Rio

Funcionário de igreja retira adesivo que batizava com nome de ditador soviético a Rua Santa Luzia

Colagem feita por partidos comunistas e movimentos de esquerda deixou membros da igreja e historiadores revoltados
Funcionário da Igreja Santa Luzia remove adesivo que cobria a placa da rua com o nome Marechal Josef Stálin Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Funcionário da Igreja Santa Luzia remove adesivo que cobria a placa da rua com o nome Marechal Josef Stálin Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo

RIO — O adesivo colado na placa da Rua Santa Luzia, no Centro, que mudou o nome do logradouro para Avenida Marechal Josef Stálin , foi retirado na manhã desta sexta-feira por um funcionário da Igreja de Santa Luzia, que fica em frente ao poste. A colagem, feita por partidos comunistas e movimentos de esquerda na sexta-feira passada, para marcar os 70 anos do fim da Segunda Guerra, causou revolta entre membros da igreja, historiadores e pedestres.

Provedor da Irmandade Santa Luzia, o oftalmologista Antonio Marcos Maimone comemorou a retirada do adesivo e disse esperar que o ato não se repita.

— Se acontecer novamente, vamos acionar a prefeitura e o Ministério Público, porque a Igreja de Santa Luzia é tombada. A rua também é tradicionalíssima. O que é isso de esses malucos botarem o nome do Stálin lá? De jeito nenhum! Vamos tomar as medidas cabíveis. Lutaremos com todas as armas para manter o nome de Santa Luzia — afirmou Maimone.

A colagem do adesivo foi feita por integrantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR), do Partido Comunista Marxista Leninista (PCML) e das Brigadas Populares. Eles alegam que falta o nome de Stálin para completar os três principais vencedores da Segunda Guerra com logradouros na cidade. O presidente americano Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill já estão contemplados em placas de ruas no Centro.

Apesar de ter ajudado a derrotar o nazismo, Josef Stálin é lembrado por ter sido um ditador responsável pela morte de seis a vinte milhões de pessoas. A troca do nome da santa pelo do líder soviético também atraiu olhares curiosos e risadas de quem passava pelo local. Muitos, inclusive, paravam para fotografar a placa modificada.

Para o professor de História da UFRJ Francisco Carlos Teixeira, o nome russo mais correto para ser homenageado seria o do Marechal Georgi Zhukov, que comandou as tropas soviéticas nas principais batalhas durante a Segunda Guerra Mundial.

— A palavra final era de Stálin, mas ele já estava amedrontado e deixou o Marechal Zhukov tomar todas as decisões. Essa coisa de que Stálin era um grande general não é verdade. Enquanto Stálin estava à frente, foi um desastre. O grande estrategista da vitória foi o Marechal Zhukov — defende o professor, lembrando que até em Moscou e Berlim as avenidas em homenagem a Stálin tiveram seus nomes trocados.

Responsável por proteger as instalações da cidade, a Guarda Municipal informou que, caso os agentes flagrem esse tipo de ação (o adesivo na placa), o material será apreendido, e os autores conduzidos à delegacia.

Já a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, a quem cabe fiscalizar as placas com nomes de ruas fixadas nas esquinas da cidade, informou que vai enviar uma equipe ao local para inspecionar o equipamento. Caso fique comprovada a inutilização do material, será solicitado à Plamarc a confecção de uma nova estrutura. A empresa ganhou concessão para produzir e instalar as “placas-pirulito” nas ruas da cidade. A Secretaria ressaltou que “o dano ao patrimônio público é crime previsto no Código Penal”.

*Estagiário, sob a supervisão de Paulo Marquero