qualquer acidente em épocas de chuva. Já a prefeitura de Niterói informou que 240 famílias do morro do Bumba foram para conjuntos habitacionais. Segundo o órgão, 92 aguardam para receber as chaves do conjunto habitacional Zilda Arns, no Fonseca, construído pela Caixa Econômica Federal. O condomínio deveria ter sido entregue em julho de 2013, mas atrasou porque 2 prédios foram demolidos após serem detectados sérios danos na estrutura dos edifícios. Depois disso, o prazo foi prorrogado para o final do ano passado, mas até hoje não foi entregue. Segundo a Caixa, o conjunto habitacional ficará pronto no final de junho. 

Condomínio Zilda Arns está atrasado quase dois anos (Crédito: Natalia Furtado)

Casa de Laís está em um local considerado área de risco (Crédito: Natalia Furtado) Casa de Laís está em um local considerado área de risco
(Crédito: Natalia Furtado)
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