Economia Negócios

SAB Miller aceita oferta de US$ 106 bi da AB InBev

Acordo cria empresa que fabricaria cerca de um terço da cerveja mundial

Garrafas de cerveja com as marcas da AB Inbev (Budweiser, Corona, StellaArtois Beck’s) and SABMiller (Bulmers e Peroni)
Foto: Justin Tallis/AFP
Garrafas de cerveja com as marcas da AB Inbev (Budweiser, Corona, StellaArtois Beck’s) and SABMiller (Bulmers e Peroni) Foto: Justin Tallis/AFP

LONDRES - Após semanas de negociação, a cervejaria belga-brasileira Anheuser-Busch InBev e a anglo-sul-africana SABMiller informaram nesta terça-feira que fecharam termos para uma aquisição, que preveem que a maior cervejaria do mundo pague £ 44 (US$ 68) por ação da sua rival, a segunda no ranking mundial. Com isso, o total pago pela empresa chegará a £ 69 bilhões (US$ 106 bilhões), 14% acima da primeira oferta de £ 38.

O acordo para criar uma empresa que fabricaria cerca de um terço da cerveja mundial seria a quarta maior fusão na história corporativa, além de ser a maior aquisição de uma companhia britânica. Dados da consultoria Euromonitor citados pela agência Bloomberg News mostram que Anheuser-Busch InBev e SABMiller produzem, juntas, 60 bilhões de litros de cerveja por ano, o que corresponde a um terço do volume mundial.

O preço representa um prêmio de cerca de 50% sobre o preço de fechamento dos papéis da SABMiller em 14 de setembro, quando começaram as especulações de que as duas empresas estariam negociando a compra.

Na segunda-feira, a AB InBev fez ainda uma quarta oferta, de £ 43,50 em dinheiro, também não aceita. As três ofertas anteriores foram £ 42,15, £ 40 e £ 38 por ação.

A cervejaria belga produz a Budweiser e a Stella Artois. Já a SABMiller possui marcas como Peroni, Grolsh e Pilsner Urquell. Ao todo, são quase 400 marcas de cerveja em todo o mundo. A AB InBev adicionaria algumas cervejas na América Latina e Ásia à sua presença mundial, que já é grande e, além disso, entraria na África pela primeira vez.

O crescimento da AB InBev tem sido baseado em aquisições desde que foi formada por meio de uma série de compras lideradas pela 3G, que pertence ao homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. A 3G controla indiretamente a brasileira Ambev.

O Altria Group é o maior acionista da SABMiller, com uma fatia de 27%. A família de Alejandro Santo Domingo, um dos clãs mais ricos da Colômbia, detém 14% da SABMiller. Em comunicado nesta terça-feira, o grupo Altria — fabricante do cigarro Malboro — afirmou estar satisfeito com a notícia de que a cervejaria está inclinada a aceitar a nova oferta da Anheuser-Busch InBev.

A SABMiller disse que indicou à AB InBev que seu Conselho estaria preparado para aceitar a oferta e que pediu uma extensão de duas semanas do prazo estabelecido para que sua rival anuncie uma intenção firme de fazer a oferta. O prazo era 14 de outubro e agora será 28 de outubro.

As partes concordaram que a AB InBev pagará uma taxa de rompimento de US$ 3 bilhões à SABMiller caso a transação fracasse devido a significativas questões regulatórias ou por falta de apoio dos acionistas da AB InBev.

AQUISIÇÕES NOS ÚLTIMOS ANOS


Stella Artois, da Anheuser-Busch InBev, é servida
Foto: YVES HERMAN / REUTERS
Stella Artois, da Anheuser-Busch InBev, é servida Foto: YVES HERMAN / REUTERS

O negócio da SABMiller coroa uma política de aquisições da AB InBev nos últimos anos. Dados da Bloomberg mostram que, nos últimos dez anos, a cervejaria belga-brasileira gastou cerca de US$ 90 bilhões.

De acordo com analistas da Exane BNP Paribas estimam que a nova gigante ocupará a primeira ou segunda posição no ranking de 24 dos 30 maiores mercados de cerveja do mundo. Há alguns anos, a união entre as duas empresas vinha sendo considerada como uma probabilidade por analistas. Um dos interesses da AB InBev na SABMiller é sua participação em mercados emergentes na América Latina e na África.

O movimento é importante numa época de desaceleração do consumo de cerveja em mercados desenvolvimentos. Dados da consultoria especializada em cerveja Plato Logic, citados pelo “Wall Street Journal”, apontam que o mercado global de cerveja deve ter este ano o primeiro declínio depois de 30 anos, com recuo de 0,1%. O mercado africano será uma grande força: as vendas na África devem crescer 2,6%.

— SABMiller fez um bom trabalho como se estivesse em um jogo de pôquer e elevar o preço. AB InBev fará tudo o que está em seu alcance para tornar este negócio é um sucesso — afirmou Peter Braendle, que administra ações no banco Zuercher Kantonalbank, na Suíça.

DESAFIOS PARA APROVAÇÃO

O meganegócio ainda precisa ser aprovado pelos órgãos de regulação no Reino Unido e também enfrentar desafios em outros mercados. Segundo o “Wall Street Journal”, os Estados Unidos devem ser o principal entrave para o sinal verde ao negócio. A AB Inbev tem cerca de 45% do mercado americano, enquanto a SABMiller tem outros 25%. Isso significa uma participação conjunta de 70%. A China também pode impor dificuldades. No país asiático, a AB Inbev tem 14% de participação, enquanto uma joint-venture entre a SABMiller e a China Resources Enterprise controla 23% do mercado.

Isso significa que, como exigência para a aprovação de órgãos reguladores, algumas operações das duas empresas tenham que ser vendidas para evitar concentração no setor de cervejas.

A megafusão também pode trazer mudanças na indústria de bebidas não-alcóolicas. A SABMiller é distribuidora da Coca-Cola enquanto a AB InBev tem ligações com a rival PepsiCo.