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Seguindo os passos da Netflix, empresas como Amazon, Hulu e Playstation lançam suas próprias séries, mas a maioria não chega ao Brasil

Conheça outros serviços de streaming indisponíveis no país
A série 'Mozart in the jungle' com Gael García Bernal
Foto: Divulgação
A série 'Mozart in the jungle' com Gael García Bernal Foto: Divulgação

RIO - Amazon Instant Video, Hulu e até Playstation. Enquanto a Netflix domina o mercado de video on demand no Brasil, com produções como “House of cards” e “Orange is the new black”, nos Estados Unidos há muito mais plataformas produzindo séries e filmes especificamente para transmissão on-line. Grande vencedora entre as comédias no Globo de Ouro deste ano, “Transparent”, lançada em 2014 pelo serviço de streaming da Amazon, não tem data para chegar ao Brasil. Muito menos “The man in the high castle”, outra produção da Amazon, cujo piloto fez tanto sucesso que já teve uma temporada completa encomendada, para estrear no segundo semestre.

Das muitas séries que o gigante do varejo vem produzindo, apenas três podem ser vistas legalmente no Brasil. A mais bem-sucedida é “Mozart in the jungle” (rebatizada de “Sinfonia insana”), em que Gael García Bernal vive o excêntrico regente da Orquestra Sinfônica de Nova York. A produção é exibida desde a semana passada pela Fox Life (vai ao ar toda quarta, às 22h), num canal de TV tradicional, portanto. Além dela, “Alpha House”, comédia política com John Goodman e participações especiais de Bill Murray, Haley Joel Osment e Cynthia Nixon; e “Betas” estão disponíveis no Brasil, dentro da plataforma Clarovideo. E só.

Apesar dos riscos de pirataria, não há previsão para que o Amazon Instant Video seja disponibilizado aos brasileiros. Atrelado ao Amazon Prime, sistema de entregas expressas via assinatura da empresa, o modelo de negócios não se aplica à realidade brasileira, onde a Amazon comercializa apenas livros (físicos e digitais).

Jeffrey Tambor em 'Transparent' Foto: Divulgação/Amazon
Jeffrey Tambor em 'Transparent' Foto: Divulgação/Amazon

Presente nos Estados Unidos, no Reino Unido, no Japão, na Austrália e na Alemanha, o Amazon Instant Video promete lançar oito produções até 2016. Pouco se comparado à pioneira Netflix, que anunciou 70 lançamentos para o mesmo período (entre estreias e novas temporadas). Ainda assim, o serviço concorrente já se destacou: no Globo de Ouro, “Transparent” venceu o prêmio de melhor série de comédia e de melhor ator do gênero (Jeffrey Tambor, intérprete do pai de família que se revela transexual, numa história tão delicada quanto divertida). Enquanto isso, a Netflix tem apenas prêmios de atuação, para Kevin Spacey e Robin Wright, de “House of cards”, além de ter sido esnobada pelo Emmy nos últimos dois anos (e já se aposta em “Transparent” como forte candidata na próxima edição do prêmio, em 20 de setembro).

— Os concorrentes da Netflix nos Estados Unidos estão em posições muito diferentes. O Amazon Instant Video é o mais próximo. Produz séries originais e tem um catálogo licenciado por outros estúdios. Além disso, ela tem muitas linhas de atuação no varejo, usado para financiar essas séries — explica Alyssa Rosenberg, crítica de TV do jornal “The Washington Post”. — O Hulu também não tem um catálogo próprio enorme, mas conta com atrativos. Oferece, por exemplo, parte dos filmes da ( distribuidora ) Criterion Collection. Já o Playstation acabou de entrar no jogo, e é voltado para quem joga videogame. Vai ser bem interessante ver como eles se movem.

Na disputa, a Amazon se prepara para lançar a série “The man in the high castle”, que teve o piloto mais bem votado entre seus assinantes. Funciona assim: a Amazon Studios grava uma série de pilotos, e os que mais agradam aos usuários entram em produção, ganhando uma temporada completa. A série, baseada no livro de Philip K. Dick, imagina o que teria acontecido aos EUA caso os nazistas tivessem vencido a Segunda Guerra Mundial ( spoiler : segundo Dick, o país teria sido dividido entre alemães e japoneses, numa outra forma de Guerra Fria). O episódio causou comoção junto a público e crítica.

Cena da série 'East Los High', do Hulu Foto: Todd Williamson / Divulgação
Cena da série 'East Los High', do Hulu Foto: Todd Williamson / Divulgação

Para crescer o bolo, há também a tão alardeada série de Woody Allen, a primeira incursão do prolífico cineasta no formato, ainda sem tema, título ou previsão de estreia. E séries criadas por Guillermo Del Toro, de “O labirinto do fauno”, e Jean-Pierre Jeunet, de “O fabuloso destino de Amélie Poulain” (uma adaptação das histórias de Casanova com Diego Luna no papel principal).

O Hulu oferece programas de diversos canais americanos, e também os que ele próprio produz (destes, não há nada disponível no Brasil). Entre as séries originais, destacam-se “East Los High” e “11/22/63”. A primeira é uma mistura de “Gossip girl” e “Pretty little liars” com clima de novela adolescente e elenco 100% latino (pela primeira vez numa série americana). Prestes a entrar em seu terceiro ano, a produção foi apontada pelo jornal “Los Angeles Times” como uma das apostas do último verão. Já “11/22/63”, baseada no livro homônimo de Stephen King, reimagina o assassinato de John Kennedy. Produzida por J.J. Abrams, criador de “Lost” e diretor de “Star Wars”, terá James Franco como protagonista.

— Por ser um serviço de streaming, e o único que compartilha as audiências em tempo real com os produtores, desenvolvemos um estudo para os roteiristas de “East Los High” entenderem quais episódios causam mais efeito e são mais compartilhados, e quais tramas prendem mais o espectador — diz o carioca Maurício Mota, produtor-executivo da série. — Isso influenciou a maneira como “East Los High” foi escrita.

Mota conta que a série, indicada a três Daytime Emmys (uma versão do prêmio dedicada a programas exibidos durante o dia), está sendo negociada com canais de Brasil, América Latina, Europa e Ásia.

“O CONTEÚDO ORIGINAL É REI”

Cena da série 'Powers', do Playstation Foto: Divulgação/Bob Mahoney
Cena da série 'Powers', do Playstation Foto: Divulgação/Bob Mahoney

A última concorrente a entrar em campo foi a Playstation Network, braço de mídia atrelado ao videogame. Sua primeira incursão em dramaturgia é a série “Powers”. Baseada nos quadrinhos homônimos de Brian Michael Bendis publicados pela Marvel e centrada num super-herói que perde os poderes e vira policial (vivido por Sharlto Copley), a série não é transmitida aos assinantes brasileiros do serviço. E nem o primeiro episódio, “servido” como degustação também no YouTube e Crackle, pode ser acessado no Brasil.

Lá fora, “Powers” vem sendo elogiada, mas... “Ninguém vai assinar a Playstation Network apenas para assistir a uma única série (...). ‘Powers’ existe como um pequeno e agradável bônus para quem já assina, mas certamente não é motivo para alguém se registrar no serviço”, escreveu Paul Tassi na revista “Forbes”.

— O mercado de streaming cresce rapidamente, mas ainda é muito novo. Nós não sabemos qual modelo vai prevalecer — diz o analista da indústria de telecomunicações Jeff Kagan. — O conteúdo original é rei, claro, mas só para uma pequena fatia do bolo. Se um cliente está interessado numa série em particular, então o serviço que a exibe vence. A Netflix criou esse espaço, mas todos os outros estão indo atrás. E, como em qualquer canal, se um programa é um sucesso, ele ganha. Senão, segue-se tentando.

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