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Bem humorado, Ed Motta abre show em São Paulo cantando 'Manuel'

Muito aplaudido, cantor demonstrou bom humor e conversou com a plateia depois de se envolver em polêmica em rede social
Ed Motta durante apresentação no Terra da Garoa, centro de São Paulo Foto: Michel Filho / Agência O Globo
Ed Motta durante apresentação no Terra da Garoa, centro de São Paulo Foto: Michel Filho / Agência O Globo

SÃO PAULO — Longe de parecer abalado psicologicamente ou arrependido de ter protestado no Facebook contra o que classificou de "turma simplória" (os brasileiros que vão vê-lo no exterior), Ed Motta exibiu um surpreendente bom humor durante o show desta sexta-feira (17) no Terra da Garoa, na região central de São Paulo.

Com meia hora de atraso, ele apareceu no palco usando boné, camiseta e um enorme relógio branco e, contra seu próprio planejamento, abriu a apresentação tocando "Manuel" acompanhado apenas da sua guitarra. Antes de começar, pediu à plateia para gravá-lo tocando com os seus celulares e, durante a música, convidou o público a acompanhá-lo.

Depois do show, Ed foi ao Facebook, onde toda a polêmica se originou, para agradecer ao público que esteve presente: "São Paulo meu maior público no Brasil, cidade que me sustenta substancialmente desde 1988! A atenção, educação, e respeito de sempre com minha arte", escreveu o músico. "Foi emocionante pra mim, numa semana difícil por conta de minhas declarações, São Paulo vem e me abraça como um parente amado. Sempre amei SP, e condutas como essa só colocam minha admiração em estado de graça. Agradeço a Deus por me permitir fazer música, e poder honrar isso a cada dia da minha vida!"

APLAUSOS APÓS TODAS AS MÚSICAS E COVER DE TIM MAIA

Muito aplaudido após todas as músicas, Motta fez piadas, contou histórias sobre as canções, dialogou com o público, atendeu a pedidos e até falou do episódio ocorrido no dia 9, que o abalou psicologicamente e levou a cancelar um show que faria neste sábado na casa Opinião de Porto Alegre. Disse ainda que sua publicação no Facebook lhe valeu uma bronca da mulher, Edna, que ficou sem falar com ele: "Eu me arrependi de algumas coisas, mas de outras não".

Originalmente, "Manuel" estava programada para o meio do show. Como uma espécie de provocação, Motta passou-a para o início da apresentação. Outra surpresa, incluída no calor da hora, foi "Azul da Cor do Mar", de Tim Maia. Antes de tocá-la, ele disse que não costuma cantar músicas do tio em seus shows, mas que abriria uma exceção porque "hoje é dia de festa".

De Rita Lee,  que classificou como uma de suas melhores parceiras, o cantor e compositor levou duas músicas: Fora da Lei e Caso Sério. Do seu álbum "AOR", selecionou "Flores da Vida Real", "SOS Amor" e "Ondas Sonoras". Incluiu standards da música romântica, como "My Cherie Amour", de Stevie Wonder; "The Look of Love", de Diana Krall; "The Closer I Get to You", de Roberta Flack e Donny Hathaway; "Do it Again", de Steely Dan, e "Harvest For The World", dos Isley Brothers. Sem falar em alguns de seus sucessos mais populares, como "Vamos Dançar", "Compromisso" e "Colombina".

A assessoria do Terra da Garoa informou que o show de Ed Motta estava marcado há muito tempo e a venda de ingressos praticamente dobrou após a polêmica envolvendo o cantor. Com capacidade para 380 pessoas sentadas na configuração dessa apresentação, a casa não lotou e havia muitas mesas praticamente vazias tanto no mezzanino quanto na parte de baixo, próxima ao palco.

Os ingressos, que variavam de R$ 140 a R$ 270, davam direito a jantar, com um cardápio sugerido pelo artista em que figuravam um ceviche de entrada, mix de pato como prato principal e, para encerrar, sorvete de panetone gratinado.

CRONOLOGIA DO DESASTRE

No dia 9, Ed Motta publicou em sua página no Facebook um agradecimento e um aviso à comunidade brasileira na Europa que quer acompanhá-lo na turnê AOR, com início nesta quarta (24), na França, e termina em 18 de julho, na Finlândia. Depois de agradecer o prestígio, o cantor avisa que "não tem músicas em português no repertório, eu não falo em português no show". O tom sobe quando ele pede "pelo amor de Deus, não venha com um grupo de brasuca berrando 'Manuel' porque não tem, e muito menos gritar 'fala português Ed'".

Mais adiante, Motta diz que seu público brasileiro na Europa é "um pessoal mais culto, informado". O problema, continua ele, "é que vai uma turma mais simplória que nunca me acompanhou no Brasil, público de sertanejo, axé, pagode, que vem beber cerveja barata com camiseta apertada tipo jogador de futebol, com aquele relógio branco, e começa gritar nome de time".

A repercussão, imediata, resultou em centenas de comentários de seguidores, muitos dos quais o sobrinho de Tim Maia respondeu diretamente. Ele chamou um dos críticos de "moço caipira de cidade pequena", disse a outro que "vocês do nordeste estão loucos por atenção com esse coitadismo" e classificou o Brasil como "terra ignorante, intolerante e opinativa sem saber de nada".

No dia seguinte, Motta voltou a publicar no Facebook, desta vez se desculpando. "A forma que escrevi muitas coisas eu mesmo repudio, mas é fruto da minha cabeça lotada de revoltas, decepções na arte, paranoias, etc, que me fazem me entupir de um monte de remédios para ansiedade, depressão etc".

Na quarta-feira (15), a casa de shows Opinião, em Porto Alegre, divulgou um comunicado informando que o cantor e compositor cancelou o show que faria nesta sexta-feira (18) em razão de estar abalado psicologicamente com os acontecimentos. Mas manteve a apresentação de São Paulo.

Em novo comunicado, Ed Motta explicou as razões para cancelar o show de porto Alegre e manter o de São Paulo: "Realmente depois de todo o acontecido eu me encontro muito abalado e prefiro não me apresentar neste momento. Tivemos a compreensão e a parceria do Opinião, e por isso foi possível adiarmos a apresentação em Porto Alegre. Cumprirei um contrato onde não era possível o adiamento, e, por isso, estou fazendo esse show em São Paulo. Depois embarco para Europa. Na volta, se Deus quiser, me apresentarei em Porto Alegre. Mais uma vez mil desculpas por todo esse transtorno".