Edição do dia 09/10/2015

10/10/2015 00h41 - Atualizado em 10/10/2015 00h51

Documentos mostram o caminho do dinheiro atribuído a Cunha no exterior

Montante que seria de Eduardo Cunha era usado para pagar faturas de cartão de crédito e gastos da família do presidente da Câmara no exterior.

Giovana TelesBrasília, DF

Documentos enviados pela Suíça às autoridades brasileiras mostram detalhes das movimentações das contas naquele país atribuídas ao presidente da Câmara Eduardo Cunha. Parte do dinheiro que, de acordo com as investigações, vem de propinas foi usado para pagar faturas de cartão de crédito e gastos da família de Cunha no exterior.

Do fluxo de dinheiro nas contas de Cunha, na Suíça, os investigadores comprovaram a origem de uma fonte: o contrato de compra da Petrobras de uma área de petróleo em Benin, na África.

Segundo as investigações, o dono do campo de petróleo, Idalécio de Oliveira, recebeu US$ 34,5 milhões da Petrobras pelo negócio. Idalécio repassou US$ 10 milhões ao lobista do PMDB, João Augusto Henriques, que foi preso na Operação Lava Jato no mês passado.

João Henriques, então, distribuiu a propina. Os procuradores dizem que 1,3 milhão de francos suíços foram para uma das contas de Eduardo Cunha em cinco repasses em menos de um mês. Cunha, então, distribuiu o dinheiro entre as contas dele e da mulher, Cláudia Cordeiro Cruz, na Suíça. Quatro contas no total.

A conta, que foi abastecida com a propina da venda do campo de petróleo, recebeu mais US$ 1,4 milhão, mas a investigação ainda não chegou à origem do dinheiro. Outra conta recebeu ainda mais dinheiro, quase US$ 3,4 milhões. A origem também está sendo investigada.

Essas duas contas são as que foram encerradas depois que a Operação Lava Jato começou. As outras duas foram bloqueadas em abril pelas autoridades suíças. Uma delas tinha 2,3 milhões de francos suíços e a da mulher de Cunha tinha 146 mil francos suíços.

Dessa conta da mulher de Cunha é que saiu dinheiro para pagar despesas da família. Só de cartões de crédito foram mais de US$ 800 mil nos últimos sete anos. Teve também pagamento para um colégio na Inglaterra e quase US$ 60 mil para uma academia de tênis nos Estados Unidos.

A Procuradoria-Geral da República vai esperar a análise completa dos documentos mandados pela Suíça, que deve ficar pronta em 15 dias.

A Procuradoria pode avaliar que a investigação precisa ser aprofundada e abrir um novo inquérito ou denunciar o presdiente da Câmara ao Supremo Tribunal Federal.

Eduardo Cunha já foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro por suspeitas de desvio de dinheiro em um contrato de navios-sonda da Petrobras. O STF ainda tem que decidir se o deputado vai virar réu nesse primeiro caso.

O deputado Eduardo Cunha divulgou uma nota no site da Câmara dos Deputados, em que, mais uma vez, afirma que desconhece o teor dos fatos veiculados e que não fará comentários sem ter acesso ao conteúdo real do que vem sendo divulgado.

Cunha afirmou ainda que assim que tiver conhecimento vai se manifestar através dos advogados e reiterou o teor do depoimento dado à CPI da Petrobras, quando negou ter contas na Suíça.

O advogado de Cunha e da mulher dele dizem que o deputado não foi notificado nem teve acesso a qualquer procedimento investigativo sobre atos de sua responsabilidade. A nota também afirma que é estranho que informações protegidas por sigilo estejam sendo divulgadas pela imprensa.

O advogado de João Augusto Henriques disse que o cliente já declarou não conhecer Eduardo Cunha e que só soube depois que a conta na Suíça era do deputado.

Idalécio de Oliveira não foi localizado.

 

 

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